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A assistência à Santa Missa dominical

Mons. Tihamer Tóth

  

Cân. 898 — Os fiéis tenham em suma honra a santíssima Eucaristia, participando activamente na celebração do augustíssimo Sacrifício, recebendo com grande devoção e com frequência este sacramento, e prestando-lhe a máxima adoração; os pastores de almas, ao explanarem a doutrina sobre este sacramento, instruam diligentemente os fiéis acerca desta obrigação.

 

O domingo é dia de descanso e não devemos fazer trabalhos servis. O descanso é, contudo, só uma parte do terceiro Mandamento, a parte negativa; apresenta o que não nos é lícito fazer. Mas a santificação do domingo tem também uma parte positiva: diz-nos o que devemos fazer ao domingo. A luz do verdadeiro gozo dominical e o seu calor vivificante só podem manter-se no coração daquele que observa igualmente a parte negativa e a parte positiva do Mandamento; assim como na pilha elétrica só se acende a luz quando o fio toca ao mesmo tempo nos dois pólos: o positivo e o negativo.

 

A santificação completa do domingo exige, além do descanso, a assistência devota à Missa dominical.

 

Durante séculos quando ressoavam os sinos da igreja anunciando a Missa dominical, os homens prestavam ouvido atento ao convite. Infelizmente uma parte da moderna humanidade já não o quer ouvir. As sereias das fábricas, o ruído das ruas, o ondular encapelado da luta pela vida, os reclamos estrepitosos dos locais de diversão abafam a voz suave dos sinos.

 

E assim veio a formar-se entre os homens modernos um tipo especial: o daqueles que celebram o domingo a meias. Observam o descanso dominical; exigem-no até; mas de todo esse dia de folga não consagram a Deus nem a Missa de preceito, uma hora ao menos.

 

Desejo ponderar, agora, esta importante questão da Missa ao domingo.

 

I - Por que somos obrigados a ouvir Missa aos domingos

 

A nossa religião sacrossanta impõe-nos, sob pena de pecado grave, a obrigação de ouvir Missa inteira aos domingos e festas de guarda.

 

É a lei.

 

Mas ser-nos-á mais fácil o seu cumprimento exato se, em vez de conhecermos apenas a determinação, virmos com toda a clareza as vantagens incalculáveis que oferece para a alma.

 

Consideramos detidamente o que significa para nós a santificação do domingo. Além de significar que temos de alcançar alegria e forças para as lutas que nos esperam pela semana adiante, indica-nos que devemos renovar profundamente, radicalmente, toda a nossa vida religiosa.

 

Qual deveria ser, segundo o desejo da Santa Madre Igreja, o resultado prático da assistência à Missa dominical? Renovar de modo radical a circulação do sangue na nossa vida espiritual, tão anêmica, por mal dos nossos pecados!

 

Que terrível epidemia se vai propagando à humanidade moderna!

 

Que epidemia? De cólera? De peste? Não. Uma epidemia pior: a anemia espiritual, o raquitismo da alma. O mundo é assolado pelo delírio impetuoso do embrutecimento da vida, da perda do senso moral, da fraude, do roubo, da impudicícia. Todos lamentam que tenhamos chegado a tal extremo: organizam-se em reuniões, conferências e planos... mas são tão poucos os que sabem o motivo por que chegamos a estes pontos!

 

Diz-nos o profeta Oséias: “Não há conhecimento de Deus na nossa terra”. Por isso “a maldição e a mentira, o homicídio, o roubo e o adultério assaltaram tudo” (Oséias IV, 1-2).

 

Debilitou-se o sentido religioso da nossa vida; no conceito dos homens, depreciou-se o valor da religião; tornamo-nos anêmicos e cada chaga espiritual que se abre, cada ato que brada ao Céu, cada rebeldia e revolta é manifestação evidente desta anemia latente do organismo da sociedade.

 

– Mas com que direito se queixa o senhor da insuficiente religiosidade do homem atual? Todo o país é cristão. E na maioria os homens afirmam que são crentes. Não será bastante?

 

Não, não basta. Nem por isso deixa de ser anêmica a alma do homem moderno.

 

Que é a anemia do corpo? Escassez de sangue? Não. O enfermo tem o suficiente, mas o que não contém é a necessária quantidade de glóbulos vermelhos, quer dizer, falta-lhe o impulso vivificador que anime todas as ações da sua vida quotidiana e lhe comunique a cor viva da saúde.

