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A expansão da Igreja cristã na Judéia

 

 

A cura do paralítico de nascença. Sermão de Pedro no Templo

 

A pequena comunidade dos fiéis recebera um forte incremento no dia de Pentecostes. Com toda a razão se dá a este dia o nome de data de fundação da Igreja. Na sala do Cenáculo cabia só um número relativamente pequeno de fiéis; já tinham começado a instalar uma Igreja na velha sinagoga, situada na vizinhança da piscina de Betesda. Esses trabalhos estavam então terminados e Pedro, seguido dos Apóstolos, dos discípulos, de Maria e das santas mulheres, levou o Santíssimo Sacramento, em solene procissão, do Cenáculo para essa primeira Igreja cristã e colocou-O no tabernáculo, sobre o altar.

 

Não muito tempo depois foram Pedro e João, com alguns discípulos, ao Templo.

 

“Estavam, porém, alguns homens levando um paralítico numa padiola, para a porta do Templo. Pedro e João, ao subirem a escada, lhe disseram algumas palavras. Depois falou Pedro por algum tempo com grande ardor ao povo, no átrio do Templo. Durante esses sermão foram as saídas do Templo ocupadas por soldados e os sacerdotes conferenciavam de vez em quando uns com os outros.

 

Então vi Pedro e João, ao dirigirem-se ao Templo, passarem perto do paralítico, que lhes pediu uma esmola. Estava deitado diante da porta, todo encolhido, apoiando-se sobre o cotovelo esquerdo e segurando com a direita uma muleta, com a qual debalde procurava levantar-se um pouco. Pedro disse-lhe: “Olha para nós!” E como ele o fizesse, disse Pedro: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho, dou-te: Em nome de Jesus Cristo Nazaré, levanta-te e anda”. E tomando-lhe a mão direita, levantou-o e João segurou-o sob o braço. Então ficou o homem em pé, alegre e forte e vi curado, saltando, com gritos de alegria e correndo pelo Templo.

 

Pedro e João, porém, foram ao átrio e num lugar onde o Menino Jesus ensinara na idade de doze anos, subiu Pedro à cátedra. Muito povo da cidade e numerosos forasteiros o rodearam; também o paralítico curado estava neste círculo.

 

Pedro, porém, falou da cátedra ao povo:

 

“Homens israelitas, porque vos admirais disto ou porque pondes os olhos em nós, como se por nossa virtude ou poder tivéssemos feito andar este homem? O Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, o Deus de nossos pais glorificou seu Filho Jesus, a quem entregastes e negastes perante Pilatos, julgando este que se Lhe devia dar a liberdade. Mas vós renegastes o Santo, o Justo e pedistes que se vos desse um assassino. E assim matastes o autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que somos testemunhas. E pela fé em seu Nome foi que seu Nome curou a este, que vedes e conheceis; e a fé que Ele nos comunicou, foi que lhe deu inteira saúde, à vista de todos vós. Entretanto, irmãos, sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos magistrados. Mas Deus cumpriu assim o que já dantes anunciara, por boca de todos os profetas: que o Cristo padeceria. Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados vos sejam perdoados; para que venham os tempos de refrigério diante do Senhor, quando enviar o mesmo Jesus Cristo, sobre o qual vos foi pregado. Por ora certamente é necessário que o céu O receba, até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou, por boca dos santos profetas, desde o princípio do mundo. Moisés, de fato, disse: “Porquanto o Senhor, vosso Deus, vos suscitará um profeta dentre vos disser. E isto acontecerá: Toda a alma que não ouvir aquele profeta, será exterminada do meio do povo. E todos os profetas, desde Samuel e quantos depois falaram, anunciaram estes dias. Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com nossos pais, dizendo a Abraão: E na tua descendência serão abençoadas todas as gerações da terra. Deus, ressuscitando seu Filho, vo-Lo enviou primeiramente a vós, para que vos abençoasse; afim de que cada um se aparte da maldade”. (Atos 3, 12-26).

 

“Então muitos daqueles que tinham ouvido a pregação, creram nela e chegou o número destes a cinco mil pessoas”. (Atos 4, 4).

 

Tendo Pedro ensinado com grande com grande entusiasmo até a meia noite, foi preso, junto com João e o paralítico curado, pelos soldados do Templo e metido num cárcere, no tribunal de Caifás.

 

No outro dia foram levados, com murros e pancadas, à sala do tribunal, onde se tinham reunido Caifás e o Conselho Supremo.

 

E mandando-os apresentar, perguntaram-lhes: “Com que poder e em nome de quem fizestes isto?” Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes respondeu: “Príncipes do povo e vós, anciãos, ouvi-me. Se hoje se nos pede razão do beneficio feito a um homem enfermo, com que virtude este foi curado, seja notório a todos vós e a todo o povo de Israel, que em nome de nosso Senhor Jesus Cristo Nazareno, a quem crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos, é que este se acha curado, em pé diante de vós. Jesus Cristo é a pedra que foi reprovada por vós, arquitetos e que se tornou a pedra fundamental; e não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, que possa salvar-nos”.

 

Ora, vendo a firmeza de Pedro e João e sabendo que eram homens ignorantes e simples, admiravam-se e conheciam que eram aqueles que tinham estado com Jesus. Vendo também em pé, ao lado deles, o homem que havia sido curado, não podiam dizer nada em contrário. Mandaram-lhes, pois, que saíssem para fora da sala do conselho e conferenciavam entre si, dizendo: “Que faremos a estes homens? Porquanto fizeram, na verdade, um milagre, notório a todos os habitantes de Jerusalém; é manifesto e não o podemos negar. Todavia, para que não se divulge mais entre o povo, ameacemo-los, para que no futuro não falem mais a ninguém neste nome”. E chamando-os. Intimaram-nos a que absolutamente não falassem mais, nem ensinassem no nome de Jesus. Mas Pedro e João, respondendo-lhes, disseram: “Se é justo diante de Deus ouvir antes de vós do que a Deus, julgai-o vós mesmos; porque não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”. Então, ameaçando-os, os deixaram ir livres, não achando pretexto para as castigar, por medo do povo, porque todos celebravam o milagre que se fizera, no fato que tinha acontecido”. (Atos 4, 7-21).

