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O valor da oração.

 

1. Como são preciosas a Deus as nossas orações!

 

São tão preciosas a Deus as nossas orações que Ele destinou os Anjos para lhe apresentarem imediatamente as que estamos fazendo.

 

“Os anjos, diz Santo Hilário, presidem as orações dos fiéis e diariamente as oferecem a Deus”

 

É este exatamente aquele sagrado incenso, isto é, as orações dos santos, que São João viu subir ao Senhor, oferecido pelas mãos dos anjos. Escreveu o mesmo Santo Apóstolo que as orações dos santos são como redomas de ouro, cheias de suave perfume e muito agradáveis a Deus. Mas, para melhor compreendermos quanto valem junto de Deus as nossas orações, basta ler nas divinas Escrituras as inumeráveis promessas que Deus faz a quem reza, quer no Antigo, quer no Novo Testamento.

 

“Chama por mim, e eu te ouvirei” (Jr 33, 3)

 

“Invoca-me e eu te livrarei” (Sl 49, 15)

 

“Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7, 7)

 

“Vosso Pai que está nos céus dará bens aos que lhe pedirem” (Mt 7, 11)

 

“Todo aquele que pede, recebe; todo o que busca, acha” (Lc 11, 10).

 

“Qualquer coisa, que pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 19)

 

“Tudo o que pedirdes orando, crede que haveis de receber e que assim vos sucederá” (Mc 11, 24)

 

“Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu vos farei” (Jo 14, 14)

 

“Pedi tudo o que quiserdes e vos será concedido” (Jo 15, 7)

 

“Em verdade eu vos digo: se pedirdes ao meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 16, 23)

 

Existem muitos outros textos semelhantes, que deixamos de citar por brevidade.

 

2. Sem oração não há vitória

 

Deus quer salvar-nos. Entretanto, quer nos salvar como vencedores. Estando, pois, nesta vida, achamo-nos em uma guerra contínua e para nos salvar temos que combater e vencer. “Sem ter vencido, ninguém poderá ser coroado”, diz São João Crisóstomo. Somos muito fracos e os inimigos, numerosos e fortes. Como enfrentá-los e vencê-los?

 

Tenhamos coragem e digamos com o Apóstolo: “Tudo posso n ‘Aquele que me conforta” (Fl 4, 13)

 

Tudo poderemos com a oração, por meio da qual Deus nos dará o que não temos. Escreveu Teodoreto que a oração é toda poderosa. Ela é uma, entretanto, pode obter todas as coisas:"A oração, sendo uma em si, pode tudo”

 

E São Boaventura afirma que, pela oração, se obtém todos os bens e a libertação de todos os males. Dizia São Lourenço Justiniano que, pela oração, construímos uma torre fortíssima, onde estaremos livres e seguros de todas as insídias e violências dos inimigos. São fortes as potências do inferno, entretanto, a oração é mais forte do que todos os demônios, diz São Bernardo e com razão, pois com a oração a alma consegue o auxílio divino, diante do qual desaparece todo o poder das criaturas. Assim animava-se Davi em seus desfalecimentos:“Invocarei Senhor louvando-o e livre serei de meus inimigos” (Sl 17, 4)

 

Em resumo, diz São João Crisóstomo, a oração é uma grande armadura, uma defesa, um porto, um tesouro. A oração é uma valiosa arma para vencer os assaltos dos demônios; é uma defesa, que nos conserva em todos os perigos; é um porto seguro contra toda tempestade; é um tesouro, que nos provê de todos os bens.

 

3. Rezemos para alcançar as forças contra os nossos inimigos!

 

Deus sabe quão salutar é para nós a necessidade de orar. Por isso permite, como foi dito no capítulo primeiro, que sejamos assaltados pelos inimigos, para pedirmos o auxílio que nos oferece e promete. Mas quanto lhe é agradável quando O invocamos nos perigos, tanto lhe desagrada o ver-nos descuidados da oração.

 

Assim como o rei, diz São Boaventura, julgaria traidor o capitão, que sitiado em uma praça, não lhe pedisse socorro, assim Deus considera traidor aquele que, vendo-se assaltado pelas tentações, a Ele não recorre pedindo auxílio. Pois deseja e espera que Lhe peçamos para nos socorrer fartamente. Uma prova disso encontramos nas Sagradas Escrituras, nas censuras, que o profeta Isaías fez ao rei Acaz. O profeta convidou-o em nome de Deus a pedir um sinal, a fim de certificar-se do socorro que o Senhor desejava dar-lhe: “Pede algum sinal do Senhor para ti” (Is 7, 11)

 

O ímpio rei respondeu: “Não o pedirei nem tentarei a Deus”

 

Assim disse, porque confiava em suas forças para vencer o inimigo, sem auxílio divino. Mas o profeta o repreendeu: “ouvi, pois, casa de Davi! Porventura não vos basta ser molestos aos homens, quereis também molestar Deus?”

