DA PRECE DO SACERDOTE E DOS ANJOS PELOS QUE OUVEM A SANTA MISSA.
Por Pe. Martinho de Cochem
É uma queixa geral, entre as pessoas piedosas, de serem perseguidas pelas distrações durante a oração.
Para isso, não conhecemos remédio melhor que a freqüente assistência à santa Missa, onde nossa pobre oração se une à de Jesus e a de seu sacerdote. Do mesmo modo que uma moeda de cobre se torna bela e brilhante, quando imersa no ouro em fusão, nossa oração, fraca e distraída, torna-se, por esta maneira, atenta e fervorosa.
Por isso disse o sábio e piedoso bispo Fornero: "A oração feita na Missa, em união com o Sacrifício, é mais eficaz do que todas as outras, embora cheias de fervor perfeito e longa duração".
Exporemos, neste capítulo, a razão de tão consoladora doutrina.
O sacerdote que celebra deve orar não somente pelos fiéis em geral e oferecer o Sacrifício por sua salvação, mas é ainda obrigado a orar, particularmente, pelos assistentes e apresentar-lhes as súplicas ao Altíssimo. Assim a oração do começo, chamada "Coleta" e a "Secreta" que se segue ao Ofertório, a "Post-Comunhão", e, em geral, todas as orações em que o pedido é feito em nome de muitos, são ditas pelos assistentes, por ti, portanto, se és do número deles, e te são proveitosas como se estivesses só na igreja com o sacerdote.
A fim de que saibas, minuciosamente, as orações em que tens parte oficial, vamos enumerá-las umas após outras.
Ao começar a santa Missa, o ministrante recita o "Confiteor", em nome do povo, sobre o qual o sacerdote pronuncia a absolvição seguinte: "O Senhor onipotente se compadeça de vós, e, perdoados os vossos pecados, vos conduza à vida eterna! Assim seja". Em seguida, subindo ao altar, continua: "Apagai, Senhor, Vos suplicamos, nossas iniqüidades, para que mereçamos, com pureza, entrar no lugar santo. Por Cristo Senhor Nosso. Amém".
Ao "Kyrie", que é um grito, um pedido de socorro à Santíssima Trindade; ao "Glória in excelsis", como também à "Coleta", o sacerdote fala em seu nome e no teu. Saúda a assembléia, reunida ao redor do altar, com a santa saudação: "Dominus vosbiscum - o Senhor esteja convosco!" Era a saudação do Anjo a Gedeão; de Booz aos ceifadores; do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem. Por estas palavras, oito vezes repetidas, o sacerdote deseja salvação e bênção ao povo, porque, se Deus está conosco, que pode nos faltar?
Ao "Credo" pronuncia, em seu nome e em nome dos fiéis, a confissão da fé católica, em que desejamos todos viver e morrer.
"A oblação do pão" diz: "Recebei Pai Santo, onipotente e eterno Deus, esta Hóstia imaculada que eu, indigno servo, vos ofereço, meu Deus vivo e verdadeiro, por todos os meus inumeráveis pecados e ofensas e negligências, por todos os presentes, e por todos os fiéis cristãos, vivos e defuntos, para que a mim e a eles aproveite e seja a salvação na vida eterna. Amém".
Quando deita a água e o vinho no cálice, diz: "Deus, que criaste, maravilhosamente, a dignidade da humana natureza e, mais admiravelmente, a reparaste, concede-nos, por este mistério da água e do vinho, que sejamos consortes da divindade daquele que se dignou de fazer-se partícipe de nossa humanidade, Jesus Cristo, teu Filho, Senhor nosso que contigo reina na unidade do Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos séculos. Amém".
A "oblação do cálice", o sacerdote diz: "Oferecemos-te, Senhor, o cálice da salvação, rogando-te a clemência, para que suba à presença da divina Majestade o suave perfume, por nossa salvação e de todo o mundo".
Depois do "Lavabo", diz o sacerdote, inclinando-se: "Recebei, Santíssima Trindade, esta oblação que te oferecemos em memória da Paixão e Ressurreição e Ascensão de Jesus Cristo, nosso Senhor, e em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, do Bem-aventurado São João Batista, dos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, e de todos os Santos; para que lhes seja em honra e a nós em salvação, e estes, cuja memória celebramos na terra, se dignem de interceder por nós no céu. Pelo mesmo Cristo, Senhor nosso. Amém".
