PADRE GABRIELE AMORTH
Famoso Exorcista da diocese de Roma.
O parecer de alguns médicos.
A respeito dos médicos, sobretudo se forem psiquiatras, é interessante ouvir suas opiniões. A alguns deles, que habitualmente auxiliam os exorcistas, dirigi duas perguntas:
Que tipo de ajuda pode dar um médico ao exorcista?
Que especialidades deve ter o médico para poder auxiliar o exorcista?
Também disse que eles, se considerassem oportuno, poderiam acrescentar ou falar sobre outras coisas. Eles tiveram a gentileza de me responder, manifestando, contudo, dificuldade em expressar a própria opinião no pouco espaço de que dispunham. Pareceu claro que será oportuno ouvi-los falar livremente, por ocasião de congressos ou de publicações mais amplas. Em seguida, transcrevo algumas dessas respostas.
Dr. Giorgio Gagliardi (psicoterapeuta de Asso, Como)
Em vários congressos nos quais participei, um ou outro exorcista mencionou a colaboração de médicos especialistas, enquanto que outros afirmaram que os médicos não são necessários no desenrolar do sacramental do exorcismo ou da oração de libertação.
No livro de Lewis, Scusi, qual é il suo Dio? (Desculpa. Qual é o seu Deus?), lê-se que o diabo manda os erros aos pares: um erro e o seu adversário, que é outro erro. Deste modo, erra-se quando se tem demasiada presunção e não humildade no diagnóstico e no discernimento.
Tantos os exorcistas como os médicos têm uma mentalidade própria, uma maneira de ser, um subconsciente, as suas convicções; e assim todos podem ficar com as idéias confusas ao entrar no âmbito específico dos outros profissionais.
Eis o par de erros que Berlique (protagonista do livro já citado, de Lewis) nos envia da França, onde parece que tudo se reduz à cura psicossomática. Em certas partes do nosso continente já não há exorcistas. Na Itália, o diabo está muito ativo, com uma ação que freqüentemente é ridicularizada em séries televisivas ou em outras transmissões.
Nas circunstâncias atuais, é bom que cada um tenha a humildade de reconhecer os próprios limites: o médico, no discernimento espiritual; o exorcista, no diagnósticos psicológico-psiquiátrico, mas também nos estados de consciência culturais que existem e que enganam os próprios médicos nos seus diagnósticos. É por isso que, a muitos, se pode atribuir a crítica de diletantismo superficial.
Atualmente, a ciência aplicada ao poder tenta programar diversos meios de destruição, através do condicionamento mental o do transe hipnótico ou de uma certa reprogramação emocional. Estas aplicações sofisticadas e terríveis para o equilíbrio mental levantam a questão de saber se os exorcistas conhecem, ou não, os estados de transe e os estados de consciência, que, por seu lado, minutos médicos e psiquiatras também não sabem identificar e que de imediato se classificam como perturbação mental, para não terem que modificar as suas convicções.
O âmbito dos exorcistas é bastante vasto e repleto de interferências: o diagnóstico ou o discernimento pode prever perturbações igualmente presentes no campo biológico, mental ou espiritual.
Que funções podem desempenhar o médico, o psiquiatra, o psicólogo, o psicofisiologista? As funções que lhes competem: identificar o estado de saúde do sujeito mediante a análise detalhada do seu histórico clínico; avaliar as regras relativas aos diferentes critérios de normalidade e anormalidade; revelar a cultura a que pertence, o contexto social e comunicativo; a idade, o sexo, os papéis sociais e os ritos da vida (trabalho, matrimônio, mudanças, luto); se a doença orgânica determina uma perturbação mental (tóxico dependência, doenças do metabolismo como a diabetes e algumas doenças orgânicas mentais).
Frustrações, comportamento do sujeito, capacidade de desempenhar o próprio trabalho e de partilhar os valores da sociedade, a religião a que pertence. Incoerência dos próprios pensamentos, fixação no próprio sofrimento. Anulação da sua vontade, incapacidade de projetar. Modificações da relação com a alimentação e com a higiene pessoal; por fim, dissociação e transes espontâneos ou induzidos pelos mais variados acontecimentos.
Que qualidade deve ter um médico que colabore com um exorcista? Digo simplesmente: a verdade, segundo a ciência, ou seja, conhecendo os próprios limites. É necessário renunciar ao próprio eu e formular o diagnóstico requerido apenas para ajudar o exorcista: o médico não é chamado a exorcizar, mas a discernir.
