O SACRAMENTO DA CONFISSÃO.
CONFESSAI-VOS BEM !!!
Parte IV.
As terríveis conseqüências do pecado
D. — Padre, o senhor disse também que a desonestidade é o pecado que traz conseqüências horríveis?
M. — Infelizmente assim é! As desonestidades tiram as forças de qualquer obra generosa. Sansão, o mais forte dos homens, porque Deus o dotara de uma força extraordinária, deu-se a um amor impuro e tornou-se o joguete de Dalila, companheira dos seus pecados; por três vezes ela o traiu e o vendeu aos seus inimigos.
As desonestidades idiotizam a mente. Salomão, o mais sábio de todos os reis, perde-se junto das mulheres amalecitas e, abandonando o seu Deus, dá-se à idolatria.
As desonestidades viciam o coração de Henrique VIII, o mais cristão dos reis, tendo-se apaixonado por Ana Bolena, repudia a rainha sua esposa, abandona a Igreja Católica, faz da Inglaterra uma nação protestante, e morre excomungado pelo Papa.
As desonestidades fazem perder a fé. Se grande número de cristão não crêem, não têm fé, é por causa das desonestidades. De fato quando é que a juventude começa a deixar a oração, a desertar a Igreja, a abandonar os Sacramentos? Justamente quando começa a freqüentar as más companhias, quando se junta às más conversas, às impurezas. Não faz muito tempo, encontrei-me com um médico meu conhecido e o repreendi docemente porque não praticava a religião. “Faça com que eu me case, respondeu, e tornarei a ser católico praticante”. E o que me confessava era verdade: se não tinha fé era por causa das desonestidades.
As desonestidades são a causa dos crimes mais hediondos. As desonestidades estragam a saúde, diminuem as forças, encurtam a vida. A existência de tantos moços fracos, de tantas doenças, de tantas velhices precoces, a multiplicação de hospitais para os débeis, para os raquíticos, para os dementes, para os abandonados, aí estão para atestar quantos danos causam as desonestidades, mesmo à saúde.
Na América do Sul e na Guiana existe um animal chamado vampiro, que suga o sangue dos homens enquanto estão adormecidos, e quando está satisfeito, foge, deixando a veia aberta, o que freqüentemente causa a morte. Pois bem, as desonestidades sugam o sangue, diminuem as forças, gastam a vida de quem se torna escravo delas. A desonestidade é parecida com a chama de uma vela; ou bem apagamos a chama, isto é desistimos do vício, ou bem acabamos a vela, isto é extinguimos a própria vida. Mas quantos há que não querem acreditar e perdem a juventude, perdem a saúde, a alegria e a paz para ir ao encontro de uma morte precoce e desonrosa! Pensam que vão colher e gozar o perfume das rosas, quando, na verdade não traem senão espinhos venenosos.
E, por falar em rosas, ouça um fato histórico que agora vem ao caso.
Heliogábalo, imperador romano, suspeitando de uma traição dos seus generais e cortesãos, pensou em preveni-los e puni-los de um modo terrível. Feito no maior segredo os preparativos, convidou-os todos para um suntuoso banquete. Ao fim da festa, quando mais expansiva é a alegria, quando as músicas tocam as notas mais alegres, eis que surge a grande surpresa!... Abre-se o teto da grande sala, o, do alto começa cair uma chuva, leve, de rosas lindas, frescas e perfumadas. Diante dessa novidade o prazer chega ao auge, transforma-se em delírio; todos se levantam gritando: "Viva Heliogábalo! Viva o imperador!" E deliciamse com as rosas: pegam-nas e adornam-se com elas: as palmas e os vivas multiplicam-se.
Enquanto isso, o imperador sai sem ser visto. Abrem-se hermeticamente as portas e a chuva continua, aumenta, torna-se copiosa, tão forte que chega a cobrir as mesas e os convivas perdem os sentidos por causa do perfume asfixiante. Procuram uma saída, mas as portas estão fechadas e as janelas altíssimas protegidas por grades de ferro. Tarde demais descobrem o engano, e morrem todos sufocados pelo perfume e o peso daquelas rosas belíssimas.
D. — Padre, é essa a triste história daqueles que se dão aos prazeres da impureza?
M. — Precisamente! Infeliz da juventude que, enganada pelo perfume lascivo e sedutor de tais rosas, passa os anos mais belos gritando: amor, amor. O amor, ou seja, o vício, transformar-se-á bem cedo em veneno que castiga terrivelmente.