Voltando-se para o povo, continua: "Orai, irmãos, para que o sacrifício vosso e meu seja aceito por Deus onipotente"; e o ministrante responde: "Receba o Senhor o sacrifício de tua mão, para louvor e glória de seu nome e também para proveito nosso e de toda a sua santa Igreja".
A "Secreta", oração misteriosa, segue-se em voz baixa e, nela, o sacerdote reza também por todo o povo. Ordinariamente são três, outras vezes mais, nas grandes festas, uma apenas.
No "Prefácio", o sacerdote excita a assembléia a unir os louvores aos seus, dizendo: "O Senhor seja convosco. - Erguei os vossos corações! - demos graças ao Senhor, nosso Deus! - verdadeiramente é justo, conveniente e salutar que, sempre e em toda a parte, demos graças, Senhor santo, Pai onipotente, Deus eterno, porque, pelo Mistério do Verbo encarnado, resplandeceu, aos olhos de nossa mente, uma nova luz de tua claridade; de sorte que, enquanto conhecemos a Deus visivelmente, sejamos por ele arrebatados ao amor das cousas invisíveis. E por isso, com os Anjos e Arcanjos, com os Tronos e Dominações e com toda a milícia do celestial exército, cantemos o hino de tua glória, dizendo sem cessar: - Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos! Cheios estão o céu e a terra de tua glória. Hosana nas alturas! Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!"
Logo depois começa o "Cânon", parte da santa Missa que se reza em voz baixa, e da qual lembraremos somente o "Memento" pelos vivos: "Lembrai-vos, Senhor, de vossos servos e servas N. N. ..... e de todos os circunstantes, cuja fé e devoção vos são conhecidas, pelos quais vos oferecemos este sacrifício de louvor, por eles e por todos os seus, pela redenção de suas almas, pela esperança de sua salvação e incolumidade, e vos tributam os votos, a vós, eterno Deus, vivo e verdadeiro".
Aprende, por estas palavras, a não te afligir, se tua pobreza te priva de mandar celebrar Missas. Aquela que ouves é oferecida em tua intenção pelo sacerdote que aplica o mérito também a ti e aos teus, segundo tua piedade e teu desejo.
O sacerdote continua: "Nós, que participamos duma mesma comunhão, honramos, em primeiro lugar, a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, e a dos Bem-aventurados Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo... e todos os Santos; pedimos que nos concedais, pelos seus merecimentos e rogos, que, em todas as cousas, sejamos defendidos pelo auxílio de vossa proteção. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém".
As mãos estendidas sobre a oferta, o sacerdote prossegue ainda: "Por isso vos pedimos, Senhor, que recebais, favoravelmente, esta nossa oferta, e de toda a Igreja; e que, enquanto vivermos, gozemos de vossa paz e, depois, sejamos livres da eterna condenação e contados entre o número de vossos escolhidos. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém".
Depois da "elevação", diz: "Portanto, Senhor, nós, teus servos e teu povo santo, lembrando-nos da Paixão de Cristo, teu Filho e Senhor nosso, de sua Ressurreição saindo vitorioso do sepulcro, e de sua gloriosa Ascensão aos céus; oferecemos à tua gloriosa Majestade, de teus mesmos dons e dádivas, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna, e o Cálice da salvação perpétua. Sobre estes dons te dignes lançar um olhar favorável e recebê-los benignamente, assim como recebestes as ofertas do justo Abel, teu servo, e o sacrifício de nosso patriarca Abraão, e o que te ofereceu o sumo sacerdote Melquisedec, santo sacrifício, Hóstia imaculada".
O sacerdote faz, depois, uma profunda reverência, humilhando-se diante de Deus, e continua: "Ó Deus onipotente, nós te suplicamos, com humildade profunda, que mandes levar estes dons pelas mãos de teu santo Anjo, a teu sublime altar, na presença de tua divina Majestade, para que todos nós que, participando deste altar, recebamos o sacrossanto Corpo e Sangue de teu Filho, fiquemos cheios de toda a graça e bênção celestial. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém".
