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Bento XVI, no Ângelus de 8 de Dezembro

 

Maria Imaculada, humilde e autêntica filha de Israel, a partir da qual Deus quer fazer renascer o seu povo.

 

08.12.09: Sempre obediente à vontade do Senhor, plenamente à disposição do projeto divino, Maria “é a nova Eva, a verdadeira mãe de todos os viventes, isto é, de todos os que pela fé em Cristo recebem a vida eterna”. Sublinhou-o Bento XVI, ao meio-dia, na Praça de São Pedro, na alocução pronunciada antes da recitação do Ângelus, com numerosos romanos e peregrinos ali congregados neste dia santo.

 

Classificando o 8 de Dezembro como “uma das mais belas festas” de Nossa Senhora, o Papa colocou duas perguntas a esse propósito: “Que significa que Maria é “Imaculada”? E que coisa diz a nós este título? Uma resposta vem antes de mais dos textos bíblicos da liturgia deste dia, especialmente do grande “fresco” do terceiro capítulo do Livro do Gênesis e da narrativa da Anunciação do Evangelho de Lucas. Depois do pecado original, Deus dirige-se à serpente, que representa Satanás, amaldiçoa-a e acrescenta a promessa: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a sua, esta te pisará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar”.

 

“É o anúncio de uma desforra: nos primórdios da criação, Satanás parece ter prevalecido, mas virá um filho de mulher que lhe esmagará a cabeça. Assim, mediante a descendência da mulher, o próprio Deus vencerá. Esta mulher é a Virgem Maria, da qual nasceu Jesus Cristo que, com o seu sacrifício, derrotou de uma vez para sempre o antigo tentador”.

 

É por isso que em tantos quadros e imagens da Imaculada (observou ainda o Papa), esta é representada no ato de esmagar uma serpente sob os seus pés.


Comentando depois o episódio da Anunciação, prosseguiu Bento XVI, referindo-se à Virgem Maria:

 

“Ela aparece como a humilde e autêntica filha de Israel, verdadeiro (monte) Sião em que Deus quer pôr a sua morada. É o rebento do qual deve nascer o Messias, o Rei justo e misericordioso. Na simplicidade da casa de Nazaré vive o resto puro de Israel, do qual Deus quer fazer renascer o seu povo, como uma nova árvore que estenderá os seus ramos pelo mundo inteiro, oferecendo a todos os homens frutos bons de salvação.”

 

Contrariamente a Adão e Eva – observou ainda o Papa – “Maria permanece obediente à vontade do Senhor, e é com todo o ser que ela pronuncia o seu sim e se coloca plenamente à disposição do projeto divino”:

 

“É a nova Eva, verdadeira mãe de todos os vivos, isto é, de todos os que pela fé em Cristo recebem a vida eterna”.

 

Bento XVI convidou a dirigirmo-nos a Maria, quando experimentamos a nossa fragilidade e a sugestão do mal, para que o nosso coração receba luz e conforto. “E no meio das provações da vida, nas tempestades que fazem vacilar a fé e a esperança – acrescentou ainda – recordemo-nos que somos seus filhos e que as raízes da nossa existência se radicam na infinita graça de Deus”.

“A própria Igreja, embora exposta aos influxos negativos do mundo, encontra sempre nela a estrela para se orientar e seguir a rota indicada por Cristo. Maria é, de fato, a Mãe da Igreja, como proclamaram solenemente o Papa Paulo VI e o Concílio Vaticano II”.

 

O Papa concluiu recordando que nesta tarde, junto da imagem de Praça de Espanha, confiará à Virgem imaculada todos e “cada um, as nossas famílias e comunidades, toda a Igreja e o mundo inteiro”.

 

 

Descobrir a profundidade das pessoas, respeitá-las, vê-las como Deus as vê

 

Vibrante alocução do Papa, na Praça de Espanha, em Roma junto da imagem da Imaculada Conceição.

 

“Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade das pessoas, porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo”. “Com o seu estilo discreto, ela dá a todos paz e esperança nos momentos felizes e tristes da existência”. “A cidade tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus, nos recorda a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar também nas situações humanamente mais difíceis”.