 

Dizendo com isto que se torna molesto e injurioso a Deus, quem deixa de lhe pedir graças que o Senhor oferece.

 

4. Convites à oração

 

“Vinde a mim todos os que trabalhais e vos achais carregados e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)

 

Pobres filhos meus, diz o Salvador, que vos achais perseguidos por vossos inimigos e acabrunhados com o peso de vossos pecados, não vos abandone a coragem, recorrei a mim pela no ação e eu vos darei forças para resistir e refazer-vos de todas as desgraças. Em outro lugar, diz, por boca de Isaías: “Vinde e arguí-me, diz o Senhor: se os vossos pecados forem como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve” (Is 1, 18).

 

Homens, diz ele, recorrei a mim e, ainda quando tiverdes a consciência assaz manchada, não deixeis de vir. Permito até que me acuseis, por assim dizer, se recorrendo a mim, não vos fizer, por minha graça, brancos como a neve.

 

Que é oração? Ouçamos São João Crisóstomo: “A oração é âncora para os flutuantes, tesouro para os pobres, remédio para os doentes e preservativo para os sãos”.

 

A oração é uma âncora segura para quem está em perigo de naufragar, é um tesouro imenso de riquezas para quem é pobre, é um remédio eficacíssimo para os enfermos e um fortificante certo para nossa saúde.

 

Que faz a oração? Ouçamos São Lourenço Justiniano: “A oração aplaca a ira de Deus, porquanto Deus perdoa logo a quem com humildade lhe pede; concede todas as graças pedidas, vence todas as forças do inimigo; em resumo, transforma os cegos em iluminados, os fracos em fortes, os pecadores em santos”.

 

Quem necessita de luz, peça a Deus e lhe será dada. Logo que recorri a Deus, diz Salomão, deu-me a sabedoria: “Invoquei e veio sobre mim o espírito da sabedoria” (Sb 7, 7)

 

Quem precisar de fortaleza, invoque a Deus e ser-lhe-á dada: logo que abri a boca para pedir, disse Davi, recebi o auxílio do Senhor: “Abri a boca e atrai o alento” (Sl 118, 134)

 

E se os santos mártires resistiram tão corajosa e constantemente aos tiranos, não foi a oração que lhes deu força e vigor para suportar os tormentos e a morte?

 

5. Confiai e rezai e Deus virá em nosso auxílio

 

Quem se vale da oração, desta grande arma, diz São Pedro Crisólogo, ignora a morte, deixa a terra, entra no céu e vive com Deus. Não cai em pecado, perde o apego às coisas da terra, entra no céu e já nesta vida começa a gozar da presença de Deus.

 

De que serve, pois, alguém angustiar-se e dizer: Estarei inscrito no livro da vida? Quem sabe se Deus me dará a graça eficaz e a perseverança? “Não vos preocupeis, mas com muitas orações e rogos, com ação de graças, sejam conhecidas as vossas súplicas diante de Deus!” (Fl 4, 6)

 

De que serve, diz o Apóstolo, perturbar-vos com estes pensamentos angustiantes e com estes temores? Afugentai, portanto, todas essas ansiedades que só servem para diminuir a vossa confiança e tomar-vos mais tíbios e preguiçosos no caminho da salvação.

 

Rezai sempre; fazei que vossas orações sejam ouvidas por Deus e agradecei-lhe sempre as promessas que vos fez de conceder-vos sempre os dons que pedis, a graça eficaz, a perseverança, a salvação, e tudo o que quiserdes. O Senhor pôs-nos em batalha contra poderosos inimigos, mas é fiel às suas promessas. Não consente que sejamos atacados além das nossas forças.

 

“Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados mais do que podem as vossas forças” (1 Cor 10, 13)

 

É fiel, porque socorre imediatamente a quem o invoca.

 

Escreve o douto e eminentíssimo cardeal Gotti que o Senhor, não é obrigado a dar-nos sempre uma graça igual à tentação; mas é obrigado, quando somos tentados e recorremos a Ele, a dar-nos por meio da graça (que para todos tem preparada e oferece), a força suficiente, com que oportunamente possamos resistir às tentações:

 

“Em virtude de graça que põe à nossa disposição e nos oferece, Deus é obrigado a conceder-nos, quando somos tentados e a ele recorremos, as forças necessárias para podermos resistir e para que resistamos de fato; pois tudo podemos naquele que nos conforta pela graça, se humildemente pedirmos”.