 

Ensino no Templo. A primeira santa Missa e ordenação de sacerdotes

 

Pedro ensinou novamente, com grande poder, no Templo, onde também se reuniram os outros Apóstolos e discípulos, confirmando as explicações de Pedro. Então se dirigiram, com os batizados e recém-convertidos, em procissão, dois a dois, ao Cenáculo, em Sião. Chegados aí, Pedro e João conduziram a SS. Mãe de Jesus, que vestira as vestes festivas e rezara ajoelhada diante do SS. Sacramento, à porta do vestíbulo. Pedro fez uma alocução aos recém-convertidos, entregando-os à proteção de Maria, a Mãe comum. Apresentou-lhos em grupos de vinte; a Virgem Santíssima, porém, abençoou cada grupo, dirigindo-lhes algumas palavras.

 

Pedro celebrou então a santa missa no cenáculo. Vi fazer-se tudo como Jesus fizera na instituição do SS. Sacramento: oferecer, depositar vinho no cálice, lavar as mãos e consagrar. O vinho e a água foram depositados de lados diferentes. Num lado do altar havia rolos da Escritura. Pedro, após ter comungado, deu também o SS. Sacramento e o cálice aos dois que ajudavam. João deu a sagrada Comunhão também aos outros; Maria foi a primeira que a recebeu, depois os Apóstolos e mais seis discípulos, que em seguida receberam ordens e ainda muitos outros. Aqueles que comungavam, tinham diante de si uma toalha, uma faixa comprida de pano, que dois seguravam dos lados. Não vi, porém, que todos recebessem o cálice.

 

Os seis discípulos que então receberam a santas ordens, avançaram do lugar dos discípulos para o dos Apóstolos, mais para o coro. Maria trouxe-lhes as vestes, pondo-as sobre o altar. Eram: Zaqueu, Natanael, José Bársabas, Barnabas, João Marcos e Eliú, filho do velho Simeão. Ajoelhavam-se dois a dois diante de Pedro, que lhes dirigia a palavra e rezava, lendo num pequeno rolo da Escritura. João e Tiago tinham velas na mão; pousavam-lhes a mão sobre os ombros e Pedro sobre a cabeça. Pedro cortou-lhes o cabelo, pondo-o sobre um prato no altar, ungiu-lhes a cabeça e as mãos com óleo de um vaso que João segurava. Depois lhe puseram também as vestes e estolas, que cruzavam em parte debaixo do braço, em parte sobre o peito.

 

No fim da solenidade Pedro abençoou a comunidade com o grande cálice da última Ceia, no qual era conservado o SS. Sacramento.

 

Acabando a cerimônia, dirigiram-se todos à piscina de Betesda, onde os recém-convertidos, homens e mulheres, foram batizados.

 

Catharina Emmerich descreve em outro lugar a cerimônia da Missa:

 

“Pedro rezava diante do altar e dois Apóstolos ao lado lhe acompanhavam a oração e os atos. Vi que levantou o pão e o vinho no cálice, oferecendo-os, depois partiu o pão em bocados, benzeu-os e pronunciou as palavras da consagração sobre o pão e o vinho, depois do que começaram a luzir.

 

Quando elevou o pão e o cálice, oferecendo-os, vi aparecer uma mão resplandecente por cima do altar, como saindo de uma nuvem; quando benzeu e disse as palavras da consagração, moveu-se também essa mão, benzendo; só desapareceu quando todos se afastaram. Não vi que Pedro o notasse também.

 

Depois da consagração, Pedro tomou primeiro um bocado e encheu então o vaso, que era tão largo, que muitos dos bocados ali cabiam, uns sobre os outros. Então se aproximaram os Apóstolos que estavam presentes e receberam na boca o SS. Sacramento, da mão de Pedro; depois vieram também os outros assistentes, recebendo o SS. Sacramento, como da primeira vez. Acabando os bocados no vaso, Pedro voltou ao altar, para encher de novo com os que restavam no prato e continuou distribuindo a Santa Comunhão.

 

Como na sala não cabiam todos e muitos ficavam fora, saíram os primeiros, depois de terem recebido o Sacramento e os outros entraram. Os que comungavam, não se ajoelhavam, mas inclinavam-se respeitosamente, ao receber o SS. Sacramento. Tendo saído os últimos, entraram de novo os primeiros. Quando Pedro consagrou o vinho, não rezou tanto tempo como da primeira vez; vi-o falar sobre ele palavras que luziam. Depois bebeu e deu também aos Apóstolos para beberem. Os Apóstolos ofereceram o cálice ainda aos outros”.

 

 Curas milagrosas pela sombra de Pedro. Encarceramento dos Apóstolos.

 

Pedro foi ao Templo, com João e os outros sete Apóstolos que ficaram em Jerusalém. “Já no caminho fora da cidade, no vale de Josafá, haviam muitos enfermos, deitados em redor do Templo, no átrio dos gentios e até na escadaria do Templo. Vi que era principalmente Pedro que curava; os outros curavam também, é verdade, mas era mais para auxiliar a Pedro. Este curava só aqueles que acreditavam em Jesus e se queriam unir à comunidade dos cristãos. Onde havia uma dupla fila de doentes, vi a sombra de Pedro cair sobre a segunda fila, enquanto curava e os enfermos saravam pela vontade dele. A muitos se negou a curar. Ensinou também no Templo, defronte do altar dos holocaustos, à direita e também num lugar elevado, com degraus, na sala lateral, à esquerda de quem entrava no Templo. Ninguém os estorvava; o povo era-lhes muito dedicado”.

 

Os Atos dos Apóstolos, cap. 5, continuam a narração:

 

Assim, pois, concorriam multidões de homens das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo os enfermos e os cativos de espíritos imundos, os quais eram todos curados. Mas, Levantando-se o príncipe dos sacerdotes e todos os que com ele estavam (a seita dos saduceus), encheram-se de inveja e de ciúme e fizeram prender os Apóstolos e metê-los na cadeia pública. Mas o Anjo do Senhor, abrindo de noite as portas do cárcere e tirando-os para fora, disse-lhes: “Ide e apresentai-vos no Templo, pregai ao povo todas as palavras de vida”.