Dr. Simone Morabito (psiquiatra de Bergamo)
(Recordemos o livro: Osichiatra all’inferno (Um psiquiatra no inferno), Ed. Segno, que nos relata numerosos casos narrados pelos próprios pacientes).
As qualidades que um psiquiatra deve ter para poder ajudar um exorcista são: fé viva, profundamente viva; deve também se exercitar continuamente nas sete virtudes fundamentais e teológicas, já que o demônio ataca o homem, sobretudo na sua vida espiritual.
Como pode, um médico, diagnosticar uma patologia nas virtudes, se ele próprio não as puser em prática com o auxílio do Espírito Santo?
As virtudes fundamentais não são apenas expressão de equilíbrio moral, mas também do bom funcionamento do córtex cerebral. Qualquer médico é sempre levado a formular um diagnóstico, mesmo que esteja errado; infelizmente, das universidades italianas saem formados psiquiatras positivistas, que na maioria dos casos são ateus ou contrários à religião. Como poderiam diagnosticar que no paciente se possa configurar uma “patologia da alma”, se eles são os primeiros a não acreditar e a não querer acreditar?
Nas universidades italianas, quanto mais ateu for mais facilidade se tem na carreira e, quanto mais crente for, maior o grau de exclusão a que está sujeito. Um psiquiatra, para poder ajudar um exorcista, tem de rezar. Rezar por si próprio e saber rezar pelos outros. E permita-me dizer também outra verdade: deve ter uma intimidade filial com a Santa Mãe de Deus e confiança na humilde oração mariana.
Explico melhor: no início, quando me interessei pela patologia dos possessos pelo diabo, vinha tratando de uma estudante universitária de Como. Esta moça demonstrava tendências suicidas (embora não estivesse deprimida), polifagia, bulimia; em poucas palavras, tinha uma fonte excessiva, que a fazia engolir, recorria ao vômito, enfiando os dedos na garganta.
O demônio é um mestre da camuflagem; embora já tivesse visitado a paciente e a tivesse, até, submetido a uma dezena de sessões de psicanálise, do ponto de vista médico não havia nada que deixasse transparecer uma gravíssima possessão diabólica, a qual ela tinha sem saber.
Esta paciente foi exorcizada por um exorcista muito experiente durante mais de um ano; manifestava uma violência indescritível. Certo dia, durante uma sessão de psicanálise, sendo eu uma pessoa que reza e que já tinha tido experiência de assistir alguns casos de possessão diabólica, pedi a ela que rezasse comigo. Imediatamente, houve tamanha reação que, se não tivesse fé na presença de Jesus e Maria, teria tido um enfarte. Destruiu o consultório.
É a experiência de casos vistos junto a exorcistas experientes que torna útil o relacionamento entre exorcista e psiquiatra. As sutilezas diabólicas, que enganam até psiquiatras ateus, são diagnosticadas mais pela fé do que pela ciência; é como se eu fosse um médico para a fé, enquanto que a ciência me confirma aquilo que a fé me deu a descobrir. O processo inverso é praticamente impossível.
Considero que um psiquiatra ateu é um verdadeiro desastre no seu relacionamento com o exorcista; se é verdade que na patologia mental ou psicossomática do endemoninhado existem sintomas muito atenuados de síndromes mentais diferentes, estes são de tal maneira sutis que até o mais experiente dos clínicos teria dificuldade em identificá-los.
Porém, desaprovo alguns exorcistas que querem desempenhar a todo o custo a função do psiquiatra: na realidade, a psiquiatria é uma ciência muito difícil e complexa. Certamente que o ideal seria um profundo conúbio entre o exorcista e o psiquiatra, já que certos poderes devastadores ficariam mais claros para o primeiro e, quero acrescentar, certas dinâmicas científico-religiosas passariam pelos raios do Espírito Santo o pobre doente que temos à nossa frente.
É igualmente importante a ajuda do psiquiatra no fim do exorcismo para restabelecer aquelas forças psicossomáticas que foram anuladas pelo inimigo do homem.
Dr. Salvador Di Salvo (psiquiatra de Turim)
A grandeza do tema e a necessidade de síntese tornam a minha tarefa muito difícil, até porque o material de que disponho é abundante (refiro-me a artigos e trabalhos sobre o tema da relação entre a demonologia e a psiquiatria) e uma síntese é realmente impossível.