 

Temos de introduzir sangue, força viva da religiosidade, nesta sociedade moderna que se agita, febril. A Missa dominical está indicada para produzir tão salutares resultados.

 

Vamos um pouco mais longe. Todos os homens necessitam da influência vital da Missa do domingo; ninguém precisa tanto como o que vive numa grande cidade, porque a vida num grande meio citadino cerca-nos por todos os lados, para nos desviar da nossa vida natural humana, e a Missa do domingo é capaz de nos sustentar mais um dia em consonância com a dignidade de homens.

 

Que faz de nós a grande cidade?

 

Em primeiro lugar, espectadores de cinema. A vida corre sem freio diante de nós, exatamente como a fita na cena. Novas impressões a cada momento; uma faz desvanecer a outra: agora choramos, logo rimos. Reserva-nos, cada dia, mil surpresas de que nada resta. Assim se move, numa agitação, o homem da grande cidade.

 

Em segundo lugar, a vida da grande cidade faz de nós leitores superficiais de jornal, pessoas que vão atrás das “sensações” exteriores. Chegam os jornais de manhã cedo... folheamo-los. Às dez chega outro, vários outros à tarde, mais à noite... e todas as notícias nos fazem vibrar os nervos. Quantas coisas têm de passar através do meu pobre cérebro! Que tal ou tal “estrela” de cinema se apresentou perante o oficial do registro para se casar pela terceira vez; que determinado “ás” do desporto começa a treinar-se às tantas da manhã e como fica bem de pijama, que come, onde e como, fulano, o famoso centro de futebol... Queiras ou não, tens de ler tudo. E não te fica tempo livre para outra coisa, para os assuntos sérios, para a ciência, para a leitura de livros religiosos. E é assim que o homem das grandes cidades se torna superficial.

 

Em terceiro lugar, a vida das grandes cidades faz de nós homens-máquinas, homens sem alma. Subir para o elétrico todas as manhãs, na mesma paragem; esperar sempre pelo ônibus número tantos; passar sempre em frente das mesmas casas; viajar sempre com as mesmas pessoas; descer sempre no mesmo ponto; trabalhar sempre no mesmo escritório; estar 8 horas de pé ou sentado junto da mesma máquina... Não é raro que o homem se automatize e ignore ou desconheça tudo quanto não seja a sua maquininha, os seus próprios alambiques, a sua cátedra ou negócio pessoal... Assim se transforma o homem das grandes cidades em autômato que nada sabe das lides espirituais.

 

Que faz de nós a grande cidade? Freqüentadores de café. Pobre homem trabalhador, bem mereces descanso e alegria. Mas não é aí, onde os procuras, que os podes encontrar. Pelo menos encontras aquele refrigério, aquele bem-estar e paz de que precisarias? Toda a família entra no café. Tu, ainda assim, passas o tempo a fumar ao mesmo tempo em que lês os jornais diários; a tua esposa, porém, faz flirt enquanto vai saboreando o café. Repara agora no que fazem os teus filhos de seis e oito anos que trouxeste para uma sala cheia de fumo. Olha como as crianças vão formando a alma com aquela revista ilustrada cheia de cabaret; de madrugada para a cama e assim acaba o domingo: sem um único sentimento, sem um pensamento vivificante!

 

Exagero ao descrever assim a vida da grande cidade?

 

O domingo! Mas o domingo tal como o concebe e ordena a nossa Madre Igreja: o domingo com a Missa!

 

O Filho de Deus, que morreu para nos salvar, encontra-se ali presente entre nós e o Seu Sangue preciosíssimo restitui cores de vida à nossa alma definhada, pálida e amarfanhada devido às lutas de toda a semana. É esta a bendita graça da Missa dominical. E o que assistiu a ela com o espírito incendiado em amor de Deus experimentará, durante a semana inteira, a sua influência benéfica. É possível que sinta, como até aí, o peso da vida, mas a luta não redundará em desespero; é possível que sofra as mesmas tentações, mas a tentação não o fará cair em pecado.