 

Reflexões de Bento XVI, na alocução que pronunciou nesta terça-feira à tarde, na Praça de Espanha, em Roma, onde se deslocou para, segunda a tradição, depor uma coroa de flores na imagem de Nossa Senhora, confiando-lhe a Cidade e o mundo inteiro.

 

“Que diz Maria à cidade? O que é que recorda com a sua presença?” – interrogou-se o Papa, que logo respondeu:

 

“Ela recorda que onde abundou o pecado, superabundou a graça – como escreve o apóstolo Paulo. Ela é a Mãe Imaculada, que repete também aos homens do nosso tempo: Não tenhais medo, Jesus venceu o mal; venceu-o pela raiz, libertando-nos do seu domínio”.

 

Bento XVI sublinhou que muito temos necessidade desta boa nova. Até porque, “dia após dia, através dos jornais, da televisão, da rádio, o mal é-nos contado, repetido, amplificado, habituando-nos a ver as coisas mais horríveis, fazendo-nos tornar insensíveis e, de alguma maneira, intoxicando-nos, porque não se consegue diluir plenamente o negativo, que assim se vai acumulando. Endurece-se o coração, obscurecem-se os pensamentos”.

 

“É por isso que a cidade tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus, nos recorda a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar, mesmo nas situações humanamente mais difíceis”.

 

Numa discreta alusão a casos muito falados em Itália, nomeadamente em Roma, nas últimas semanas, observou o Papa : “Na cidade vivem – ou sobrevivem – pessoas invisíveis, que por vezes saltam para as primeiras páginas ou para os telejornais, passando a ser exploradas ao máximo, enquanto a notícia e a imagem conseguem prender a atenção. É um mecanismo perverso, ao qual infelizmente muito a custo se resiste”.

 

“A cidade primeiro esconde e depois expõe ao público. Sem piedade, ou com uma falsa piedade. Ora, existe no coração de cada homem o desejo de ser acolhido como pessoa e considerado uma realidade sagrada, porque cada história humana é uma história sagrada e exige o máximo respeito”.

 

Bento XVI fez notar que “a cidade somos todos nós!” Cada um contribui para a vida e para o clima moral da cidade, para o bem e para o mal.

 

“É pelo coração de cada um de nós que passa o confim entre o bem e o mal. Nenhum de nós deve sentir-se no direito de julgar os outros; o que cada um deve sentir é o dever de melhorar-se a si mesmo! Os mass-media tendem a fazer-nos sentir sempre “espectadores”, como se o mal apenas dissesse respeito aos outros, e certas coisas nunca nos pudessem acontecer a nós. Na realidade, somos todos “atores”, e – tanto no bem como no mal – o nosso comportamento tem um influxo sobre os outros”.

 

O problema da poluição na cidade – observou o Papa – vai para além do que é perceptível pelos sentidos. Existe outro inquinamento, mais perigo ainda: o do espírito, que torna os nossos rostos menos sorridentes, mais carrancudos, que nos leva a não nos cumprimentarmos, a não nos olharmos olhos nos olhos…

 

“A cidade é feita de rostos, mas infelizmente as dinâmicas coletavas podem levar-nos a perder a percepção da sua profundidade. Vemos tudo à superfície. As pessoas passam a ser corpos, corpos que perdem a alma, se tornam coisas, objetos sem rosto, intercambiáveis, objeto de consumo.

 

Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade das pessoas, porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo. É a pureza em pessoa. (…) Maria ensina-nos a abrir-nos à ação de Deus, para olhar para os outros como Ele os olha: a partir do coração. E a encará-los com misericórdia, com amor, com uma ternura infinita, especialmente os mais sós, desprezados, explorados. Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.

 

E o Papa concluiu esta tocante alocução, neste dia 8 de Dezembro, solenidade da Imaculada, prestando publicamente “homenagem a todos os que, em silêncio, não com palavras mas por obras, se esforçam por praticar esta lei evangélica do amor, que faz avançar o mundo”. São muitos, também aqui em Roma – assegurou – e raramente fazem notícia.

 

“Homens e mulheres de todas as idades, que perceberam que não interessa condenar, lamentar-se, recriminar, mas que é preciso responder ao mal com o bem. É isso que transforma as coisas; ou melhor, transforma as pessoas e, por conseqüência, melhora a sociedade”.

 

Fonte Rádio Vaticano.