Proponho algumas reflexões baseadas na colaboração ainda ativa, com um grupo de exorcistas da diocese de Turim. Isto porque já muito foi falado e, por outro lado, porque não me sinto capaz de responder elaborando uma espécie de decálogo da relação médico-exorcista.
Esclareço que o que direi em seguida se baseia quer no fato de ser um psiquiatra que há mais de vinte anos trabalha numa clínica psiquiátrica, quer no fato da minha formação analítica (sou um analista junguiano, membro da Internacional Association for Analytical Psychology).
As reflexões de que falava antes podem ser resumidas da seguinte maneira:
1- Crítica da presunção e arrogância da “ciência” quando afirma possuir a verdade absoluta.
2- Existem fenômenos em relação aos quais a ciência, se realmente é tal, deve reconhecer que não é capaz de fornecer uma explicação “objetiva”, já que pertencem à esfera daquilo que não pode ser objetivamente demonstrável.
3- Convicção da existência do Mal, não como entidade abstrata, mas como realidade concreta que intervém nas coisas humanas.
Estas reflexões me parecem extremamente importantes para determinar, no médico, a possibilidade de colaborar com o exorcista, esclarecendo desde logo que cada qual intervém estritamente no próprio âmbito de trabalho: ao psiquiatra cabe-lhe a tarefa da intervenção psicofarmacológica e de apoio psicoterapêutica; ao exorcista cabe a tarefa da “luta” contra o Mal. Isto, obviamente, é válido nas inúmeras situações em que, na mesma pessoa, se verifica a presença de perturbações psíquicas e de perturbações maléficas.
Reitero a importância do psiquiatra e do exorcista intervirem nos limites estritos dos próprios âmbitos de trabalho, resistindo à tentação muito comum em inúmeras pessoas, acompanhadas simultaneamente pelo psiquiatra e pelo exorcista, de interferir e cruzar informações (por exemplo, perguntando ao psiquiatra se é verdade que está possesso pelo demônio ou perguntando ao exorcista se deve tomar medicamentos).
É igualmente importante que os dois “especialistas”, num clima de colaboração, dialoguem pessoalmente e comparem dados e informações sobre a pessoa que estão tratando, ou seja, com intervenções bem diferentes e separadas, e troca de pareceres, comentários e impressões.
Uma última consideração: a importância enorme da informação, tanto para o exorcista como para o psiquiatra. Isto é, estou convicto de que o psiquiatra tem de conhecer os principais livros sobre demonologia; e que o exorcista, de mesmo modo, deve conhecer os sintomas mais evidentes das principais perturbações psíquicas.
Este conhecimento recíproco facilita a ambos a tarefa de discernir (embora não se trate apenas de um fato de conhecimentos) e, sobretudo, torna mais eficazes os recíprocos envios – do exorcista para o psiquiatra e do psiquiatra para o exorcista.
Dr. Alessandro Tamino (psiquiatra de Roma)
O que são o diabo e a possessão diabólica para mim, psiquiatra?
São algumas das muitas metáforas que se pode utilizar para descrever alguns aspectos da nossa experiência sensível. Outra metáfora possível é, por exemplo, a psique. As duas diferentes metáforas não são, por assim dizer, inocentes.
Cada uma pertence a um universo simbólico específico, a uma cultura particular; e a escolha de cada um destes modelos causa efeitos bastante específicos no momento em que são utilizados. Por exemplo, a referência a outro modelo implica, pelo contrário, que nos viremos para o psicoterapeuta.
Deste modo, uma determinada dificuldade pode ser lida e interpretada numa lógica de tipo sobrenatural, ou então numa lógica naturalista, uma vez que não são possíveis misturas entre dois símbolos tão diferentes.
Na realidade, as coisas não são assim tão simples e os limites não são tão facilmente identificáveis. Um elemento que enriquece muito o quadro, ou o complica ainda mais, é a constatação de que a consciência, bem longe de ser uma construção de um só andar, na realidade, revela-se como um produto com sobreposição de vários níveis, boa parte dos quais subterrâneos, não diretamente perceptíveis, mas ativos e, portanto, só indiretamente apreciáveis.
Isto implica que em cada um de nós possam conviver vários modelos culturais, distintamente combinados e dispostos em vários níveis de consciência e, até, potencialmente opostos.