        

Tendo ouvido isto, entraram ao amanhecer no Templo e se puseram a ensinar. Mas, chegando o príncipe dos sacerdotes e os que com ele estavam, convocaram o conselho e todos os anciãos dos filhos de Israel e mandaram buscar os Apóstolos no cárcere. Mas tendo lá ido os agentes e como, aberto o cárcere, não os achassem, voltaram e deram a notícia: “Achamos o cárcere fechado com toda a diligência e os guardas diante das portas; mas, abrindo-as, não achamos ninguém dentro”.

 

Quando, porém, ouviram esta novidade, o magistrado do Templo e os príncipes dos sacerdotes ficaram perplexos sobre o que teria sido feito deles. Mas ao mesmo tempo chegou alguém, que lhes deu esta notícia: “Olhai que aqueles homens que metestes no cárcere, estão no Templo, ensinando o povo”. Então foi o magistrado com os agentes e trouxe-os sem violência, porque temia ser apedrejado pelo povo. E logo que os trouxeram, apresentaram-nos ao conselho e o príncipe dos sacerdotes fez-lhes a seguinte pergunta: “Não vos ordenamos, com expresso preceito, que não ensinásseis neste nome? E não obstante, tendes enchido Jerusalém da vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem”. Mas Pedro e os Apóstolos, respondendo, disseram: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem destes a morte, pendurando-O num madeiro. A este elevou Deus com sua destra, como príncipe e como Salvado, para dar a contrição a Israel e a remissão dos pecados. E somos testemunhas destas palavras e também o Espírito Santo, que Deus deu a todos os que lhe obedecem”.

 

Quando isto ouviram, enraiveceram-se e planejaram matá-los. Mas, levantando-se no conselho um fariseu, por nome Gamaliel, doutor da lei, homem de respeito em todo o povo, mandou que saíssem para fora aqueles homens, por um breve espaço de tempo. E disse:

 

“Homens israelitas, refleti bem no que haveis de fazer acerca destes homens. Porque, em tempos passados, se levantou um certo Teodas, que dizia ser um grande homem, a quem aderiu o número de quatrocentos homens; o qual foi morto e todos que nele acreditavam foram desfeitos e reduzidos a nada. Depois deste se levantou Judas Galileu, nos dias em que se fazia o arrolamento do povo e levou-o após si, mas pereceu e foram dispersos todos quantos se lhe acostaram. Agora, pois, vos digo: não vos metais com estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem dos homens, há de desvanecer-se; se, porém, vem de Deus, não podereis desfazê-la, para que não pereça que resistis até a Deus”.

 

Seguiram-lhe o conselho e, tendo chamado os Apóstolos, depois de os haverem feito açoitar, mandaram-lhes que não falassem mais no nome de Jesus e soltaram-nos. Os Apóstolos, porém, saíram da presença do conselho verdadeiramente contentes, por terem sido achado dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar Jesus Cristo, no Templo e pelas casas”. (Atos 5)

 

4. Comunhão de bens. Crescimento da comunidade

        

Dos primeiros cristãos diz a Escritura Sagrada a bela palavra: “da multidão dos que criam, o coração era um e a alma uma; e nenhum dizia pertencer-lhe coisa alguma das que possuía, mas tudo entre eles era comum”. (Atos 4,32).

 

Já depois do ágape, no domingo de Páscoa, os Apóstolos e discípulos propuseram esta resolução. Os recém-convertidos concordaram com a proposta.

 

“Pedro ensinava que nenhum devia possuir mais do que o outro, que deviam repartir tudo e cuidar dos pobres que se reuniam à comunidade. Vi que no pátio do Cenáculo matavam rezes, trinchavam ovelhas e cabras, distribuindo tudo aos necessitados. As peles eram entregues a um homem, para as preparar. Os pobres recebiam também cobertores, pano de lã para roupa e pão. Tudo era distribuído. Reinava sempre boa ordem na distribuição; as mulheres recebiam sua parte da mão de mulheres e os homens da mão de homens”.

 

Aos recém-convertidos foram destinadas também as casas de Marta e Madalena; Lázaro distribuiu toda a fortuna pela comunidade. Do mesmo modo entregou Barnabas todo o dinheiro recebido pela venda de seus bens, na ilha de Chipre.

 

Juntou-se-lhes também um judeu rico, de nome Ananias, com a mulher, Safira, moradores de Betânia. Ananias trouxe panos, ovelhas e jumentos, donativos para a comunidade e pediu o batismo. Antes de ser admitido, trouxe ainda o produto da venda de um campo; mas, com o consentimento da mulher, guardava parte do dinheiro para si. Quando, porém, veio pôr o dinheiro aos pés de Pedro, na presença dos Apóstolos e de todos os recém-convertidos, repreendeu-o este por causa da mentira e logo caiu Ananias morto. A mesma sorte teve também Safira.

 

Esse acontecimento é narrado mais extensamente nos Atos dos Apóstolos, cap. 5:

 

“Um varão, por nome Ananias, com a mulher, Safira, vendeu um campo e com fraude usurpou certa porção do preço do campo, com consentimento da mulher; e levando uma parte, depositou aos pés dos Apóstolos. E disse Pedro: “Ananias, porque tentou Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo e reservasses parte do preço do campo? Porventura não te era livre ficar com ele e ainda depois de vendido, não era teu o preço? Como assentaste, pois, em teu coração fazer tal? Sabe que não mentiste aos homens, mas a Deus”. Ananias, porém, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E infundiu-se um grande temor em todos os que o ouviram. Levantando-se então uns mancebos, carregaram-no e levando-o dali para fora, enterraram-no.

 

E passando que foi o espaço de três horas, entrou também a mulher, não sabendo o que tinha acontecido. E Pedro disse-lhe: “Dize-me, mulher, se vendeste por tanto a herdade”? “Sim, por tanto”. Pedro então lhe disse: “Porque assim combinastes, para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí estão à porta os pés daqueles que enterraram teu marido e os moços, entrando, acharam-na morta e levando-a, enterraram-na junto do marido. E difundiu-se um grande temor por toda a Igreja e entre todos os que ouviram narrar este acontecimento”.