 

Tudo podemos com o auxilio divino, que será concedido sempre a quem pede; por isso não temos desculpas, quando somos vencidos pela tentação. Fomos vencidos, porque não rezamos. Pela oração, podemos desarmar todas as ciladas do demônio. Pela oração, diz Santo Agostinho, afugentamos todos os males.

 

6. A oração é uma embaixadora

 

Diz São Bernardino de Sena que a oração é uma fiel embaixadora, bem conhecida do Rei dos céus e acostumada a entrar em seu gabinete e a mover, com sua importunação, o piedoso ânimo do Rei a fim de que conceda todo o socorro a nós miseráveis, que gememos no meio de tantos combates e misérias, neste vale de lágrimas.

 

“A oração é a mais fiel embaixadora, conhecida do Rei, que está acostumada a entrar em seu gabinete e a comovê-lo com sua importunação, a fim de impetrar auxílio para nós miseráveis”.

 

Assegura-nos também Isaías que, assim que o Senhor percebe nossas orações, move-se logo à compaixão e não deixa que choremos e suspiremos muito tempo: no mesmo momento nos atende e concede o que lhe pedimos.

 

“Tu, de nenhuma forma, chorarás mais; ele te concederá a graça por causa dos teus gemidos e logo que ouvir a tua voz, te atenderá” (Is 30, 19)

 

Em outro lugar, fala o Senhor por boca de Jeremias e, queixando-se de nós, diz: “Porventura tenho sido eu para Israel um deserto ou terra tardia? Por que diz: Nós nos retiramos, não voltaremos mais para ti?” (Is 2, 31)

 

Porque, pergunta o Senhor, dizeis que não quereis mais recorrer a mim? Porventura será a minha misericórdia uma terra estéril para vós, que não vos possa dar fruto de graça? Ou terra tardia, que produza fruto muito tarde? Com isso, nosso amoroso Senhor queria dar-nos a entender que jamais deixa de atender- nos; e, ao mesmo tempo, quis repreender os que deixam de rezar, por julgar não serem atendidos.

 

7. Deus nos atende a qualquer hora

 

Se Deus nos admitisse a apresentar-lhe as nossas súplicas só uma vez por mês, seria já um grande favor. Os reis da terra dão audiência poucas vezes ao ano, mas Deus dá audiência continuamente.

 

Escreve São João Crisóstomo que Deus está continuamente pronto a ouvir as nossas orações, e nunca acontece que não atenda a quem Lhe pede como convém: “Deus está sempre pronto a ouvir a voz de seus servos e nunca acontecerá que não atenda, sendo invocado como convém”.

 

Diz, além disso, que quando rezamos, antes de terminarmos a exposição de nossas súplicas, Deus já nos atende.

 

Sempre atende o que se pede, ainda enquanto estamos pedindo. Disso temos promessa divina: “Estando eles falando ainda, eu os ouvirei”(Is 65, 24)

 

O Senhor, diz Davi, está perto de quem o invoca, para escutá-lo, atendê-lo e salvá-lo: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam; sim, de todos os que com razão o invocam; satisfaz a vontade dos que o temem; ouve os seus gemidos e salva-os” (Sl 144, 19)

 

Era disso que se gloriava Moisés dizendo: “Não há nenhuma outra nação tão grande, que tenha deuses tão próximos de si, como nosso Deus está presente em todas nossas orações” (Dt 4, 7)

 

Os deuses dos gentios eram surdos às vozes dos que os invocavam, porque eram miseras criaturas, que nada podiam; mas nosso Deus, que tudo pode, não é surdo às nossas súplicas; pelo contrário, está sempre perto de quem o invoca e concede todas as graças pedidas: “Em qualquer dia que eu te invocar, logo conhecerei que és o meu Deus” (Sl 55, 11)

 

Senhor, dizia o salmista, nisto conheci que sois Vós meu Deus, todo bondade e misericórdia, porquanto sempre que a Vós recorro, me socorreis imediatamente.

 

8. Somos pobres, mas Deus é rico.

 

Somos pobres, mas, se pedirmos, já não somos mais pobres. Se nós somos pobres, Deus é rico. E Deus é imensamente liberal, diz o Apóstolo, para com aquele que o chama em auxílio: “Deus é rico para todos os que o invocam” (Rm 10, 12)

 

E uma vez que, exorta Santo Agostinho, temos de nos entender com um Senhor de infinita riqueza e poder: Peçamos-lhe não coisas pequenas e vis, mas, sim coisas grandes”.