Eu mesmo conheci um jovem forte e sadio, bem disposto, que, dando-se a esse vício aos 17 anos, morreu de uma morte raivosa e convulsa, que despertou pavor em todos os que rodeavam. O seu cadáver tomou um aspecto tão disforme, a sua fisionomia tornou-se tão horrenda, que os próprios parentes não tinham coragem de fita-lo; os poucos que puderam entrar no quarto afirmaram nunca terem visto uma coisa tão assustadora e horrorosa.
Um outro rapaz, que pecava por desonestidade, morreu, e do seu corpo, horrivelmente inchado, emanava um mal cheiro tal que foram obrigados a tirá-lo da casa antes do tempo. Nem os companheiros mais corajosos conseguiram levá-lo ao cemitério por causa do cheiro nauseabundo, e foi preciso carregá-lo numa carroça puxada por um jumento. O quarto onde morreu teve que ser desinfetado por muitas vezes antes que se pudesse tornar habitável.
Conta-se também o caso de uma moça habituada a atos impuros, que, depois de uma morte aparentemente cristã, foi vestida de branco pela mãe e pelas irmãs. Enfeitaram-na com flores e estenderam-na na cama com um crucifixo nas mãos, afim de que, segundo o costume, as amigas pudessem vê-la pela última vez e orar por ela.
Mas oh, prodígio! O Crucifixo saiu do lugar, e, por mais que o tornassem a pôr nas mãos da morta, por mais que procurassem fazê-lo parar, tudo foi inútil: achavam-no sempre jogado na cama. Jesus não queria ficar naquelas mãos que tinham servido para o pecado.
D. — O Senhor conta coisas cada vez mais horripilantes! Mas então não haverá mesmo saída para quem teve a infelicidade de enveredar por asse caminho?
M. — Sim, há um modo de reconhecer suas faltas e emendar-se e isto consiste em:
1.° — Uma vontade firme.
2.° — Eliminar e afugentar as ocasiões.
3.° — Praticar os Sacramentos. É sobretudo numa vontade firme que isto consiste.
Santo Agostinho levou uma vida de libertino até aos trinta anos, mas quando abriu os olhos, sentiu tamanha vergonha que se converteu, abandonou os prazeres e as loucuras da mocidade, se tornou sacerdote, bispo, Santo, e célebre doutor da Igreja.
O mesmo aconteceu a Santo Inácio de Loiola, que com trinta anos se aborreceu da vida até então tida: e com uma vontade resoluta foi correndo bater à porta de um convento, onde fez duras penitências; lavou as culpas passadas, e fundou a Ordem dos Jesuítas, de quem é glória e orgulho.
São Camilo de Lelis, da nobre família dos “Abbruzzi” muito jovem também se entrega aos divertimentos e aos prazeres mundanos, mas aos vinte e cinco anos toma o hábito e consagra a Deus e a Maria Santíssima a sua vida, em favor dos doentes e dos moribundos.
O quê diremos então de uma Madalena Penitente? De uma Pelágia, de uma Santa Margarida de Cartona, que de vasos de corrupção e de escândalo, transformaram-se em lírios celestes? A vontade resoluta foi suficiente para salvá-las.
Em segundo lugar, eliminar e afugentar as ocasiões. Aqui também os Santos nos ensinam.
Santo Tomás de Aquino, jovem elegante de família nobre, é fechado numa torre e ali é tentado por uma mulher infame. Não tendo outro meio de se livrar dela, pega no fogão um tição ardente e brandindo-o grita: “Saia, saia, ou eu a queimo”, consegue assim a fuga da tentadora sem escrúpulos.
São Francisco de Sales era também nobre e elegante. Quando aos dezoito anos estudava em Pádua, certa ocasião, uma moça dessas não muito sérias, aventurou-se a abraçálo maliciosamente. Quê fez então? Cuspiu na cara da impudica, dizendo-lhe: "Afasta-te missionária de Satanás".
O moço Dióscoro, depois de vencer todas as insídias dos inimigos de sua fé, foi amarrado numa cama de rosas, na impossibilidade completa de se livrar de quem o queria induzir a pecar. Recomendou-se a Deus, e, cortando a língua com os dentes, cuspiu no rosto da tentadora miserável que borrifada pelo sangue de um mártir, fugiu horrorizada, chorou e se converteu.
D. — Mas todos esses, Padre, eram Santos!...
M. — Naquele tempo ainda não o eram; tornaram-se santos depois de agirem como agiram. Todavia mesmo sem ser santos podemos e devemos ser corajosos: basta ser cristão: Ouve isto:
Uma jovem que eu conheço, devolveu em envelope fechado um cartão a um soldado libertino, dizendo-lhe: “Isso é indigno de mim como cristã e indigno de ti, como soldado”. Outra moça, em resposta a certas cartas libertinas do noivo, escreveu-lhe: “Nunca me casarei com um homem desonesto! Desde hoje, está tudo acabado entre nós dois”.