 

Os cômodos da casa perto da piscina da Betesda, daí há pouco, não bastavam mais para a multidão dos recém-convertidos. Os Apóstolos entraram, pois, em negociações com os magistrados judeus, para conseguir outros terrenos para habitações. Foram-lhes indicados três terrenos apropriados, perto de Betânia. O povo mudou para lá e puseram tendas leves em redor de uma tenda maior, na qual morava um discípulo e se guardavam as provisões comuns. Assim se formaram três comunidades novas de fiéis.

 

Os Apóstolos, porém, procuravam também os velhos amigos, que moravam em lugares mais afastados, para lhe informar sobre os acontecimentos após a última Páscoa, para lhes ensinar e os batizar. Assim mandou Pedro e Tomé, Filipe e Matias, cada um com mais um discípulo, a Samaria, Tebez e Tibérias. Mas também Pedro e os outros Apóstolos se espelharam por toda a Judéia; apenas Tiago o Menor, com alguns discípulos, ficou em Jerusalém e na Igreja de Betesda.

 

5. Eleição dos sete diáconos. Queixas por causa da distribuição das esmolas

 

Nesse tempo se ouviram queixas das viúvas e dos órfãos sobre a distribuição das esmolas. Reuniram-se por isso novamente todos os Apóstolos no Cenáculo, em volta de Pedro, a quem todos se submetiam e que lhes deu a santa Comunhão. Depois o conduziram, vestido do ornato episcopal, ao vestíbulo da casa, onde dirigiu a palavra aos numerosos discípulos e recém-convertidos, para promulgar ordens a respeito da distribuição das esmolas.

 

“Entre outras coisas, ouvi dizer que não era conveniente abandonar a pregação da palavra de Deus, para cuidar de alimentos e roupa. Assim, por exemplo, não convinha mais que Lázaro, Nicodemos e José de Arimatéia administrassem, como até então, os bens terrestres da comunidade, por se terem tornado sacerdotes. Depois falou ainda sobre a ordem na distribuição das esmolas, sobre a administração das casa, dos órfãos e das viúvas. Então se apresentou Estevão, um belo moço, esbelto, oferecendo-se para esse serviço. Entre os outros reconheci também mouros, que eram ainda moços e não tinham recebido o Espírito Santo. Pedro impôs as mãos de todos, cruzando-lhes a estola do lado, sob o braço; sobre aqueles que ainda não tinham recebido o Espírito Santo, se derramou então uma luz”.

 

A esses sete diáconos foram então entregues os bens e as provisões da comunidade. José de Arimatéia, porém, cedeu-lhes a sua casa. Faziam distribuir as esmolas em três lugares: diante do Cenáculo, em Betânia e na praça da estalagem, no caminho de Belém. Nesse último lugar se levantaram de novo queixas, mas os queixosos não tinham tanta razão. Por isso enviaram Estevão e os outros diáconos mensageiros aos Apóstolos que, depois de nomear os diáconos, se tinham espalhado por todo o país.

 

Pedro voltou, com André, da região de Jope a Jerusalém, tomé, com Felipe, da Samaria; compareceram também outros Apóstolos, para terminar essa questão. Mas antes de chegarem, os descontentes já se tinham dirigido, com a queixa, ao conselho dos sacerdotes em Jerusalém, por intermédio de Saulo e Gamaliel e Estevão foi citado perante o conselho. Mas este, acusado e interrogado por muitos fariseus e judeus excitados, se defendeu tão bem e com tanta seriedade, que foi absolvido.

 

Tendo, porém, Pedro se reunido no Cenáculo com os outros Apóstolos, mandou chamar os queixosos à sua presença e resolveu tudo, fazendo separar muitos da comunidade e acomodar em outras casas.

 

6. As obras do diácono S. Felipe

 

Apesar dos Samaritanos não terem comunhão com os judeus, não deviam ficar privados do Evangelho, como também os gentios, pois já o Salvador ensinara muitas vezes nas regiões de Samaria, depois de ter tido aquela piedosa conversação com a mulher samaritana, no poço de Jacó.

 

Entre os sete primeiros diáconos se achava também Felipe que, depois de Estevão, era o mais respeitado. Felipe dirigiu-se à Samaria e pregou ali o Evangelho do Cristo.

 

E o povo estava atento ao que Felipe lhe dizia, escutando-o com o mesmo ardor e vendo os prodígios que fazia, porque os espíritos imundos saiam de muitas pessoas, dando grandes gritos e muitos paralíticos e coxos eram curados; pelo que se originou uma grande alegria naquela cidade.

 

Havia lá, porém, um homem, por nome Simão, o qual antes tinha ali exercido a magia, enganando o povo Samaritano, dizendo que era um grande homem, a quem todos davam ouvidos, desde o maior até o menor, dizendo: Este é a virtude magna de Deus. E obedeciam-lhe, porque, com as artes mágicas, por muito tempo lhes havia perturbado o espírito. Mas depois que creram o que Felipe lhes anunciava do reino de Deus, foram-se batizando homens e mulheres, em nome de Jesus. Então creu também o mesmo Simão e depois que foi batizado, ligou-se a Felipe. Vendo os prodígios e grandíssimos milagres que se faziam, todo cheio de pasmo se admirava.

 

Os Apóstolos, porém, que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que Samaria recebera a palavra de Deus, mandaram lá Pedro e João, os quais, quando chegaram, fizeram oração pelos Samaritanos, afim de receberem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido sobre nenhum dos recém-convertidos, mas tinham sido apenas batizados em nome do Senhor Jesus. Então lhes impunham as mãos e recebiam o Espírito Santo.

 

E quando Simão viu que se dava o Espírito Santo por meio da imposição da mão dos Apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: “Dai-me também este poder, de que qualquer a quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo”. Mas Pedro disse-lhe: “O teu dinheiro pereça contigo; uma vez que te persuadiste de que o dom de Deus se pode adquirir com dinheiro, não tens parte nesta herança alguma neste ministério; porque teu coração não é reto diante de Deus. Faze, pois, penitência desta tua maldade e roga a Deus que, se é possível, te seja perdoado este pensamento do teu coração; porque vejo que estás num fel de amargura e preso nos laços da iniqüidade”.