 

E é esse, justamente, o pensamento fundamental da nossa santa religião: fazer combinar a Missa do domingo com o trabalho de toda a semana. O ideal da Igreja não consiste em vestirem os fiéis uma roupa melhor ao domingo, pegarem no missal para ir à Missa, fazerem durante uma hora vários exercícios piedosos, e depois regressarem à casa, pousarem o missal, despirem a roupa e arrumarem a devoção e o cristianismo. Oh! Não! O que Ela quer é que a assistência à Missa dominical seja fonte de forças vigorosas para o trabalho de todos os dias; que o domingo se prolongue através dos dias de semana, a nossa oração através do nosso trabalho, a nossa conversa com Deus através do nosso comportamento com os homens; quer dizer: que a nossa religiosidade impregne a nossa vida. Deste modo, todos os nossos trabalhos se virão a converter em oração, cada lar num templo, cada vida humana em sacrifício aceite por Deus.

 

É por isto que somos obrigados a ouvir Missa ao domingo.

 

II - A que nos obriga o preceito de ouvir Missa ao domingo

 

Se considerarmos que a Santa Missa é a renovação incruenta do sacrifício da Cruz, compreenderemos sem esforço o motivo por que a Igreja obriga os seus fiéis a ouvir Missa inteira aos domingos e dias de festa. Não é possível celebrar mais condignamente o dia do Senhor do que assistindo à Santa Missa.

 

A formosa árvore da vida religiosa desabrochou durante dois mil anos em esplêndida ramagem, e dela brotaram exercícios piedosos: o santo Rosário, as Ladainhas, a Via-sacra, associações piedosas, romarias... e, contudo, a Igreja a nenhum deles considerou obrigatório: cada fiel pode escolher livremente o exercício que mais lhe quadre. Só fez exceção para a Santa Missa. Todo o católico que haja completado os sete anos de idade – a não ser em caso de doença, de falta de igreja ou de outro impedimento insuperável – está obrigado a ouvir Missa todos os domingos e dias de festa, sob pena de pecado grave. E não basta ouvir Missa pela rádio; tem de ir pessoalmente à igreja. É lícito ouvir o sermão pela rádio; mas não podemos cumprir, por esse meio, a nossa obrigação de assistir à Santa Missa.

 

Evidentemente que a Igreja é compreensiva, e Deus – se me é permitido exprimir deste modo – atende à nossa verdadeira situação. Há obstáculos que dispensam de assistir à Santa Missa. Estás doente e não podes sair de casa, não estás obrigado a assistir à Missa; tens crianças em casa e não sabes a quem as há de entregar; a igreja mais próxima fica na aldeia vizinha e o caminho está cheio de lama que chega aos joelhos – estás dispensado. Sim. Deus dispensa-nos facilmente, mas nós é que não devemos dispensar-nos com facilidade.

 

Nestes casos, quando é impossível ir à missa, dediquemos, em casa, à fervorosa adoração de Deus, a meia hora da missa. Aos olhos do Senhor que lê nos corações, um domingo celebrado com este espírito será talvez mais santo que o daqueles que assistem à Missa brincando com o chapéu ou reparando em quem entra e quem sai.

 

A Igreja aceita um motivo sério, mas não as falsas desculpas. Neste ponto não seria descabido exigir de nós mesmos numa medida mais rigorosa. Porque, se a doença me dispensa de ir à igreja, não me dispensa numa pequena indisposição. “Senti-me mal; não fui à Missa” – dizem com a maior naturalidade alguns que na tarde desse mesmo dia estão sentados numa sala de concertos. “No verão o ar da igreja está tão pesado; é capaz de produzir uma indisposição. E no inverno está tanto frio que há perigo de apanhar um resfriamento”. “A Missa é cedo demais; não posso levantar-me às oito da manhã” – diz outro que, não obstante, costuma levantar-se às seis para uma excursão, e já uma vez se levantou às quatro para admirar o nascer do Sol... Mas não pode levantar-se às oito para ver como se ergue e aparece o Sol da humanidade, Nosso Senhor Jesus Cristo... isso, e nada mais, é a Santa Missa.

 

Não posso deixar de consignar o que ouvi do antigo e célebre ginecologista da nossa Universidade, o professor João Barsony, poucos meses antes da sua morte: “Andei por toda a Europa, estive na Ásia e na África; mas, se bem me lembro, nem um único domingo deixei de ouvir Missa”. Isto é que é espírito católico!

 

Sejamos generosos com Deus e o proveito será nosso.

