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Europa deve abrir-se a Deus
sem medo para ser iluminada pela verdade.

 

06.11.2010 - SANTIAGO DE COMPOSTELA. - Na homilia da Missa que presidiu esta tarde (hora local) na Praça do Obradoiro por ocasião do Ano Santo Compostelano, o Papa Bento XVI ressaltou a urgência de testemunhar o Evangelho, a Deus mesmo, com a própria vida em meio de um mundo que lhe deu as costas. Também animou a Europa a abrir-se novamente ao Senhor para viver iluminada pela verdade.

 

Diante de milhares de fiéis presentes, o Santo Padre comentou a primeira leitura sobre a coragem dos discípulos que davam testemunho de Cristo e ressaltou que "hoje nos corresponde seguir o exemplo dos apóstolos, conhecendo o Senhor cada dia mais e dando um testemunho claro e valente de seu Evangelho. Não há maior tesouro que possamos oferecer a nossos contemporâneos", com o qual se pode fazer realidade o que foi dito por São Paulo: "este tesouro o levamos em vasilhas de barro, para que se veja que essa força tão extraordinária é de Deus e não provém de nós".

 

Bento XVI explicou logo que o serviço aos irmãos é uma parte vital de quem quer seguir o Senhor, uma tarefa que "não se mede pelos critérios mundanos do imediato, o material e vistoso, mas porque faz presente o amor de Deus a todos os homens e em todas suas dimensões, e dá testemunho Dele, inclusive com os gestos mais singelos".

 

Depois de assinalar que esta mensagem é para todos, o Papa expressou seu desejo de fazê-lo chegar aos jovens: "precisamente a vós, este conteúdo essencial do Evangelho vos indica a via para que, renunciando a um modo de pensar egoísta, de curtos alcances, como tantas vezes vos propõem, e assumindo o do Jesus, possais realizar-vos plenamente e ser semente de esperança".

 

Referindo-se aos que realizam a peregrinação no Caminho de Santiago neste Ano Santo Compostelano, o Papa comentou que esta experiência abre as pessoas "ao mais profundo e comum que une aos humanos: seres em busca, seres necessitados de verdade e de beleza, de uma experiência de graça, de caridade e de paz, de perdão e de redenção".

 

"E no mais recôndito de todos esses homens ressoa a presença de Deus e a ação do Espírito Santo. Sim, a todo homem que faz silêncio em seu interior e põe distância às apetências, desejos e afazeres imediatos, ao homem que ora, Deus o ilumina para que o encontre e para que reconheça a Cristo. Quem peregrina a Santiago, no fundo, o faz para encontrar-se sobre tudo com Deus que, refletido na majestade de Cristo, o acolhe e abençoe ao chegar ao Pórtico da Glória".

 

Europa deve abrir-se a Deus

 

Ao falar sobre o aporte do Evangelho à Europa que os apóstolos Pedro e Tiago "rubricaram com seu sangue", Bento XVI indicou que consiste em uma realidade singela e definitiva: "que Deus existe e que é Ele quem nos deu a vida. Se Ele é absoluto, amor fiel e indeclinável, meta infinita que se transluz atrás de todos os bens, verdades e belezas admiráveis deste mundo; admiráveis mas insuficientes para o coração do homem".

 

O Papa questionou logo uma série de perspectivas que consideram Deus como inimigo do homem e sua liberdade, e ressaltou que "Deus é a origem de nosso ser e alicerce e cúspide de nossa liberdade; não seu oponente. Como o homem mortal vai fundar-se a si mesmo e como o homem pecador vai se reconciliar-se a si mesmo? Como é possível que se faça silêncio público sobre a primeira realidade e essencial da vida humana? Como o mais determinante dela pode ser trancado na mera intimidade ou remetido à penumbra?"

 

Diante da negação de Deus no Velho continente, disse o Papa, "é necessário que Deus volte a ressoar gozosamente sob os céus da Europa; que essa palavra santa não se pronuncie jamais em vão; que não se perverta fazendo-a servir a fins que lhe são impróprios. É preciso que se profira santamente" na vida cotidiana.

 

"A Europa deve abrir-se a Deus, sair ao seu encontro sem medo, trabalhar com sua graça por aquela dignidade do homem que tinham descoberto as melhores tradições: além da bíblica, fundamental nesta ordem, também as de época clássica, medieval e moderna, das que nasceram as grandes criações filosóficas e literárias, culturais e sociais da Europa", exortou.

 

O Papa Bento XVI fez uma reflexão sobre a Cruz, "supremo sinal do amor levado até o extremo, e por isso dom e perdão ao mesmo tempo, deve ser nossa estrela orientadora na noite do tempo" e clamou: "Oh Cruz bendita, brilhai sempre nas terras da Europa!"

 

"Permitam-me que proclame daqui a glória do homem, que advirta sobre as ameaças à sua dignidade pelo espólio de seus valores e riquezas originárias, pela marginalização ou a morte infligidas aos mais fracos e pobres. Não se pode dar culto a Deus sem velar pelo homem seu filho e não se serve ao homem sem perguntar-se por quem é seu Pai e responder à pergunta por ele".

 

A Europa da ciência e das tecnologias, a Europa da civilização e da cultura, ressaltou finalmente o Papa, "deve ser de uma vez a Europa aberta à transcendência e à fraternidade com outros continentes, ao Deus vivo e verdadeiro do homem vivo e verdadeiro. Isto é o que a Igreja deseja contribuir à Europa: velar por Deus e velar pelo homem, da compreensão que de ambos nos oferece em Jesus Cristo".

 

Fonte: ACI Digital.