 

E respondendo Simão, disse: “Roga por mim ao Senhor, para que não me suceda nada do que disseste”. Depois de terem dado este testemunho e anunciado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém a Gaza, o qual se acha deserto”. E, levantando-se, partiu. E eis que um homem etíope, eunuco, servo de Candace, rainha da Etiópia, de cujos tesouros era superintendente, tinha vindo a Jerusalém para fazer oração e voltava, sentado na sua carruagem, lendo o profeta Isaías.

 

Então disse o Espírito a Felipe: “Vai e aproxima-te deste carro”. E correndo logo Felipe, ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías e disse-lhe: “Compreendes porventura o que estás lendo”? O etíope respondeu-lhe: “Como o poderei entender, se não houver alguém que mo explique”? E rogou a Felipe que subisse e se lhe sentasse ao lado. Ora a passagem da Escritura que lia, era esta: “Como ovelha foi levado ao matadouro e como cordeiro mudo diante de quem o tosquia, assim ele não abriu a boca. Na sua humilhação foi abolido o Julgamento. Quem poderá contar-lhes a geração, pois que sua vida será tirada da terra”? E respondendo o eunuco a Felipe, disse: “Rogo-te que me digas de quem disse isto o profeta: de si mesmo ou algum outro?”

 

E abrindo Felipe a boca e principiando por esse trecho da Escritura, anunciou-lhe Jesus. E continuando o caminho, chegaram a um lugar onde havia água e disse o eunuco: “Eis aqui água; o que impede que eu seja batizado”? E respondeu-lhe Felipe: “Se crês de todo o coração, podes”. E respondendo, disse o etíope: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus”. E mandou parar o carro e descerem os dois para a margem do rio, onde Felipe o batizou. E tanto que saíram da água, arrebatou o Espírito do Senhor a Felipe e o eunuco não mais o viu; continuou, porém, o caminho, cheio de prazer. Mas Felipe achou-se em Azot e passando além, pregava o Evangelho em todas as cidades, até que veio a Cesaréia”. (Atos 8, 6- 40).

 

7. Perseguições.

 

Era inevitável que os fiéis fossem cada vez mais perseguidos pelo ódio dos judeus. Pedro dissera-lhes abertamente que assim se devia mostrar quem possuía o Espírito Santo enviado por Jesus; começara o tempo de agir e sofrer perseguição.

 

Mas para que não se levantasse logo uma perseguição violenta contra os recém-convertidos, os Apóstolos julgavam prudente afastarem-se de vez em quando das vizinhanças de Jerusalém. A primeira vez foram todos para a respectiva terra natal. A segunda vez, depois da eleição dos diáconos, mudaram de lugar. Desta vez se encaminhou Tomé para a Samaria, Zaqueu para Bedar, João para Éfeso, na Ásia Menor, Pedro, porém, com Silvano, para a região de Jope.

 

“Pedro fazia mais milagres do que todos os outros, diz Catharina Emmerich. Expulsava demônios e ressuscitava mortos; vi até que um Anjo o precedia, mandando o povo fazer penitência e pedir socorro a Pedro. O centurião Cornélio também já ouvira falar nele, mas naquele tempo não se convertera ainda. Antes de Estevão ser apedrejado, todos os Apóstolos mais uma vez se reuniram em Jerusalém e depois de se dispersarem de novo, Pedro voltou a Jope e então se efetuou a conversão de Cornélio.

 

Maria e todas as santas mulheres, inclusive Verônica, estavam em Betânia.

 

Também vi Saulo em Jerusalém, já muito ativo. Dirigia todo o ódio dos judeus. Vi-o percorrer a cidade e agitar o povo, com incrível ódio, convencido de ter o direito ao seu lado. Conhecia muitos discípulos, procurava-os de propósito e discutia com eles. Também se esforçava por perturbar e destruir a nova colônia dos cristãos. Incitava também o ódio dos saduceus e ficou furioso ao ouvir narrar que Simão Mago, em Samaria, se convertera. Este, porém, apostatou e juntou-se em Jerusalém a Saulo, cujo ódio crescia cada vez mais. Saulo pediu aos sacerdotes judeus cartas, com poderes especiais e ia a muitos lugares, para perseguir os cristãos”.

 

Depois de Pedro e os Apóstolos haverem resolvido a questão havida em Jerusalém, todos se retiraram novamente para regiões onde os judeus não lhes podiam fazer mal. Pedro dirigiu-se novamente a Jope e arredores.

 

Durante a estadia em Lídia, morreu em Jope uma piedosa mulher cristã, de nome Tabita. Então enviaram os discípulos alguns mensageiros a Jope, para chamar Pedro. Quando este chegou à casa da morta, aproximou-se do cadáver e disse: “Tabita, levanta-te”. Então abriu a morta os olhos e levantou-se do féretro, com espanto de todos que estavam presentes.

 

“Simão Mago está na cidade, juntamente com Saulo, incitando todos contra a comunidade cristã. Os fiéis estão em grande aflição. Muitos dos Apóstolos estão longe, mas os fiéis mandaram chamá-los. Os judeus destroem as casas dos cristãos, até nos lugares que eles mesmos lhe tinham destinado. Os cristãos que moram na estrada de Belém, estão saindo para Salém, onde João Batizava. Ali estão construindo cabanas e uma capela; têm consigo um sacerdote e também o SS. Sacramento, numa cápsula.

 

Serviu de pretexto à perseguição o fato de Pedro, viajando de Samaria a Jope, batizar no caminho muita gente, inclusive certo homem, cuja conversão provocou grande discussão em Jerusalém. Estevão defendeu essa causa com tanta firmeza, que o prenderam. A comunidade aflita mandou chamar Pedro e os outros Apóstolos.

 

8. Estevão é interrogado e apedrejado

 

 A perseguição mencionada não se dirigia tanto contra os Apóstolos, mas contra os recém-convertidos, que formavam comunidade em redor de Jerusalém. Estevão era um dos que governavam essas comunidades. Era, como diz a Escritura, cheio de graças e fortaleza e fazia grandes prodígios e milagres entre o povo.