 

Se alguém pedisse ao rei uma pequena quantia, com isso não lisonjearia de forma alguma a sua bondade. Pelo contrário, honramos a Deus, honramos a sua misericórdia e sua liberalidade, quando, à vista de nossa miséria e indignidade, Lhe pedimos grandes graças, confiados em sua bondade e fidelidade, pois Ele prometeu: “Tudo o que quiserdes, pedi e vos será dado” (Jo 15, 7).

 

Dizia Santa Maria Madalena de Pazzi que o Senhor sente-se honrado, com isso e fica tão consolado com as nossas orações que até, de certo modo, nos agradece. Porque assim abrimos-lhe o caminho de seus benefícios; pois o seu desejo é fazer bem a todos. E podemos estar certos de que, quando pedimos alguma graça recebemos, sempre mais do que pedimos: “Se alguém necessita de sabedoria peça a Deus que a todos dará sem palavras duras” (Tg 1, 5)

 

Assim diz São Tiago para denotar que Deus não é, como os homens, avaro de seus bens. Os homens, apesar de ricos, piedosos e liberais, quando dão suas esmolas, são sempre estreitos e de mãos curtas. E a maior parte das vezes dão menos do que se lhes pede, porquanto, por maior que seja, sua riqueza é limitada; por isso, quanto mais dão, tanto mais lhe faltará. Deus, porém, quando é invocado, da os seus bens com toda abundância, largamente, sempre mais do que se lhe pede, porquanto a sua riqueza é infinita; quanto mais dá, mais tem para dar: “Porquanto, Senhor, sois bom e manso e de muita misericórdia para com todos os que Vos invocam” (Sl 85, 5)

 

Vós, meu Deus, dizia Davi, sois liberal e sumamente misericordioso com quem Vos invoca. São tão ricas as graças que dispensais, que excedem as pedidas.

 

9. O grande papel das súplicas durante a oração.

 

Todo o nosso cuidado deve consistir em rezar com confiança, certos de que, orando, estarão para nós abertos todos os tesouros do céu.

 

“Que este seja nosso cuidado, diz São João Crisóstomo, e, então, abrir-se-á para nós o céu.”

 

E São Boaventura diz que todas as vezes que o homem recorre devotamente ao Senhor pela oração, ganha bens que valem mais do que todo o mundo: “Em um dia ganha o homem, pela oração, mais do que vale o mundo”.

 

Algumas almas devotas empregam muito tempo em ler e meditar, mas pouco se ocupam com as súplicas. Não resta dúvida que a leitura espiritual e a meditação das verdades eternas sejam coisas de muita utilidade mas muito mais úteis, diz Santo Agostinho, são as súplicas. Nas leituras e meditações ficamos conhecendo as nossas obrigações, mas na oração obtemos as graças de cumpri-las.

 

“Melhor é rezar do que ler: na leitura ficamos conhecendo o que devemos fazer, mas na oração recebemos o que pedimos.”

 

De que serve saber o que devemos fazer e depois não o fazer? De que serve senão para nos tomarmos mais culpados perante Deus? Leiamos e meditemos quanto quisermos, nunca, entretanto, cumpriremos o nosso dever, se não pedirmos a Deus os auxílios necessários.

 

10. A necessidade da súplica na oração

 

Por isso, como diz Santo Isidoro, em tempo algum o demônio sugere tantos pensamentos vãos e terrenos à alma do que quando esta procura rezar e pedir graças a Deus:“Quando o demônio nos vê rezar, procura com todas as forças distrair-nos com pensamentos fúteis”.

 

E por que? Porque é justamente quando rezamos que mais recebemos os tesouros dos bens celestes.

 

O maior fruto da oração mental é fazer-nos pedir a Deus as graças necessárias à perseverança e à salvação eterna.

 

Este é o principal motivo porque a oração mental é moralmente necessária para se conservar a graça de Deus; pois, se a alma não se recolhe no tempo da meditação para pedir os auxílios necessários à salvação e à perseverança, não o fará em outro tempo, porquanto fora da meditação não se pensa em pedi-los, nem mesmo se pensará na necessidade que há de pedi-los.

