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Conhecimento mais profundo de Deus e temor da alma.

 

Oh, meu Jesus, nada melhor para a alma do que a humilhação. No desprezo está o segredo da felicidade. Quando a alma conhece que, por si mesma, é nada e miséria e que tudo o que tem de bom em si é apenas dom de Deus; quando a alma percebe que tudo lhe foi dado gratuitamente, e que dela é só a miséria, isso a mantém em contínua humildade diante da majestade de Deus, e Deus, vendo a alma em tal disposição, persegue-a com Suas graças. Quando a alma aprofunda-se no abismo da sua miséria, Deus utiliza a Sua onipotência para enaltecê-la. Se existe na terra uma alma verdadeiramente feliz, é apenas a alma verdadeiramente humilde. De início, sofre muito com isso o amor próprio, mas Deus, após o corajoso combate, concede à alma muitas luzes, pelas quais ela conhece como tudo é desprezível e cheio de ilusão. Apenas Deus está no coração dela. A alma humilde não confia em si mesma, mas põe toda a sua confiança em Deus. Deus defende a alma humilde e Ele mesmo se preocupa com os problemas dela, e então a alma permanece na maior felicidade, que ninguém poderá compreender. (Diário de Santa Faustina N°593)

 

No início, Deus se dá a conhecer como santidade, justiça, bondade, ou seja, misericórdia. A alma não conhece tudo isso de uma só vez, mas em iluminações sucessivas, ou seja, nas aproximações de Deus. E isso não dura muito, porque a alma não suportaria tanta luz. Durante a oração, a alma experimenta o brilho dessa luz, que a impossibilita de rezar como antes. Tal luz que tocou a alma permanece nela viva e nada consegue sufocá-la nem obscurecê-la. Essa centelha do conhecimento de Deus atrai a alma e a inflama de amor para com Ele. Mas, ao mesmo tempo, essa luz dá a conhecer a alma o que ela é e permite que ela se veja interiormente numa luz superior, e ela se levanta espantada e atemorizada. Contudo, não permanece nesse estado de temor, mas começa a purificar-se, humilhar-se e rebaixar-se diante do Senhor e essas iluminações tornam-se mais fortes e mais frequentes. Quanto mais a alma se cristaliza, tanto mais penetrantes são essas luzes. Se a alma respondeu fiel e corajosamente a essas primeiras graças, Deus a cumula de consolações, e une-se com ela de maneira perceptível. A alma entra então, por momentos, como que em intimidade com Deus e sente-se imensamente feliz. Acredita que já tingiu o grau de perfeição que lhe fora destinado, porque os erros e os defeitos nela estão adormecidos, e por isso pensa que já não os tem. Começa a mergulhar em Deus e a experimentar as delícias divinas. É levada pela graça e nem se dá conta de que pode vir o tempo da provação e de ser experimentada. E realmente esse estado não dura muito. Virão outros momentos, mas devo mencionar que a alma responde mais fielmente à graça de Deus se dispõe de um confessor iluminado, a quem tudo possa confidenciar. (Diário de Santa Faustina Nº 95)

 

† Provações divinas na alma especialmente amada por Deus. Tentações e trevas, satanás.

 

O amor da alma não é ainda tal como Deus o exige. A alma repentinamente perde a percepção da presença de Deus. Surgem nela diversos erros e defeitos, contra os quais deve travar uma luta brutal. Todos os seus erros se reavivam, apesar de sua vigilância ser grande. No lugar da anterior presença de Deus surgem a tibieza e a aridez espiritual; a alma não sente gosto nos exercícios espirituais, não consegue rezar, nem como antigamente, nem como rezava ultimamente. Agita-se por todos os lados e não encontra satisfação. Deus se escondeu diante dela, e ela não encontra conforto nas criaturas e nenhuma criatura consegue consolá-la. A alma deseja ardentemente a Deus, mas vê a própria miséria; começa a sentir a justiça de Deus. Parece-lhe ter perdido todos os dons de Deus. A sua mente encontra-se como que obscurecida. As trevas a invadem num tormento indizível. A alma procura explicar o seu próprio estado ao confessor, mas não é compreendida. Cai em inquietações ainda maiores. Satanás inicia a sua trama. (Diário de Santa Faustina Nº 96)

 

