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O SACRAMENTO DA CONFISSÃO.

CONFESSAI-VOS BEM !!!

 

Parte XIX.

Confissão geral.

 

D. — Padre, uma última pergunta. O quê é a Confissão geral?

M. — Chama-se confissão geral a revisão de todas as culpas cometidas durante a vida, ou em grande parte dela.

 

D. — E a confissão geral é necessária?

M. — Para muitos pode ser necessária; para outros é somente útil, enquanto que para alguns é nociva.

 

D. — Em que caso é necessária?

M. — É necessária quando as confissões precedentes foram sacrílegas ou então nulas.

 

D. — E quando é que as confissões são sacrílegas? e quando são nulas?

M. — As confissões são sacrílegas quando se calaram propositadamente culpas graves, sabendo que tinha obrigação de confessá-las; ou então quando não sentimos a dor necessária ou não fizemos o propósito de evitar o pecado no futuro. São nulas, quando o penitente ignorava essa falta de dor e de propósito.

 

D. — Então, quais são os que têm necessidade de uma confissão geral?

M. — Tem necessidade absoluta de fazer uma confissão geral, quem, seja por malícia, seja por vergonha, calou ou negou nas confissões precedentes algum pecado mortal ou então alguma circunstância que muda a espécie do pecado; ou não indicou com precisão o número dos pecados mortais que conhecia bem; ou exprimiu suas culpas ao confessor de tal modo que ele não as compreendeu; ou então o enganou com mentiras graves quando respondeu às suas perguntas.

 

D. — Tenha a bondade de me explicar tudo com exemplos.

M. — Suponhamos que um coitado tenha escondido, desde as primeiras vezes que se confessou certos pecados por vergonha de os expor. Mesmo que, em seguida, tenha manifestado sempre todas as outras culpas, todavia, por não ter corrigido as primeiras confissões más, nenhuma das seguintes é considerada bem feita. Essa pessoa tem portanto absoluta necessidade de repará-las todas com uma confissão geral, na qual deve acusar também todos os sacrilégios cometidos.

 

Suponhamos que uma outra pessoa tenha cometido certos pecados de más obras, e que, ao acusá-los tenha somente dito que teve maus pensamentos. Essa também se confessou mal e precisa de uma confissão geral.

 

Suponhamos ainda que outro indivíduo tenha tido não só a infelicidade de pecar sozinho, mas com outra pessoa. Se ele, ao confessar-se, calou propositalmente essa circunstância e não indicou as condições particulares de tal pessoa, fez também uma má confissão e o seu dever é fazer uma confissão geral.

 

Suponhamos finalmente que alguém tenha o hábito de cometer quatro ou cinco pecados graves por semana ou por mês, e, em lugar de quatro ou cinco diga só dois ou três, ou três ou quatro, sabendo perfeitamente que está mentindo. Ter-se-á sempre confessado mal e nesse caso, deve fazer uma confissão geral.

 

D. — Misericórdia!

M. — Em segundo lugar, a confissão geral é de estrita necessidade para quem se confessou sem pesar e sem propósito, como ficou dito acima, ou para quem não cumpriu as obrigações impostas pelo confessor ou seja: não evitou a ocasião próxima e voluntária do pecado, ou não deixou certa amizade perniciosa ou não queimou, não se desfez dos maus livros, não cortou certa relação; em suma todos os que se acham em condições análogas. Todos esses, tendo faltado, quem mais, quem menos, às qualidades substanciais da confissão, devem por a consciência em ordem e tranqüilizá-la com uma boa confissão.

 

D. — Padre, o número desses indivíduos é diminuto ou elevado?

M. — Antes fossem poucos os que pertencem a essas diversas classes! Mas, infelizmente, a experiência quotidiana demonstra que o número deles é muito maior do que parece, mesmo entre pessoas aparentemente boas.

 

Na biografia de S. Inês da Montepulciano lê-se que uns senhor muito rico, tido como bom cristão, sendo muito devoto da santa e do seu convento, a socorria com freqüentes e generosas esmolas. A santa rezava muito pelo seu benfeitor em troca do seu auxílio. Um dia, estando ela rezando, perdeu os sentidos e, no êxtase, viu no meio do inferno um palácio de fogo e ouviu uma voz que dizia: Inês, Inês, este é o palácio do teu benfeitor e ele virá habitá­lo quanto antes.

 

Voltando a si, Inês apreensiva mandou logo pedir ao senhor que fosse ter com ela e lhe contou a visão espantosa que tivera.

 

O homem empalideceu, e, quase desmaiando, declarou sinceramente que havia trinta anos que não se confessava bem, estando sempre na ocasião próxima de pecado.

 

A santa aromou-o então a fazer logo uma boa confissão geral.

 

Ele obedeceu e Inês teve outra visão: viu o mesmo palácio, agora no Paraíso, e a mesma voz declarou-lhe que o seu benfeitor subiria logo para habitá-lo. Pois bem, quem tiver medo de ter o seu palácio ou a sua casa no inferno por causa de confissões mal feitas, já sabe o que fazer para se livrar.

