DA MANEIRA DE OFERECER A SANTA MISSA E DO VALOR DA OBLAÇÃO.
( Oblação significa, ação pela qual se oferece alguma coisa a Deus. Oferecimento. )
Por Pe. Martinho de Cochem
Caro leitor, lê neste capítulo com grande atenção; grava-o, profundamente, em tua memória, segue os conselhos que encerra e tirarás, do santo Sacrifício, imenso proveito.
Já ficou dito que a santa Missa, único sacrifício do cristianismo, é um ato de adoração, uma oferta divina. O grande Sacerdote, o verdadeiro Sacrificador, é Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois dele vem o celebrante, o instrumento que lhe empresta as mãos e a boca. Em terceiro lugar, vêm os assistentes, que mandam celebrar a santa Missa, os que oferecem os objetos necessários ao culto, enfim, todos os que, impedidos por ocupações de assistir, se unem, espiritualmente, aos assistentes.
Todos oferecem, em certo sentido, a divina Vítima e participam dos frutos desta preciosa oferta. Sem a oblação do divino Sacrifício nem mesmo ouvirias a santa Missa como deves: porque ouvir a Missa não é somente assisti-la, é oferecer o Sacrifício em união com o sacerdote e pelas mãos do sacerdote. Por conseguinte, os fiéis que, na santa Missa, se entregam a toda sorte de devoções particulares, sem se ocuparem da oblação do santo Sacrifício, privam-se de um número infinito de graças.
Não acharás, certamente, inútil que te expliquemos, minuciosamente, a maneira de oferecer a Deus o santo Sacrifício.
Supõe que uma pessoa recite, devotamente, muitos terços, oferecendo-os a Jesus Cristo e à sua Santíssima Mãe, enquanto outra pessoa assiste a uma só Missa, oferecendo-a. Qual das duas, pensas, dará mais e será, mais profusamente, recompensada? Sem dúvida, a segunda. Pois, que oferece a primeira? Uma prece, muito santa, ensinada, na maior parte, por Jesus Cristo e por seu Anjo, mas que tem todo o valor da piedade pessoal da pessoa que reza, e fica, por conseguinte, muito imperfeita. Que se oferece, porém, na santa Missa? Um dom absolutamente sobrenatural, perfeitíssimo, divino: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, suas lágrimas, sua morte, seus méritos.
Dir-me-ás, talvez: A pessoa que oferece os terços oferece um dom que ela própria adquiriu, ao passo que, na santa Missa, oferecem-se méritos que pertencem a Jesus Cristo. Afirmamos, porém, de novo: Aquele que oferece a santa Missa, oferece um bem próprio, porque, pelo Sacrifício não cruento da santa Missa, recebem os frutos do Sacrifício cruento na Cruz.
Que imenso favor, pois, é aquele com que o Senhor te enriquece, quando, na santa Missa, te constitui, espiritualmente, sacerdote e te concede o poder de oferecer a Deus, seu Pai, segundo a maneira dos sacerdotes, não só por ti, como pelos outros. É neste sentido que o celebrante diz depois do "Sanctus": "Lembrai-vos, Senhor, dos vossos servos e servas e de todos os circunstantes, pelos quais vos oferecemos, e eles mesmos vos oferecem este sacrifício de louvor por si e por todos os seus amigos, benfeitores, vivos e mortos".
Para esta cooperação, o sacerdote já convidou os fiéis no "Orate fratres", dizendo: "Orai, meus irmãos, para que meu sacrifício, que é também o vosso, seja agradável a Deus Padre todo poderoso".
Em outras palavras: Este sacrifício vos pertence tanto quanto a mim, é tanto obra vossa quanto minha; peço-vos que me ajudeis a oferecê-lo.
Depois da "Elevação do cálice", o sacerdote diz: "Portanto, Senhor, nós, teus servos e teu povo santo, oferecemos à tua gloriosa Majestade, de teus mesmos dons e benefícios, esta Hóstia pura, Hóstia santa, Hóstia imaculada. Pão santo da vida eterna, Cálice da salvação perpétua".
Tua cooperação pela oblação é, pois, muito real, o celebrante conta com ela. Se não lhe aceitares o convite e não unires a voz e o coração à sua ação, enganá-lo-ás em sua expectativa e a ti mesmo, privando-te do benefício da oblação.
"Aqueles, diz o bispo Fornero de Hebron, que deixam de oferecer a santa Missa por si e pelos seus, privam-se dum imenso benefício". É, pois, igualmente um ato de injustiça para contigo mesmo faltar à Missa ou não oferecê-la quando a assistires. O oferecimento é a melhor das práticas; quanto mais o renovares, mais alegrarás o céu, maior número de dívidas pagarás, maior glória futura adquirirás.
Dizer a Deus: Eu te ofereço, significa na Missa: Eu te pago, com o ouro dos merecimentos de Jesus Cristo, o resgate de meus pecados, os bens celestes, o livramento das almas do purgatório.
É verdade que se pode dizer, fora da santa Missa, a qualquer hora e com muita vantagem: "Senhor, eu te ofereço o caro Filho, te ofereço sua dolorosa Paixão e Morte, seus méritos". Entretanto, esta oblação não é senão espiritual, enquanto que, na santa Missa, é real. Aí Jesus Cristo está, realmente, presente e com ele suas virtudes e seus méritos; aí se imola de novo e renova sua Paixão e sua Morte, nos dá seus méritos, a fim de que os ofereçamos a seu Pai celeste.