A fé fica exposta ao fogo, a luta é feroz; a alma faz esforços, persevera pelo ato de vontade junto a Deus. Satanás, com a permissão de Deus, avança ainda mais; a esperança e o amor são provados. São terríveis essas tentações. Deus sustém a alma como que em segredo — não tendo ela disso consciência — pois de outra forma não conseguiria resistir. E Deus sabe até que ponto pode prová-la. A alma sofre a tentação da descrença quanto às verdades reveladas, e da insinceridade diante do confessor. Satanás lhe diz: “Olha, ninguém te compreenderá, para que falar de tudo isso?”. Ressoam-lhe aos ouvidos palavras que a atemorizam e parece-lhe que as pronuncia contra Deus. Vê o que gostaria de não ver; ouve o que não quer ouvir. E é terrível, em momentos como estes, não ter um confessor experiente. A alma carrega sozinha todo o peso, mas na medida de suas possibilidades deveria procurar um confessor iluminado, porque pode desfalecer sob esse peso e isso costuma acontecer à beira do abismo. Todas essas provações são pesadas e difíceis. Porém, Deus não permite que elas atinjam uma alma que anteriormente não tenha sido admitida para uma mais profunda convivência com Ele e que não tenha experimentado as doçuras divinas. Além disso, Deus tem aí Seus desígnios, para nós insondáveis. Frequentemente, é assim que Deus prepara a alma para futuros projetos e grandes obras. E quer prová-la como se prova o ouro puro; mas isso ainda não é o fim da prova. Existe ainda a provação maior de todas — isto é, o completo abandono por parte de Deus. (Diário de Santa Faustina Nº 97)

 

† A prova das provas - Abandono absoluto — desespero

 

Quando a alma sai vencedora das provações anteriores, ainda que possa tropeçar, luta corajosamente e, com profunda humildade, clama ao Senhor: “Salvai-me, porque estou perecendo”. — Mas continua a ser capaz de lutar. Agora a alma é envolvida por trevas terríveis. A alma vê em si apenas pecados. O que sente é terrível. Vê-se totalmente rejeitada por Deus, sente como se fosse objeto de Seu ódio e encontra-se a um passo do desespero. Defende-se como pode, procura despertar a confiança, mas a oração é para ela um tormento ainda maior, parece-lhe que está provocando Deus a uma mais intensa ira; encontra-se [como que] colocada num cume altíssimo, à beira de um precipício. A alma tenta agarrar-se fervorosamente a Deus, mas sente-se rejeitada. Todos os tormentos e suplícios do mundo nada são em comparação com esse sentimento no qual ela está completamente submersa — isto é, o de ser rejeitada por Deus. Ninguém pode trazer-lhe alívio. Vê que está sozinha; não tem ninguém para defendê-la. Eleva os olhos para o céu, mas sabe que o céu não é para ela — para ela tudo está perdido. Das trevas cai em trevas ainda maiores, parece-lhe que perdeu a Deus para sempre, a esse Deus a quem tanto amava. Um tal pensamento lança a alma num sofrimento indescritível. Contudo, ela não se conforma com isso, tenta olhar para o céu, mas em vão — isso lhe provoca um tormento ainda maior. (Diário de Santa Faustina Nº 98)

 

Ninguém consegue iluminar uma alma assim, se Deus a quiser manter nas trevas. Ela se sente rejeitada por Deus de maneira viva e terrificante. Do seu coração elevam-se gemidos de dor e tão pungentes que nenhum sacerdote poderá compreendê-los, a não ser que ele mesmo tenha passado por isso. Nesse estado, a alma ainda tem que suportar sofrimentos provenientes do espírito do mal. Satanás escarnece dela: “Estás vendo, vais continuar fiel? Eis o teu pagamento, estás em nosso poder”. Porém satanás tem sobre essa alma tanta influência quanta Deus permitir, Deus sabe quanto podemos suportar. [O maligno prossegue:] “E o que adiantou teres te mortificado? E o que adiantou seres fiel à regra? Para que todos esses esforços? Deus te rejeitou”. Essa palavra “rejeitou” transforma-se em fogo que transpassa cada nervo até a medula dos ossos; transpassa todo o ser. Aproxima-se o maior momento de provação. A alma já não procura ajuda em parte alguma, mergulha em si mesma e não vê nada diante de seus olhos e parece quase se conformar com esse sofrimento de ser rejeitada. É um momento que não consigo expressar. É a agonia da alma. Quando esse momento começou a aproximar-se de mim pela primeira vez, dele fui arrancada somente pela virtude da santa obediência. A mestra assustou-se quando me viu e enviou-me ao confessor, mas o confessor não me compreendeu, e não senti nem sombra de alívio. Ó Jesus, dai-nos sacerdotes experientes. Quando disse que estava sofrendo suplícios infernais na minha alma, respondeu-me que se sentia tranquilo quanto à minha alma, porque estava vendo nela uma grande graça de Deus. Mas eu não compreendi coisa alguma e nem um raio de luz entrou na minha alma. (Diário de Santa Faustina Nº 99)