 

Não nos dispensa de ouvir missa o “estive num sarau no sábado à noite e agora sinto-me cansado”; nem o fato de que “é este o meu único dia livre e vou numa excursão”; nem nos dispensa o mercado, nem o campeonato de um desporto, nem festejo algum seja de que natureza for. Pelo contrário: é nessa ocasião, justamente, que havemos de mostrar quão séria é a nossa religiosidade, observando a lei, mesmo quando exige sacrifícios. E com um pouco de sacrifício, é possível cumpri-lo quase sempre. Certo cavalheiro volta para casa depois de um evento qualquer, pelas seis da madrugada. Se se deita a essas horas já não acordará nem sequer para comer.

 

Que deve fazer, nesse caso? Vá imediatamente à Missa das seis e deite-se depois. Replicam-se: “Esta Missa não lhe há de servir de muito”. Concordo que não é o ideal. Mas em todo o caso, sempre é melhor do que ficar sem Missa.

 

Num domingo de manhã, com tempo esplêndido, toda a família se prepara para uma excursão. Depois do trabalho extenuante de toda a semana, bem necessita o homem moderno e bem mereceu o descanso, o refrigério, a excursão – mas não o faças pondo de parte a Missa. Levanta-te meia hora mais cedo e assiste à Missa. A Igreja é tão solícita e atenta neste ponto!

 

Nas grandes cidades celebram-se Missas a horas e em lugares diversos, para que ninguém possa dizer que não teve meio de cumprir o preceito. Em Nova Iorque celebravam-se Missas às duas da madrugada para os tipógrafos e moços de restaurantes que voltavam a casa depois de terminado o trabalho. Em Munique, na estação principal do caminho de ferro, durante a temporada de turismo, celebravam-se Missas, numa sala de espera, às três, às quatro, cinco e seis da manhã, para os que partiam de excursão. No ano de 1926 houve 172 Missas na sala de espera da estação de Munique, a que assistiram certa de trinta mil pessoas e comungaram umas duas mil. Em Buda, na igreja dos franciscanos, todos os domingos celebrava-se uma Missa às cinco da manhã para os que partiam de excursão. Com um pouco de boa vontade é possível dar solução a tudo.

 

A pontualidade

 

Há pessoas que calculam e procuram, com esforço digno de melhor causa, as partes da Santa Missa que podem deixar sem pecado propriamente dito e as que podem deixar sem cometer pecado grave; qual é o derradeiro momento a que podem chegar e o primeiro a que podem sair. Pois bem: esse espírito de escravo – permita-se-me a expressão – não é compatível com a liberdade cristã. Não se poderá aprovar a conduta daquele estudante a quem o professor de Religião pediu contas de não ter ido à Missa: “Eu fui, senhor professor, o que é, cheguei tarde”. “Chegaste tarde? Quando? Em que altura da Missa estavam?”. “Ainda estava uma vela acesa”. Quer dizer que quando chegou, já estavam a apagar as velas, depois da Missa!

 

Não quero exagerar; não quero exigir mais do que pede a nossa santa religião. Portanto, repito o que a Igreja ensina: quem assiste à parte principal da Missa, isto é, desde o ofertório, desde que se descobre o cálice, cumpre o preceito de ouvir Missa; não é obrigatório, sob pena de pecado grave, assistir às partes anteriores.

 

Porém, o que mede com esse espírito avaro até que ponto pode tardar sem culpa, até onde pode assistir, não tem idéia do valor maravilhoso da Santa Missa. Se por qualquer motivo chegaste atrasado e não assististe ao princípio da Missa, nem sequer a toda a primeira parte, se chegaste no momento da Elevação, a Igreja não te obriga, repito, a ouvir outra Missa inteira; só te pede que a ouças até ao ponto em que começaste a ouvir a Missa precedente... É deste modo suave a Santa Madre Igreja. Tu é que deves ser generoso assistindo pontualmente; deves preferir esperar alguns minutos a chegar tarde. Afinal, a senhora da casa para onde foste convidado pode levar a mal que entres quando já se está a servir a sopa, pois é delicado chegar alguns minutos mais cedo. A Igreja também tem as suas regras de urbanidade e entre elas figura esta: os devotos não devem ser incomodados a cada passo pelos retardatários.