 

Alguns da sinagoga se levantaram a disputar com Estevão, mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito que nele falava. Então subornaram alguns homens, que agitaram o povo. Levaram-no ao conselho e apresentaram falsas testemunhas, que disseram: “Este homem não cessa de proferir palavras contra o lugar santo e contra a lei”. (Atos 6,8-13). Ele, porém, disse:

 

“Irmãos e pais, escutai. O Altíssimo não habita em edifícios construídos por mãos de homens, como diz o profeta: “O Céu é o Meu trono e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis?” diz o Senhor, “ou qual é o lugar do meu repouso? Não fez porventura a minha mão todas estas coisas?” Homens de dura cerviz e de corações e ouvidos incircuncisos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como agiram vossos pais, assim o fazeis também! A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? E mataram até os que anunciavam a vinda do Justo, do qual agora fostes traidores e homicidas, vós que recebestes a lei por ministério dos Anjos e não a guardastes”.

 

Ao ouvir, porém, tais palavras, enraiveceu-se-lhes o coração e rangiam os dentes contra Estevão. Mas como estava cheio de Espírito Santo, olhando para o céu, viu a glória de Deus e Jesus à destra de Deus. E disse: “Eis que estou vendo os céus abertos e o Filho do Homem à direita de Deus”. Então, levantando uma grande gritaria, taparam os ouvidos e, todos juntos, arremeteram com fúria contra o santo diácono e, tendo-o lançado para fora da cidade, apedrejaram-no; e as testemunhas depuseram os mantos aos pés de um moço, que se chamava Saulo. E apedrejaram Estevão, que invocava Jesus e dizia: “Senhor Jesus, recebi o meu espírito”. E pondo-se de joelhos, clamou em alta voz, dizendo: “Senhor, não lhes imputeis este pecado”. E tendo dito isto, adormeceu no Senhor. E Saulo consentiu no homicídio de Estevão“. (Atos 7, 48-60)

 

Estevão sofreu o martírio mais ou menos um ano depois da crucificação de Cristo. A piedosa Emmerich narra o seguinte:

 

“Vi Estevão, sem se lembrar do apedrejamento, rezando apenas pelos carrascos e olhando para o céu aberto. O martírio deu-se fora da porta, ao norte, ao lado de uma estrada. Era um lugar aberto, circular, em cujo centro se achava uma pedra, sobre a qual se ajoelhou o santo moço, rezando, com as mãos erguidas. Vestia uma longa veste branca, arregaçada, sobre a qual pendia, no peito e nas costas, uma espécie de escapulário, com duas fitas transversais; creio que era uma parte das vestes sacerdotais. Procederam no apedrejamento em certa ordem; em volta do lugar haviam juntado pedras, ao pé de cada um dos apedrejadores.

 

Vi também Saulo, homem extraordinariamente sério e zeloso, que arranjara tudo o que era necessário para a lapidação e os lapidantes depositaram os mantos aos seus pés. Estevão levantara as mãos, rezando e não se movia, sob as pedradas; era como se não as sentisse. Também não fazia movimentos espontâneos para se proteger; parecia extasiado, olhava para o alto e o céu estava aberto acima dele; via Jesus e com Ele, Maria, sua Mãe. Finalmente uma pedra lhe bateu na cabeça, prostrando-o morto. Era um moço alto e belo, de cabelo castanho e liso.

 

Saulo não causava uma impressão repugnante, pelo grande zelo com que preparava a lapidação, como acontecia com os outros, que eram cheios de inveja e hipocrisia; pois o fazia impelido por um falso zelo, mas que julgava justo, pela lei judaica; foi por isso também que Deus o iluminou”.

 

Os ossos do santo mártir Estevão foram mais tarde milagrosamente encontrados, em conseqüência de uma Visão, junto com os corpos de Nicodemos, Gamaliel e seu filho Abidon.

 

“O corpo de Estevão, que jazia numa posição natural, foi levado a Jerusalém, a uma Igreja situada no monte em que estivera o Cenáculo. Esses ossos foram depois várias vezes distribuídos e levados a vários lugares e muitos milagres se deram com eles. Lembro-me que uma cega tocou o caixão das relíquias com flores, por meio das quais recobrou de novo a vista. Em outro lugar se converteram muitos judeus.

 

Em certa região o demônio, assumindo a forma de um homem muito respeitável, pediu uma parte das relíquias de S. Estevão, mas quando o bispo pediu a luz de Deus, para saber se o suplicante o merecia, fugiu o demônio, rugindo e tomando um aspecto horrível. De tais milagres vi muitos e também que parte das relíquias foram levadas para Roma e depositadas junto ao corpo de S. Lourenço. Deu-se então um fato milagroso: O corpo de S. Lourenço mudou de posição, cedendo lugar às relíquias de Santo Estevão”.

 

Com a morte de Estevão a perseguição não terminou absolutamente, pois S. Lucas acrescenta à narração do apedrejamento de S. Estevão estas palavras:

 

“Saulo, porém, assolava a Igreja, entrando pelas casas e tirando com violência homens e mulheres, fazia com que os metessem no cárcere. Entretanto os que se tinham dispersado iam de um lugar para outro, anunciando a palavra de Deus”. (Atos 8, 3-4).

 

Assim servia essa perseguição ao plano de Deus, não só para provar e purificar os eleitos, mas também para propagar a doutrina de Jesus em outras regiões e aumentar o número de fiéis.

 

9. A conversão de Saulo

 

Um acontecimento sumamente importante para a jovem Igreja cristã foi a conversão de um homem, que até então tinha sido abertamente inimigo e se propusera a destruí-la, mas que mais tarde se tornou um dos seus mais árduos defensores  e com a pregação e o seu sangue confirmou a fé no Filho de Deus crucificado.

 

Depois de ter visto Estevão expirar, sob as pedradas dos judeus, encaminhou-se para Damasco, com o fim de trazer presos para Jerusalém todos os partidários de Jesus que encontrasse.

 

“Seguia pelo caminho, conta a Escritura Sagrada, aproximando-se de Damasco, quando subitamente o cercou uma luz vinda do céu e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Ele replicou: “Senhor quem és?” E respondeu-lhe a voz: “Eu sou Jesus, a quem persegues. Duro-te é recalcitrar contra o aguilhão. Então, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? O Senhor respondeu-lhe: Levanta-te e entra na cidade e aí se te dirá o que te cumpre fazer.