 

Agora já começo a sentir a falta das forças físicas e já não posso dar conta dos meus deveres. Já não posso também esconder os meus sofrimentos e, embora não diga nenhuma palavra sobre o que estou sofrendo, atraiçoa-me a dor que se reflete no meu rosto. A superiora me contou que as irmãs vão até ela e dizem que, quando na capela me olham, sentem compaixão de mim, tão terrível é o meu aspecto. Todavia, apesar dos esforços, a alma não tem condições de esconder esse sofrimento. (Diário de Santa Faustina Nº 100)

 

Jesus, só Vós sabeis como a alma geme nesses suplícios, envolvida pelas trevas, e, no entanto, deseja a Deus e anseia por Ele, como os lábios ressequidos [anseiam] pela água. Ela morre e resseca, morre de uma morte sem morte, isto é, não pode morrer. Os seus esforços nada significam; encontra-se sob uma mão poderosa. Agora, a alma encontra-se já em poder do Justo: cessam todas as tentações exteriores, cala-se tudo que a circunda, da mesma forma que para o agonizante desvanece tudo o que o cerca. A sua alma inteira está exposta ao poder do Deus justo e três vezes Santo. — Rejeitada pelos séculos. — Esse é o momento culminante, e somente Deus pode provar a alma dessa maneira, porque somente Ele sabe o que ela pode suportar. Quando a alma fica totalmente impregnada desse fogo infernal, precipita-se como que no desespero. A minha alma passou por esse momento quando me encontrava sozinha na cela. Quando a minha alma começou a mergulhar no desespero, senti que começava a agonizar; apesar disso, agarrei-me ao meu pequeno crucifixo e o apertei nas mãos convulsivamente. Era como se o meu corpo se separasse da alma e, embora quisesse ir falar com as superioras, já não tinha forças físicas; pronunciei as últimas palavras: “Confio na Vossa misericórdia!” — e pareceu-me que havia levado Deus a uma cólera ainda maior. Mergulhei no desespero; só de vez em quando escapava da minha alma um gemido doloroso, um gemido inconsolável. Estava agonizando. E parecia-me que já permaneceria nesse estado, porque com minhas próprias forças não sairia dele. Cada lembrança de Deus era um mar de sofrimentos indescritíveis. E, no entanto, há alguma coisa na alma que busca a Deus com insistência, mas parece que é apenas para ela sofrer mais. A recordação do antigo amor, com que Deus a cercava, era para ela um novo gênero de tormento. O olhar de Deus a atravessa e tudo é queimado na alma por esse olhar. (Diário de Santa Faustina Nº 101)

 

Foi um longo momento, até quando uma das irmãs entrou na cela e me encontrou quase morta. Assustou-se e foi chamar a mestra, a qual ordenou que, por força da santa obediência, eu me levantasse do chão. Imediatamente voltaram minhas forças físicas e levantei-me do chão, toda tremendo. A mestra percebeu logo o estado da minha alma, falou-me da insondável misericórdia de Deus, dizendo-me: “Irmã, não se perturbe seja com o que for; e ordeno-lhe isto pela virtude da obediência”. E acrescentou: “Agora reconheço que Deus está destinando a irmã para um alto grau de santidade. O Senhor quer ter a irmã perto de Si, já que permite tais provas e tão cedo. Que a irmã seja fiel a Deus, porque isto é sinal de que deseja lhe reservar um elevado lugar no céu”. — Eu, porém, não compreendia nada daquelas palavras. (Diário de Santa Faustina Nº 102)

 

Quando entrei na capela, senti como se a minha alma fosse completamente purificada, como se acabasse de sair das mãos de Deus; senti, então, a pureza inviolável da minha alma e senti-me como uma criancinha. Então, de repente, vi interiormente o Senhor, que me disse: Não tenhas medo, Minha filha, Eu estou contigo. Nesse preciso momento dissiparam-se todas as trevas e angústias, os sentidos foram inundados de indizível alegria, as faculdades da alma repletas de luz. (Diário de Santa Faustina Nº 103)

 

Ainda quero mencionar que, embora a minha alma já estivesse sob os raios do Seu amor, no meu corpo ficaram ainda por dois dias os vestígios do tormento passado. O rosto mortalmente pálido e os olhos ensanguentados. Só Jesus sabe o quanto tinha sofrido. Comparado com a realidade, aquilo que escrevi parece sem expressão. Não sei expressá-lo, parece que voltei do outro mundo. Experimento agora uma aversão a tudo que é criado. Aconchego-me ao Coração de Deus como uma criança ao peito da mãe. Vejo tudo com outros olhos. Estou consciente do que o Senhor fez na minha alma com uma só palavra, e por ela vivo. Tremo só de me lembrar dos tormentos passados. Não teria acreditado que se pode sofrer tanto, se eu mesma não tivesse passado por isso. — É um sofrimento inteiramente espiritual. (Diário de Santa Faustina Nº 104)