 

D. — Padre, se alguém tiver deixado de contar alguns pecados nas confissões passadas, ou por ignorância, ou por esquecimento, e vier a conhecê-los ou a se lembrar deles mais tarde, é obrigado a referir todas as confissões passadas numa confissão geral?

M. — Não; quando deixamos de contar os pecados por ignorância ou esquecimento, só temos obrigação de reparar essas omissões parciais. Para sermos obrigados a uma confissão geral é preciso que se trate de sacramentos mal recebidos, de sacrilégios cometidos consciente e propositadamente.

 

D. — E quando duvidamos se somos ou não obrigados a uma confissão geral, como devemos proceder?

M. — Nos casos de dúvida devemos expor as nossas dificuldades ao confessor e nos conformar ao seu parecer.

 

D. — Obrigado, Padre; e agora, diga-me: quanto é que a confissão geral é útil?

M. — É útil:

 

1) Para quem duvida das confissões passadas e tem necessidade de se por em paz.

2) É útil para todos os que nunca a fizeram, porque ela faz brotar em nossos corações maior contrição dos pecados e consolida o propósito firme e eficaz de não mais os cometer.

3) É também bastante útil para os que, chegados a um ponto decisivo de suas vidas, devem escolher ou abraçar um estado do qual depende o seu futuro. Poderão receber do Confessor, que faz às vezes de Deus, melhores esclarecimentos e conselhos, para fazerem sua escolha com mais segurança.

 

D. — Por exemplo: os noivos nas proximidades do casamento?

M. — Justamente! A confissão geral é também bastante útil para eles, seja para os dispor melhor a bem receber o sacramento que os deve ligar para toda a vida, seja para lhes proporcionar a ocasião de receber os esclarecimentos e os conselhos indispensáveis para bem se governarem em tal estado. O matrimônio é grande Sacramento: ai de quem o receber indignamente! Deus nunca abençoará um matrimônio em que houver pecado.

 

D. — Quando é Padre, que no matrimônio pode haver pecado?

M. — 1) Quando prolongam demais o tempo do noivado.

2) Quando permitem certas liberdades nas conversas, e no trato.

3) Quando, estando em pecado, deixam de freqüentar a confissão ou se confessam mal.

 

D. — É então necessário, nessa confissão geral, dizer que estamos para nos casar e pedir conselhos sobre isso?

M. — Sem dúvida. Se não o manifestarem, como pode o Confessor esclarecê-los?

 

D. — Padre, qual é a época mais propícia para uma confissão geral?

M. — Tratando-se somente de utilidade ou devoção, a época mais propícia é a dos Exercícios Espirituais, e justamente lá pelo fim dos mesmos. Mas, sendo ela necessária para recuperarmos a graça, façamo-la o mais breve possível; não deixes para amanhã o que hoje podes fazer, diz o provérbio.

 

D. — É bom escrever os pecados para se lembrar deles melhor?

M. — Geralmente, não. Se alguém precisar mesmo recorrer a esse método, que o faça com muita cautela e destrua logo o escrito depois da confissão, de modo que ninguém o possa ler, nem o próprio penitente.

 

Entre os muitos episódios da vida de S. João Basco destaca-se este:

Um bom rapaz, desejando fazer uma confissão geral com a maior precisão possível, tinha enchido uma caderneta com seus pecados, mas, ninguém sabe como, perdeu o pequeno volume onde anotara os seus pouco gloriosos feitos. Virou e revirou os bolsos, procurou por todos os cantos, mas nada de encontrar o manuscrito. Á vista disso, o pobre rapaz ficou desgostoso e desatou em copioso pranto.

 

Por sorte, o caderninho tinha ido parar ás mãos de D. Bosco. Este, quando o viu chegar todo choroso conduzido pelos companheiros, recusando-se contar a razão de tanta tristeza, começou a interrogá-lo.

 

— O que tens meu caro Tiago? Sentes alguma dor? Desgostos? Alguém te bateu? O bom rapaz enxugando as lágrimas, e tomando um pouco de coragem, respondeu:

 

— Eu perdi os pecados!

 

A essas palavras os amigos caíram na gargalhada e D. Bosco, que tinha logo compreendido, ajuntou brejeiramente:

 

— És bem feliz se perdeste os pecados e felicíssimo por não os achares mais, porque, sem pecados, irás certamente para o céu. Mas Tiago, pensando que não tinha sido compreendido, acrescentou:

 

— Eu perdi o caderno onde os tinha escrito!

 

Bosco então tirou do bolso os grandes segredos e disse:

 

— Sossega, meu caro, que os teus pecados caíram em boas mãos: ei-los aqui!