Ao "Memento" dos defuntos, o sacerdote ora, em primeiro lugar, por todos os fiéis defuntos, depois por todos aqueles em cuja intenção celebra ou que lhe foram recomendados, e acrescenta: "E também a nós pecadores, que esperamos na multidão de tuas misericórdias, te dignes dar alguma parte e sociedade com teus santos Apóstolos e Mártires: com João, Estevão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Lúcia, Cecília, Anastácia, e com todos os santos, em cuja companhia te rogamos nos admitas generoso, não considerando nossos méritos, mas a tua indulgência. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém".
Em seguida, reza o "Padre-Nosso" por si, e acrescenta: "Livrai-nos, te rogamos, Senhor, de todos os males passados, presentes e futuros e, pela intercessão da gloriosa sempre Virgem Maria e de teus Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, de André e de todos os Santos, dá-nos benigno a paz em nossos dias; para que, ajudados com o socorro de tua misericórdia, vivamos sempre livres do pecado e seguros de toda a perturbação. Pelo mesmo Senhor nosso, teu Filho Jesus Cristo, que contigo vive e reina em unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém".
Depois faz a fração da sagrada Hóstia, dizendo: "Esta mistura e consagração do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, aproveite-nos para a vida eterna. Amém". - Inclinando-se então profundamente, diz três vezes: "Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós ... dai-nos a paz".
Depois da "Comunhão", seguem-se algumas orações que o sacerdote reza por si, mas, antes de abençoar os fiéis, diz ainda: "Agradável vos seja, Santíssima Trindade, o obséquio de minha servidão, fazei que este Sacrifício, que eu, indigno, Vos ofereci, aos olhos de vossa Majestade, seja aceito por Vós, e por vossa misericórdia se torne propiciatório para mim e todos aqueles por quem o ofereci. Por Cristo Nosso Senhor. Amém".
Enfim, o sacerdote te abençoa em nome de Jesus Cristo e de sua Igreja para que estejas preservado do mal durante o dia.
Eis as orações que o ministro de Deus diz em teu favor. Simples na aparência, têm, todavia, uma maravilhosa eficácia, pois são inspiradas pelo divino Espírito Santo, compostas e sancionadas pela santa Igreja. O sacerdote não as diz em seu nome, porém em nome de Jesus Cristo e de toda a cristandade, da qual é o representante. Com efeito, a santa Igreja, isto é, todos os fiéis enviam o sacerdote como seu representante ao altar e o encarregam de seus pedidos, para que os exponha a Deus, durante a santa Missa, e trate da felicidade eterna e temporal de todos os fiéis e, em particular também, da libertação das almas do purgatório.
As palavras deste sublime entretenimento acham-se ditadas e encerradas no missal pela própria Igreja; de maneira que, quando o sacerdote chega ao altar e se apresenta diante da divina Majestade, Deus não o considera mais como pecador, porém como embaixador da Igreja, como representante de seu Filho, do qual traz as vestes e as insígnias, e em nome do qual pronuncia as palavras da consagração: "Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue".
Nestas condições, sua oração vale junto a Deus tanto como a oração do próprio Jesus. E não somente ora o sacerdote, mas oferece também um dom, uma jóia de valor infinito: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Este dom, Deus não o pode repelir, nem recusar ao sacerdote os piedosos pedidos. Unamos, pois, nossa fraca oração à do sacerdote e assim tornar-se-á mais eficaz, mais nobre e obterá o que nunca obteríamos sozinhos.
Talvez perguntes:
Todas as santas Missas são igualmente boas?
- Antes de responder, dizemos que deves bem distinguir entre o sacrifício e a piedade de quem o oferece. O sacrifício, sem dúvida, é igualmente santo e agradável a Deus, tanto do bom como do mau sacerdote, pois quem é oferecido, em todas as Missas, é o próprio Jesus Cristo.
A celebração, isto é, a recitação das orações na santa Missa, porém, não é igualmente agradável a Deus em todas as Missas. Neste sentido, o maior ou menor agrado depende do fervor e da devoção do celebrante. O sacerdote bem o sabe e, por isso, pede em cada Missa, freqüentemente, a Deus as suas graças, e aos assistentes, que o ajudem com as orações, a fim de que seu sacrifício seja agradável a Deus onipotente. É o sentido do "Orate fratres": "Orai, irmãos", diz o sacerdote voltando-se para o povo, "para que o vosso sacrifício e o meu seja agradável a Deus onipotente".