 

Quanto haveria a dizer a respeito do incomodar! Por quantas maneiras se pode incomodar quem assiste à Missa? Não é sem razão que, ao entrar na igreja, nos benzemos com água benta. Que significa esse gesto simbólico? Indica a intenção de querer deixar fora, à porta, os nossos pensamentos de todos os dias, os nossos desejos e preocupações terrenas. Lá para dentro, para junto do altar do Senhor, só devemos levar a nossa alma em prece.

 

O que vai com outro espírito não tirará da Santa Missa forças para si mesmo, e por outro lado, perturbará a devoção dos outros.

 

São, pois, dignos de censura aqueles que não consideram a Missa como um ato augusto de santidade, nem o templo como um lugar sagrado em que se ergue a alma a Deus. Eles sentem-se, dentro daquele santo recinto, como se estivessem no passeio da moda ou no teatro onde se pode olhar com óculo, com binóculo e com impertinência, o traje, o rosto e a atitude dos presentes. Tal “assistência à Missa” é apenas uma burla ao terceiro Mandamento.

 

Por outro modo pode perturbar-se o ambiente de devoção: provocando a distração e até dando escândalo aos outros com o comportamento ou a maneira de vestir.

 

Em nossos dias fala-se muito, na igreja e fora dela, em tom de repreensão, de provocante nudez da moderna moda feminina. Não é aqui o lugar apropriado para tratar desse tema. Apenas uma breve observação: a moral católica condena os modernos trajes femininos, tão incrivelmente curtos e decotados, até nos salões de baile. Mas, finalmente, quem assiste a um baile já sabe o que ali o espera. Que dizer, porém, quando um homem temente a Deus vai à igreja para chorar a sua alma e aí, nesse lugar sagrado, a seu lado e à sua frente, há senhoras que com os trajes decotados, com as meias de seda cor de carne, o obrigam a abater o voo do espírito em oração e a baixar ao nível dos salões de baile? Podem considerar-se rigorosos aqueles bispos estrangeiros que fazem afixar nas portas das igrejas avisos prevenindo as senhoras vestidas desse modo que não lhes é permitido confessar-se e comungar?

 

Eis uma breve observação.

 

Vou terminar este artigo. No princípio afirmei que é anêmica a religiosidade de muitas pessoas. O anêmico tem a necessidade de expor o corpo aos raios de sol. Que deverá fazer o anêmico de espírito? Expor a sua alma, cansada e sem forças, à luz das velas do altar.

 

Oh! A luz das velas do altar da Missa dominical! Sabeis que espécie de luz é essa? Luz firme de estrelas que nos guia até Nosso Senhor, a nós, os longínquos descendentes dos Reis do Oriente que foram em peregrinação ao Menino de Belém.

 

Ah! Essa luz bendita, cintilante!

 

O homem moderno, escravo da embaraçada vida social, nunca tem tempo de erguer o espírito até as estrelas; e se procura a luz e fita uma que o guie, muitas vezes escolhe alguma estrela falsa e segue luz falaz. Há pessoas – está o mundo cheio delas – de boa disposição e de boa vontade; mas o mecanismo da vida em marcha contínua não lhes concede um momento para o recolhimento, para a contemplação. Há outros que correm atrás da luz; mas o que supõem ser uma estrela que conduz à felicidade é enganador fogo-fátuo que leva aos pântanos, é a luz cintilante dos cabarets noturnos, é a miragem de ouro, o fogo devorador dos amores sem Deus. E como os homens correm após tais fogos-fátuos! Com um fogo que arde em chamas sinistras; e que fim é o seu!

 

Qual é o fim?

 

Quando, no outono, as aves migratórias partem em grandes bandos, o guarda do farol encontra, pela manhã, os pobres animais caídos aos montes junto da torre. Que lhes aconteceu? Passavam, de noite, e brilhou-lhes na frente o foco luminoso. Ah! A luz! A luz! É a vida! Para a luz! E a luz iludiu-as. A lâmpada está guardada por um vidro forte e as pobres aves esmagaram-se contra ele. Pobres animais! E tu, pobre homem! Pobre homem moderno! Assim corres também atrás da ilusão da luz e despedaças-te e matas-te!

 

Irmãos! Irmãos anêmicos, de alma cansada! Irmãos que procurais a luz! Reparai: no altar da Santa Missa brilha uma luz verdadeira.

 

Luz que aquece. Luz que alumia. Luz que purifica. Luz que nos ilumina Cristo. Luz que nos guia através da pátria terrena e nos conduz à pátria eterna.

 

Fonte: christifidei