O amor, ou seja, o vício, tansformar-se-á bem cedo em veneno que castiga terrivelmente.
Não fez muito tempo que, em Turim, no aperto da plataforma de um bonde, um “almofadinha”, lascivo tomou certas liberdades com uma mocinha direita. A moça virou-se desdenhosa e, sem mais, aplicou-lhe no rosto uma valente bofetada, dizendo bem alto:
Deseja saber a razão disso?
— Muito obrigado, não é preciso, responde o desastrado que desceu apressado, com o lenço no nariz.
D. — Muito bem! Essa moça merece uma medalha!
M. — Uma medalha igual merece esta, que eu também conheço:
Certa ocasião, um sujeito sem educação sussurrou-lhe no ouvido não sei qual trivialidade. Sem perda de tempo, a moça deu-lhe dois bofetões sonoros, acrescentando: “Estarei sempre pronta para repeti-los”.
D. — Muitíssimo bem feito! Se todas se comportassem assim ficariam logo livres dos zangões, não é, Padre?
M. — Isso mesmo! E os que não são zangões ficariam livres dos pernilongos, ou seja, de certas moças sem pudor.
Do ócio também devemos fugir. Ai dos ociosos: é justamente nos momentos de ócio que o demônio impuro intensifica os seus assaltos e aumenta suas vítimas.
D. — Então o demônio também tem que ser tratado com cuspidas e bofetões?
M. — Justamente! E em terceiro lugar, para nos poder-mos livrar das impurezas, é necessária a “freqüência dos sacramentos”: a confissão semanal, cada duas semanas ou pelo menos mensal e a Comunhão o mais freqüente possível.
Nos Sacramentos o demônio impuro é desmascarado e vencido. Não há nada que ele tema mais porque nada lhe é mais fatal. "É impossível, diz São Felipe Nérie com ele D. Bosco, é impossível que quem freqüente bem a Confissão e a Comunhão, continue a cometer impurezas!”
O mundo não pode crer na castidade de tantos milhares de sacerdotes, freiras e religiosos: não se convence de que essa flor da juventude possa conservar-se pura e casta no meio de tão grande corruptela; mas sabe por quê? Porque o mundo não compreende a força dos Sacramentos: porque não sabe ou não quer saber que todos eles se purificam com freqüência no Sangue de Jesus com a Confissão, e, ainda mais frequentemente, se nutrem do seu Corpo santíssimo na Comunhão.
Há poucos anos, um jovem advogado disse em tom de brincadeira a um amigo sacerdote:
— Eu acredito na sua fé, admiro a sua abnegação, mas não posso acreditar na sua honestidade, no celibato! O zeloso sacerdote tocado num ponto assim tão delicado respondeu:
— Pois bem, experimenta e verás.
— De que jeito?
— Freqüenta a Confissão e a Comunhão.
Mudaram de conversa, mas voltaram ao mesmo assunto muitas vezes e ao cabo de seis meses o advogado elegante trocava a toga de tribuno pelo hábito de seminarista. Em menos de um ano tornou-se sacerdote e é agora excelente pregador e defensor infatigável da honestidade e do celibato eclesiástico. Experimentou e foi vencido por esses Sacramentos miraculosos.
D. — Padre, a honestidade, ou seja, a pureza, traz consigo vantagens?
M. — Muitas e nobilíssimas: a pureza é como um lírio que se eleva acima de todas as flores pelo perfume e pelo candor; ela nos torna senhores dos tesouros de Deus. O homem puro e honesto sente-se e mostra-se sempre tranqüilo: não teme suspeitas e calúnias; não se sente ligado nem escravo de outras pessoas; goza de uma paz íntima, inestimável. Sua vida é plácida e serena a sua morte. Tem imensa esperança, isto é, tem a certeza da salvação eterna: o seu prêmio, o seu gozo no Paraíso são de todo especiais. Termino com um exemplo histórico:
O célebre músico Mozart aos vinte e cinco anos, tinha atingido o apogeu da sua glória. No dia 27 de Janeiro de 1881, completava justamente vinte e cinco anos e, achando-se em Milão, onde foi acolhido triunfalmente, pôde dizer à assembléia que o festejava estas palavras textuais:
“Juro diante de Deus que, em toda a minha vida, nunca cometi ato nenhum contra a pureza, eis o segredo dos meus sucessos e dos meus triunfos...’’ Sentia-se puro e, sentia-se grande. Quantos haverá que podem dizer o mesmo?!