Santa Mechtildes ouviu, uma vez, durante a santa Missa, Nosso Senhor lhe falar desta forma: "Concedo-te meu amor divino, minha oração e minha Paixão, a fim de que possas mas oferecer por tua vez. Dai-mas, eu tas restituirei multiplicadas, e, toda vez que mas ofereceres, novamente as duplicarei. É assim que o homem recebe o cêntuplo no tempo e uma glória infinita na eternidade" (Lib. Revelation I, cap. 14).
Entre todas as orações da santa Missa, diz Sanchez, nenhuma é mais consoladora do que a que se segue à elevação do cálice, quando o sacerdote oferece ao Pai celeste o "Cordeiro" imaculado, dizendo: "Senhor, nós, que somos vossos servos e vosso povo santo, oferecemos à vossa sublime Majestade a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, etc.". Chama o povo, isto é, os assistentes, santos, porque são santificados pela santa Missa, conforme a palavra de Jesus Cristo: "Eu me santifico por eles, a fim de que sejam santificados na verdade" (Jo. 22, 19).
Ele os santifica pela "aspersão do sangue divino", como diz o Apóstolo São Paulo (Heb. 13, 12).
Quão preciosa é a Hóstia pura, santa, sem mácula! É a carne puríssima, a alma santíssima, o sangue imaculado de Jesus! A que pode se comparar esta oferta, se a terra inteira não é senão um grão de poeira ao seu lado! Que dizemos? A imensidade do céu nada contém de mais precioso. O que dás ao Deus onipotente, oferecendo esta Hóstia, é o dom perfeitamente digno de sua Majestade infinita, é seu Filho com sua humanidade santa, é o próprio Deus!
Se todos os súditos de um monarca poderoso oferecessem a seu soberano, em testemunho de seu amor e fidelidade, por embaixadores escolhidos, uma taça artística do ouro mais puro, ornada de pedras preciosas de inestimável valor, a satisfação e o reconhecimento do príncipe seria, sem dúvida, muito grande. Se porém, esta taça contivesse uma jóia do valor de um reino, a admiração e alegria do rei seriam ainda mais profundas. Na santa Missa, porém, oferecemos ao Altíssimo a humanidade de Jesus Cristo, isto é, o que sua mão onipotente criou de mais excelente e mais sublime. Eis a taça preciosa; a jóia de um valor incomparável que encerra, é a divindade do Salvador; é nele que "reside a plenitude da divindade" (Col. 2, 9).
Propriamente falando, não é a divindade, mas a humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que oferecemos à adorável Trindade; as duas naturezas, porém, são estreitamente unidas, e nunca realmente separadas, de sorte que as oferecemos juntas. Que satisfação para o Pai eterno quando recebe de tuas mãos este dom incomparável, aquele do qual disse: "É meu Filho predileto em quem pus todas as minhas complacências!" (Mt. 3, 17). Avalia a recompensa que te espera em troca, e a soma de dívidas que pagas por esta preciosa oferta.
Henrique I, rei da Inglaterra, ouvia, todos os dias, três Missas, ajoelhado ao pé do altar. Chegado o momento da consagração, aproximava-se do celebrante e sustentava-lhe os braços durante a elevação do Corpo e Sangue de Nosso Senhor. Era a maior consolação do piedoso monarca. Se houvesse ainda este piedoso costume, qual não seria a tua pressa em tomar lugar junto ao sacerdote! Deus se contenta, porém, com teu desejo, dize-lhe somente do íntimo do coração: "Senhor, ofereço-vos vosso caro Filho pelas mãos do sacerdote". Deus muito bem saberá interpretar-te a intenção.
A oferta da santa Hóstia é preciso unir a do preciosíssimo Sangue. É um meio excelente de salvar as almas. Lê-se, na vida de Santa Maria Madalena de Pazzi, que o próprio Senhor a instruíra neste assunto, fazendo-lhe conhecer quanto a oferta de seu precioso Sangue é própria para apaziguar a cólera de Deus. O divino Salvador se queixava do pequeno número dos que trabalham para acalmar a Justiça de seu Pai celeste, e exortava a santa a aplicar-se a isto. Desde então, ela oferecia o preciosíssimo Sangue até cinqüenta vezes por dia, pelos vivos e pelos mortos; e seu celeste Esposo lhe mostrou, muitas vezes, as almas que tirava do purgatório por este meio.
"Quando ofereces o precioso Sangue ao Pai celeste, diz a mesma Santa, lhe ofereces um dom tão agradável, que ele se reconhece teu devedor". Como efeito, que haverá, no céu e sobre a terra, que iguale, em valor, o precioso Sangue, do que diz São Tomás de Aquino, uma só gota vale mais que um mar de Sangue dos Mártires; do qual uma só gota seria assas poderosa para purificar o mundo de todos os pecados. Por conseguinte, se, em troca da oferta do precioso Sangue, Deus te concede o céu, não te retribui um bem de igual valor.
Se tivesses presenciado a crucificação do divino Salvador e recolhido o Sangue adorável que lhe corria das chagas sagradas, e tivesses elevado este precioso Sangue ao céu, implorando misericórdia para ti e para o gênero humano, o Pai celeste ter-se-ia enternecido, sem dúvida; todos os teus pecados teriam sido perdoados. Ora, é isto que fazes quando, durante a santa Missa, ofereces o precioso Sangue ao Deus altíssimo.