 

Os homens que o acompanhavam, estavam espantados, ouvindo a voz, mas sem ver ninguém. Levantou-se, pois, Saulo do solo e tendo os olhos abertos, nada via. Os companheiros, porém, conduzindo-o pela mão, levaram-no a Damasco, onde esteve três dias sem ver e não comeu nem bebeu. Ora, em Damasco, onde havia um discípulo, de nome Ananias e o Senhor, numa visão, lhe disse: Ananias. E ele acudiu, dizendo: Eis-me aqui, Senhor! E o Senhor tornou-lhe: Levanta-te e vai a rua que se chama Direita e procura em casa de Judas um homem chamado Saulo de Tarso, porque eis que está rezando. E Saulo viu também um homem, por nome Ananias, que entrou e lhe impôs as mãos, para que recebesse a vista.

 

Respondeu, pois, Ananias: Senhor tenho ouvido muitos falarem a respeito deste homem, quanto mal fez aos teus santos em Jerusalém; e ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender todos que invocam teu nome. Mas o Senhor disse-lhe: Vai porque este é para mim um vaso escolhido, para levar meu nome perante os gentios e os reis e os filhos de Israel. Porque eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre sofrer pelo meu nome.

 

E Ananias foi e entrou na casa e impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, irmão, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me, para que recobres as vista e fiques cheio do Espírito Santo. E no mesmo instante lhe caíram dos olhos umas escamas, e assim recuperou a vista; e levantando-se, foi batizado. E depois que tomou alimento, recobrou as forças. Alguns dias esteve então com os discípulos que se achavam em Damasco e logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. E pasmavam todos que o ouviam e diziam: Pois não era este quem perseguia em Jerusalém os que invocavam este nome e que veio prendê-los para os levar aos príncipes dos sacerdotes? Saulo, porém, esforçava-se cada vez mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, afirmando que Jesus é o Cristo.

 

E passados muitos dias, os judeus se reuniram em conselho, resolvendo matá-lo. Saulo, porém, foi advertido das ciladas. Guardavam-lhe as portas dia e noite, para o eliminar. Os discípulos, porém, tomando-o de noite, desceram-no pela muralha, metido numa cesta. Tendo chegado a Jerusalém, procurava Saulo reunir-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. Então Barnabé, levando-os consigo, o apresentou aos apóstolos e contou-lhes como tinha visto o Senhor no caminho e lhe tinha falado e como depois em Damasco agira com toda franqueza em nome de Jesus. E Saulo estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo e falando corajoso em nome do Senhor. Falava também com os gentios e disputava com os gregos, mas tratavam de matá-lo. Sabendo disso, os irmãos acompanharam-no até Cesaréia e enviaram-no a Tarso. Estava então em paz a Igreja por toda a Judéia, Galiléia e Samaria e se estabelecia, caminhando no temor de Deus e estava cheio do ESPÍRITO Santo. (Atos 9, 3-31)

 

Anna Catharina dá do santo Apostolo Paulo esta descrição:

 

“Paulo não era alto, mas baixo e robusto. Tinha uma alma forte, procurando a justiça, mas sem obstinação nem orgulho. Depois da conversão era humilde e amável, mas era dotado de muita serenidade, perseverança e firmeza.

 

10. Herodes manda decapitar Tiago o Maior e lançar Pedro no cárcere

 

No quinto ano depois da morte de Jesus Cristo se levantou nova perseguição contra a comunidade; por isso levou João a SS. Virgem para a região do Éfeso, onde já se formara nova comunidade de cristãos. Em Éfeso a visitou Tiago o Maior, ao voltar da Espanha para Jerusalém. Chegando ali, trabalhou e pregou ainda algum tempo, depois foi preso e condenado a morte por Herodes.

 

Tiago foi conduzido para fora da cidade, em direção ao Monte Calvário, conta a serva de Deus, e no caminho continuava pregando e ensinando, convertendo ainda muitos. Quando lhe ataram as mãos, disse: podeis amarrar-me as mãos, mas não a bênção e a língua. Um paralítico estava sentado a beira do caminho e dirigindo-se a Tiago, pediu que lhe desse a mão e o curasse. Tiago respondeu: vem a mim e dá-me a mão. O paralítico levantou-se, tomou as mãos amarradas do Santo Apostolo e foi curado. Vi também o homem que o atraiçoou, chamado Josias, correndo para ele, arrependido, pedindo-lhe perdão. Confessou a fé em Cristo e foi também executado. Tiago perguntou-se se queria receber o batismo e como afirmasse que sim, abraçou-o o Apostolo e, beijando-o, disse: Serás batizado no teu sangue. Vi ainda uma mulher, que correu com o filho cego para junto de Tiago, no lugar do suplicio, pedindo e alcançando-lhe a vista.

 

Tiago e Josias foram primeiro colocados juntos num lugar elevado, sendo-lhes proclamado em alta voz o crime e a sentença de morte. Depois se sentou Tiago numa pedra, a qual lhe foram atadas as mãos; vedaram-lhe os olhos e assim o decapitaram. No entanto tinham também encerrado Tiago o Menor na própria casa; além dele, estavam em Jerusalém Mateus, Natanael, Cased e Natanael, o noivo de Cana. Mateus morava em Betania. A casa de Lázaro e todas as suas propriedades na Judéia estavam, havia muito tempo, na posse da comunidade cristã; o palácio na cidade, porém, tomaram-lhe os Judeus. Durante o suplicio de Tiago o Maior, se levantou um grande tumulto e muitos se converteram.

 

Para agradar aos judeus, Herodes fez também prender Pedro e lançá-lo no cárcere, com intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Entretanto, a igreja orava a Deus por ele sem cessar. Mas quando Herodes estava para o apresentar, nessa mesma noite, Pedro foi posto em liberdade por um Anjo.