 

Todavia, em todos esses sofrimentos e lutas, eu não faltava à santa Comunhão. Quando achava que não devia comungar, procurava a mestra, antes da Comunhão, e dizia-lhe que não podia comungar — parecia-me que não deveria comungar. Ela, no entanto, não me permitia deixar a santa Comunhão; e eu comungava e vi que somente a obediência me salvava. Foi a própria mestra que me disse mais tarde que essas minhas provações passaram depressa justamente porque a “irmã foi obediente. É só pelo poder da obediência que a irmã superou tudo isso com tanta coragem”. — Na verdade foi o próprio Senhor quem me tirou desse tormento, mas a fidelidade à obediência Lhe foi agradável. Embora sejam coisas pavorosas, nenhuma alma deve assustar-se demasiadamente com elas, porque Deus não nos submete a provas que estejam acima das nossas forças. (Diário de Santa Faustina Nº 105)

 

E, por outro lado, talvez Ele nunca permita que soframos tais suplícios. Escrevo isso para que, se Deus houver por bem conduzir alguma alma por (50) semelhantes suplícios, que não tenha medo, mas seja fiel a Deus em tudo, na medida em que isso depender dela. Deus não causará dano à alma, pois é o próprio Amor, e foi nesse amor inconcebível que a chamou à existência. (Diário de Santa Faustina Nº 106)

 

Mas eu, quando estava nessas aflições nada compreendia. Ó meu Deus, conheci que não sou desta terra; o Senhor infundiu tal consciência na minha alma em alto grau. A minha permanência é mais no céu do que na terra, embora eu em nada descuide das minhas obrigações. (Diário de Santa Faustina Nº 107)

 

Nesse período não tinha um diretor espiritual e não recebia qualquer tipo de orientação. Eu pedia ao Senhor — mas Ele não me dava um diretor. O próprio Jesus é o meu Mestre desde a minha infância até agora. Conduziu-me através de todos os desertos e perigos, e reconheço claramente que somente Deus me poderia ter conduzido por um tão grande perigo sem nenhum dano e sem nenhuma perda, deixando a minha alma imune e fazendo-me vencer todas as dificuldades, mesmo as mais inconcebíveis. Saí.... Todavia, mais tarde, o Senhor deu-me um diretor. (Diário de Santa Faustina Nº 108)

 

Conselho do padre Dr. Sopoćko. “Sem humildade não podemos agradar a Deus. Exercite-se no terceiro grau da humildade, isto é, não só não tente se explicar e justificar, quando a acusarem de alguma coisa, como alegre-se com a humilhação. Se essas coisas que estás dizendo procedem verdadeiramente de Deus, prepare a tua alma para grandes sofrimentos. Terás que enfrentar a incompreensão, a perseguição — olharão para ti como para uma histérica, excêntrica, mas Deus não poupará a Sua graça. As verdadeiras obras divinas sempre encontram dificuldades e caracterizam-se pelo sofrimento. Se Deus quer alguma coisa, mais cedo ou mais tarde a realizará; tu, no entanto, arma-te de grande paciência”. (Diário da irmã Faustina N°270)

 

Jesus concedeu-me que me conhecesse a mim mesma. Nessa luz divina vejo o meu defeito principal — isto é, o orgulho que se manifesta no fechamento em mim mesma, a falta de simplicidade no relacionamento com a madre superiora. A segunda luz — foi sobre o falar. Algumas vezes falo demais. Gasto tempo demais para resolver um assunto que poderia ser resolvido em duas ou três palavras. Mas Jesus deseja que eu utilize esse tempo para fazer orações com indulgências pelas almas que sofrem no purgatório. E Ele me garantiu que cada palavra será pesada no dia do Juízo. A terceira luz — diz respeito às nossas regras. Evito pouco as ocasiões que levam à transgressão das regras, especialmente a do silêncio. Procederei como se a regra tivesse sido escrita apenas para mim; não é dever meu ver como os outros se comportam, mas que eu proceda como Deus deseja. Propósito: Contar logo às superioras qualquer coisa que Jesus exija de mim na vida externa. Na convivência com a superiora procurar ser franca e sincera como uma criança. (Diário da irmã Faustina N°274)