São Boaventura escreve: "Todas as Missas são igualmente boas no que diz respeito ao divino Salvador, com relação ao celebrante, porém, há Missas melhores e menos boas".
O cardeal Bona acentua este pensamento, quando diz: "Quanto mais santo e agradável a Deus for o sacerdote, tanto mais agradável será o acolhimento reservado à sua oração e ao seu sacrifício e mais útil a sua Missa, porque se dá com a santa Missa o mesmo que se dá com as outras obras pias: os frutos obtidos são proporcionais ao fervor".
É certo que os Anjos estão presentes à santa Missa. A Igreja o afirma. O profeta real assim cantou: "Ordenou a seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos". Segue-se que os Anjos nos acompanham os passos. Quando, porém, nos dirigimos para o altar do Senhor, é, com mais alegria e maior satisfação, que desempenham o ofício, afugentando os maus espíritos que querem perturbar-nos a devoção, impondo-lhes silêncio ao cochichar dissipado que chamamos distrações.
Há, pelo menos, o mesmo número de Anjos presentes à santa Missa quanto de pessoas, visto que cada assistente tem seu Anjo da guarda, ajudando-o a orar e adorar a Jesus Cristo sobre o altar. Pede, pois, ao teu que ouça a santa Missa por ti e contigo, e sua oração inflamada suprirá as misérias da tua.
Além dos Anjos da guarda, príncipes da milícia celeste estão, igualmente, presentes no altar, porque ao Rei dos Anjos, descendo do céu, em pessoa, convém que seus ministros rodeiem e lhe prestem homenagens.
Assistindo à santa Missa, podemos, pois, dizer a Deus com o rei David: "Adorar-vos-ei, em vosso santo tabernáculo, cantarei vossos louvores, na presença dos espíritos celestes, e bendirei vosso santo nome" (Sal. 137). Está, portanto, ajoelhado no meio destes espíritos puros que ouvem a santa Missa contigo e oram, ardentemente, por tua salvação.
"Lembra-te, ó homem, diz São João Crisóstomo, junto de quem te achas, durante este misterioso Sacrifício. Estás entre Querubins e Serafins, entre as Potências celestes. Comporta-te, pois, de modo a não entristecê-los com a tua impiedade, pelo contrário, regozija-os com o teu fervor".
Quando o sacerdote celebra o sublime e temível Sacrifício, os Anjos assistem-no e, com coro, elevam a voz para cantar a glória daquele que se imola sobre o altar. Neste momento, não oram somente os homens, mas os próprios Anjos dobram os joelhos ante Deus e intercedem por nós, e esta oração dos Anjos, é mais poderosa do que a nossa. É o tempo propício, pois o santo Sacrifício está ao dispor destas potências celestes. Entretanto, unidos os nossos rogos aos dos Anjos, os nossos pedidos atravessam as nuvens e são mais facilmente ouvidos do que se tivéssemos orando em casa, sozinhos.
Os Anjos não somente estão presentes à santa Missa, como também oferecem ao Altíssimo o santo Sacrifício e as nossas orações. São João viu-os nesta sublime função e no-lo refere assim: "Veio, então, o Anjo e pôs-se ante o altar, trazendo um turíbulo de ouro; lhe foram dados muitos perfumes, a fim de que fizesse a oferta das orações de todos os Santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus. E a fumaça dos perfumes, emanados das orações dos Santos, subiu da mão do Anjo até a presença de Deus" (Apoc. 8, 3 e 4).
Assim os Anjos apressam-se em recolher-te as orações durante a santa Missa, para levá-las ao céu e espalhá-las como perfume, em presença de Deus. E, se estas orações são unidas às de Jesus Cristo e às dos Anjos, seu perfume é infinitamente agradável à divina Majestade e tem uma eficácia muito maior, que todas as orações feitas fora da santa Missa. Novo motivo, pois, para assistires, todos os dias, ao santo sacrifício, onde tão poderosos Anjos te esperam e transmitem-te os votos a Deus, vivificando-os com os seus santos ardores.