 

Pelo contrário, quem faz dia por dia a sua meditação, conhecerá logo as necessidades de sua alma, os perigos em que se acha e a necessidade que tem de pedir. Assim rezará e obterá as graças necessárias para perseverar e alcançar a salvação. Falando de si mesmo, dizia o Padre Segneri, S.J., que, a princípio, se ocupava mais na oração de excitar afetos do que de pedir: mas, conhecendo depois a grande necessidade e a e a imensa utilidade dos pedidos, daí por diante nas muitas meditações que fazia se aplicava a fazer suplicas.

 

11. Peçamos, peçamos muito!

 

“Clamarei como o filhote da andorinha” (Is 38, 14), dizia o piedoso rei Ezequias. Os filhos da andorinha não fazem outra coisa do que chilrear procurando com isso o auxílio e alimento de sua mãe. Do mesmo modo devemos nós proceder. Se quisermos conservar a vida da graça, devemos gritar sempre, pedindo a Deus a graça, para evitarmos a morte do pecado e para avançarmos em seu santo amor.

 

Refere o Padre Rodrigues, S.J., que os antigos padres do deserto, nossos primeiros mestres espirituais, fizeram entre si uma consulta, para ver qual era o exercício mais necessário e útil à salvação terna. Resolveram que era repetir a miúdo a breve oração de Davi: “Senhor, vinde em meu socorro!”

 

O mesmo, escreve Cassiano, deve fazer quem quiser salvar-se, dizendo sempre: Deus meu, ajudai-me, meu Deus, ajudai-me! Isto devemos fazer, desde a manhã, quando despertamos, e depois continuar a fazê-lo em todas as nossas necessidades e durante as nossas ocupações, quer espirituais quer materiais, mormente, quando formos assaltados por qualquer tentação ou paixão.

 

Diz São Boaventura que, muitas vezes, a graça nos vem mais depressa por uma breve oração, do que por muitas boas obras: “Às vezes, se obtém mais depressa com uma breve oração, o que dificilmente se alcançaria com boas obras”.

Acrescenta Santo Ambrósio: “Quem ora, enquanto ora, recebe, porquanto rezar e receber é a mesma coisa: Quem reza, enquanto reza já recebe o que pede; pois pedir é receber”.

 

São João Crisóstomo escreve que o homem mais poderoso é o que reza: “Nada há mais poderoso do que um homem que reza”, porque se faz participante do poder de Deus. Para chegarmos à perfeição, dizia São Bernardo, temos necessidade da meditação e da petição; pela meditação, vemos o que nos falta; pela súplica, recebemos o que nos é necessário: “Subamos pela meditação e pela petição! Aquela mostra o que nos falta, esta consegue que nada nos falte”.

 

12. Rezemos orações curtas, mas fervorosas se não nos salvarmos, a culpa é nossa

 

Em resumo, salvar-se sem a oração é dificílimo e até mesmo impossível, como vimos, segundo a ordem comum da providência. Entretanto, com a oração, a salvação é certa e fácil. Para a salvação não é necessário que alguém vá para a região dos infiéis, a fim de oferecer a sua vida; não é necessário retirar-se para um deserto e alimentar-se unicamente de ervas, mas é necessário rezar e dizer: Meu Deus, ajudai-me! Senhor assisti-me, tende piedade de mim! Poderá haver coisa mais fácil do que isto? E este pouco será suficiente para nos salvar, se formos sempre cuidadosos em fazê-lo.

 

De modo especial exorta-nos São Lourenço Justiniano: que nos esforcemos por rezar no começo de todas as ações. Afirma Cassiano que os antigos padres do deserto exortavam insistentemente a recorrer a Deus com breves, mas frequentes orações:

 

“Ninguém tenha em pouca conta oração, — dizia São Bernardo — porquanto Deus não a tem em pouca conta; pois Ele ou dá o que pedimos, ou dá o que deve ser-nos mais útil”.

 

Persuadamo-nos de que se não rezarmos, não temos desculpas, porquanto a graça de rezar é dada a todos e depende de nós rezarmos sempre que quisermos, como dizia Davi, falando de si mesmo: “Dentro de mim orarei ao Deus de minha vida dizendo-lhe: vós sois o meu amparo” (Sl 41, 9-10)

 

Tratarei desse assunto mais detalhadamente na parte seguinte, demonstrando claramente que Deus dá a todos a graça de rezar, para que, rezando, possam obter todos os auxílios e até bem abundantes, para observar os seus mandamentos e perseverar até a morte. Agora só direi que, se não nos salvarmos, a culpa é nossa, porquanto não rezamos.

 

Fonte: A Oração – Santo Afonso Maria de Ligório