— Vendo isso, o rosto do coitado tornou-se sereno e foi com um sorriso que ele concluiu:

— Se eu soubesse que o senhor os tinha achado, teria rido em lugar de chorar; e hoje, ao chegar para a confissão, eu lhe teria dito:

— Padre, eu me acuso de todos os pecados que o senhor achou e tem no bolso.

 

D. — Os episódios e as cenas da vida desse grande educador e humilíssimo Santo são sempre muito espirituosos. E finalmente, Padre, para quem é que confissão geral pode ser nociva?

M. — Pode ser nociva principalmente para as almas escrupulosas, cheias de ansiedades e temores vãos; para as que, tendo-a feito outras vezes, não sossegam e querem sempre tornar a repetir o que já foi dito.

 

Para esses indivíduos, a confissão geral não produz outro efeito senão o de suscitar uma confusão de maiores escrúpulos e ansiedades. Obedeçam eles ao Confessor, e quando ele diz e repete que fiquem sossegados... Que não pensem mais naquilo... Que ele próprio responde a Deus pelo estado de suas almas, para que duvidar?

O Confessor vê e julga melhor do que eles, e podem ficar convencidos de que, obedecendo ao Confessor, estarão obedecendo ao próprio Deus.

 

D. — Nesse caso, quando o Confessor não permite a confissão geral, deve ser obedecido?

M. — Certamente! Quando ele proíbe a confissão, geral, ele está exercendo os seus plenos direitos e o dever do penitente é obedecer. Só com essa condição chegaremos pouco a pouco a gozar da tranqüilidade tão ardentemente desejada. Querer encontrar paz por outros meios é o mesmo que procurar uvas entre espinhos. Você viu em resumo qual a importância da Confissão geral.

 

Depois disso, não há de que nos admirarmos se ela foi tão recomendada pelos Santos; como Santo Inácio, São Carlos Borromeu, São Francisco de Sales Santo Tomás de Aquino os mais célebres pela prática e pela doutrina. Tenham pois coragem, não se deixem enganar pelo demônio, e, em caso de necessidade disponham-se a uma boa confissão geral.

 

E que o pensamento de que, por meio dela, poderemos de certo modo reconquistar a inocência batismal nos sirva de estímulo.

 

Na história da vida dos Santos Monges do deserto lê-se que um rapaz, grande pecador, chegou ao convento para se tornar religioso. O primeiro ato do Superior foi impor­lhe uma confissão geral a ser feita no domingo seguinte na igreja do convento. Para esse fim, o jovem preparou-se e escreveu todos os pecados para poder lembrar-se deles e confessá-los melhor.

 

Pois bem, à medida que ele lia e confessava as suas culpas, um monge dos mais velhos e santos via um anjo que as cancelava de um catálogo que trazia nas mãos. Por fim, ficou a folha inteiramente branca, para representar a candura que a alma do jovem atingira.

 

Cesário, bispo de Arles, conta um fato parecido que se deu com um estudante de Paris.

Tinha sido grande pecador mas, querendo a todo o custa converter-se, foi fazer uma confissão geral com um Confessor da ordem Cisterciense.

 

O rapaz derramava tantas lágrimas que não podia nem falar: à vista disso, o Confessor aconselhou-o a escrever os pecados numa folha de papel. Ele o fez de boa vontade.

 

Mas, quando o Padre se dispôs a lê-los, se viu diante de casos tão enormes e complicados, que não teve bastante confiança em si para resolvê-los: pediu licença ao penitente e foi consultar o Superior.

 

Mas, ao abrir a folha para ler, o Abade exclamou:

 

— O quê é que tenho que ler, se aqui não há nada escrito?

 

De fato, Deus tinha miraculosamente cancelado daquele papel todos os pecados do rapaz, como já os tinha cancelado da sua alma.

 

Mas que necessidade temos nós de procurar os exemplos dos Santos, quando o próprio Jesus Cristo nos diz e nos demonstra que a confissão geral torna realmente a dar a inocência batismal?

 

Além do que contei sobre Margarida de Cortona, no capítulo dos efeitos admiráveis da Confissão, podemos falar ainda de Santa Margarida Alacoque.

 

Enquanto a Santa estava fazendo os Exercícios Espirituais, Jesus lhe apareceu e lhe disse:

— Margarida, desejo que renoves a confissão geral de toda a tua vida. Faze-o eu trazer-te-ei uma veste alvíssima.

 

Margarida põe-se à obra para ser agradável a Jesus e, depois de um exame diligente faz a sua confissão geral. Assim que terminou, Jesus apareceu novamente, tendo nas mãos uma túnica muito alva, com a qual a cobriu, dizendo:

 

— Eis aqui, Margarida, a veste que eu prometi.

 

Era da inocência batismal que Ele a revestia.

Oh! bendita seja a confissão que produz em nossa alma efeitos tão maravilhosos, que tanto a purifica e a torna novamente bela, como se tivesse acabado de sair das águas do Santo Batismo!

 

D. — Agradecido, Padre, compreendi perfeitamente; sou-lhe grato pelo que me disse e não o esquecerei.