 

Vi Pedro dormindo, num cárcere bastante vasto, entre dois soldados, que estavam deitados a uma certa distância e também dormindo. Jazia num lado perto da parede, tinha os pés encerrados num cepo, ambos os braços, porém, estavam amarrados aos guardas, que dormiam a direita e a esquerda. Vi aparecer do alto um esplendor e nele um anjo, que tocou em Pedro, que acordou, as cadeias soltaram-se-lhe, à direita e à esquerda, das mãos, caíram sem barulho e sem movimento de sua parte e estavam ainda da mesma forma que tinham dantes, quando lhe atavam as mãos. O Anjo disse-lhe uma coisa, então tirou Pedro os pés do cepo, sem abri-lo, pôs as sandálias, que ainda estavam ligadas às pernas, e levantando-se, cingiu a túnica larga, vestiu o manto com que se tinha coberto e seguiu o Anjo, que passou diante dele pela porta, sem que essa se abrisse; era como se lhe passassem através.

 

Por fim chegaram a um grande portão de ferro, o qual se abriu. Vi em tudo isso que havia luz só no espaço onde passavam. Entraram então numa rua; lá desapareceu o Anjo e vi que Pedro estava muito espantado. Até então tinha pensado que sonhava; só agora notara que estava em liberdade. Passou por uma porta e atravessando um riacho, veio a um lugar que parecia fora da cidade; mas não posso dizê-lo com certeza, pois Jerusalém era muito dividida por colinas; afinal vi que a casa da mãe de João Marcos não estava na própria cidade, mas isolada e fora de uma porta.

 

Vi, porém, nessa casa muitos discípulos e fiéis, reunidos numa sala, rezando à luz de um candeeiro. Conservavam-se muito quietos e silenciosos, cobrindo as janelas com panos, para que a luz não fosse vista. Vi que Pedro batia na porta do átrio e que uma criada estava escutando por dentro. Quando Pedro pediu que abrisse a porta, correu ela apressadamente à sala, anunciando-o alegremente aos outros, mas esses não queriam acreditar; vi, porém, que Pedro continuava batendo e que alguns saíram para abrir; Pedro entrou e eles o abraçaram, felizes e contentes. Mas não se demorou muito; fez-lhes um sinal para ficarem quietos, contou umas coisas e saiu da casa.

 

O castigo de Deus caiu pouco depois sobre Herodes. Numa festa se lhe arrebentou o ventre, num teatro, diante de todo o povo. Levaram-no a uma grande sala, onde estava o trono e onde cabiam cerca de 500 pessoas. Estava como doido de raiva e dor e tão asqueroso, que não o posso descrever. Ocultaram sua morte por algum tempo”.

 

11. Outras provocações da Igreja de Jerusalém

 

Tiago o Menor governava como bispo a Igreja de Jerusalém, para o qual, segundo uma velha tradição, fora eleito pelo próprio Salvador. Foi o único que ficou na cidade, pois os outros partiram para terras longínquas a fim de pregar o reino de Deus. Nasireu por causa de sua virtudes e piedade era muito estimado, não só entre os Apóstolos e discípulos, mas também entre os judeus, de modo que lhe deram o apelido de “justo”. Apesar disso, devia também morrer mártir, alguns anos depois de Tiago o Maior.

 

“Vi quando o levaram, durante sete dias, de um tribunal ao outro e cada dia o maltratavam durante uma hora. Depois de o terem lançado do pináculo do Templo abaixo, apedrejaram-no ainda e afinal o mataram a pauladas”.

 

Como os partidários de Tiago resistissem, levantou-se um tumulto, no qual foram mortos três discípulos, entre os quais também um filho do velho profeta Simeão.

 

Depois da morte de Tiago o Menor, a Igreja de Jerusalém ficou 5 anos sem bispo. Mais tarde foi nomeado bispo Simeão, que era filho de Maria, filha de Cléofas. No entanto era a Igreja administrada por Joas, parente de Pedro. Antes da destruição de Jerusalém, pelo general romano Tito, no ano 70, Simeão saiu com os cristãos da cidade e só voltou doze anos mais tarde. No ano 87 foi crucificado, na idade de 120 anos.

 

É provável que já antes de Simeão, tivesse sido martirizado em Jerusalém o santo Apóstolo Matias. A piedosa Emmerich viu-o, é verdade, duas vezes no país dos Reis Magos (Armênia), pregando a fé, mas diz depois que foi morto a pauladas na cabeça, com um longo pau, depois da morte de Tiago o Menor.

 

A história eclesiástica, narra extensamente: O Apóstolo pregou o santo Evangelho, com zelo incansável, na Judéia e Galiléia, durante 33 anos. Como o número dos cristãos aumentasse dia a dia, foi levado perante o Conselho supremo e ameaçado de morte pelo Sumo Sacerdote Ananias, se não deixasse de pregar o Crucificado. Matias, porém, demonstrou que Jesus é o Filho unigênito de Deus, o Messias prometido, que ressuscitou dos mortos. Por esta corajosa profissão de fé, foi condenada pelo Sumo Sacerdote à morte por lapidação. O corpo do santo Apóstolo foi sepultado em Jerusalém. Santa Helena, porém, levou-o para Roma e deu-o a santo Agrítio, que o levou a Treves, para onde fora nomeado Bispo.

 

A piedosa Emmerich teve também uma visão, em que viu os judeus, sob o reinado do imperador Juliano o Apóstolo, quando S. Cirilo era Bispo de Jerusalém, no ano 362, tentarem reedificar o Templo, para desse modo provar a falsidade da profecia de Jesus Cristo.

 

“Vi que uma tempestade levou grande quantidade de cal e materiais de construção, cobrindo e obstruindo estradas inteiras. Da terra saiu fogo, destruindo as ferramentas; grandes abóbadas caíram, matando muitos homens e na roupa dos operários apareceram nódoas pretas, em forma de cruzes. Vi também alguns operários caírem numa adega, cuja abóbada ruíra e aí acharem uma grande pia de pedra, que continha muitos rolos escritos; uma voz mandou-lhes que levassem alguns destes. Esses operários foram depois socorridos e salvos, a maior parte. Aqueles rolos continham muitos documentos sobre o bom ladrão e sobre a infância de Jesus, verdade e ficção.

 

Vi também, naquele tempo, uma grande cruz luminosa aparecer do Monte das Oliveiras até o Monte Calvário e muitos se converteram”.     

 

Fonte: Extraído do Livro "Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus - Anna Catharina Emmerich - Ed. MIR.