Uma pessoa que declara não crer, mas que se formou culturalmente numa sociedade como a nossa, em que os valores religiosos estão bastante arraigados, no seu íntimo conserva estes modelos culturais. Determinados acontecimentos especiais da vida, como por exemplo,uma doença grave ou a perda de uma pessoa querida, podem reativar sistemas de valores que, por assim dizer, tinham ficado escondidos.
Mas mesmo sem chegar a polarização tão extremas e a contextos dramáticos, é comum experienciar a convivência de aspectos extremamente racionais e naturalistas com elementos pertencentes a crenças tanto de âmbito mágico como de âmbito religioso.
Até porque os novos modelos são construídos, pelo menos em parte, baseados nos anteriores. Quem já assistiu a algumas manifestações aparentemente laicas, que se desenrolam nos países que antigamente se definiam “do socialismo real”, com certeza pareciam viver em uma atmosfera quase religiosa.
Palavras como rito, liturgia são utilizadas no domínio comum também para descrever acontecimentos que não se referem à dimensão sobrenatural. Podemos quase afirmar que nenhum de nós pode se dizer totalmente um descrente; nenhum de nós pode dizer-se totalmente um crente.
A dúvida acompanha qualquer sistema de valores, sobretudo, numa sociedade como a nossa, caracterizada por múltiplas sobreposições culturais. Mas a dúvida não é apenas um incômodo caruncho; é também o elemento que permite que o sistema de crenças se modifique, aceite contribuições que antes lhe eram alheias.
Quase como uma espécie vivente que consegue sobreviver graças à sua plasticidade genética, assim as culturas modificam-se continuamente, criando novos argumentos. Parece, portanto, possível a existência de uma coabitação ou mistura cultural; aliás, parece mesmo útil, fornecendo a cada sistema de crenças valores que enriquecem a pessoa que os partilha.
Mas na realidade nem sempre é assim; bem ao contrário. Uma vez que para todos nós a questão apresenta outros elementos, precisamente nos valores culturais. Mas a identidade não é algo constantemente igual, ao contrário, assistimos a sua contínua adaptação, e todas as situações exigentes da vida colocam-na em risco; e uma sua reorganização está na base da superação de um período crítico.
Por isso, quem desempenha atividade de terapeuta deve ter uma identidade bastante definida e relativamente estável; quer para se sentir protegido e não contagiado pela crise de identidade da pessoa que está tentando ajudar, para lhe fornecer um ponto de referência protetor.
Quando se tem de lidar com o doloroso e perigoso caminho da intervenção no sofrimento dos outros, não se pode fazer confusão. Quem de nós se entregaria, num mar em tempestade, a dois capitães diferentes que, ao mesmo tempo, utilizam diferentes meridianos ou, talvez pior ainda, que confiança merece um capitão que não decidiu a que meridiano deve ater-se e que eventualmente muda, precisamente no momento mais perigoso, o tipo de sextante?
Por esta razão, o paciente que se dirige a vários terapeutas de áreas culturais diferentes para resolver o mesmo problema, em vez de somar benefícios, freqüentemente limita a credibilidade e a eficácia da intervenção. Estes diferentes terapeutas podem mesmo intervir simultaneamente e manter uma boa reação entre si; mas no fim, para que a relação terapêutica possa ser eficaz, o paciente terá de escolher um terapeuta e confiar nele completamente.
Não se pode excluir, a priori, a eficácia de outras intervenções, pertencente a áreas culturais diferentes; mas seria desejável que, pelo menos, se realizassem em períodos distintos. Isto obviamente na teoria, já que na prática, sobretudo numa sociedade culturalmente complexa como a nossa, quase sempre quem sofre bate em muitas portas ao mesmo tempo.
Tanto é verdade que chegamos mesmo a colocar a hipótese de uma espécie de coordenação, por parte do paciente, das figuras que desempenham uma função terapêutica, como se existisse uma parte relativamente saudável e razoável capaz de, freqüentemente inconsciente, dirigir o processo terapêutico, por vezes de maneira bastante eficaz.
De qualquer maneira, em todo o caso não pode existir para nós, terapeutas, uma regra geral e tranqüilizante à qual possamos entregar-nos serenamente. Mas é necessário, com esforço e caso a caso, avaliar quando intervir em vários níveis pode ser uma opção necessária, ou, quando pelo contrário, for uma intervenção confusa e ineficaz.
É por estas razões que falo de presença simultânea do exorcista e do psiquiatra e não apenas de colaboração. As duas figuras podem coexistir e, de fato, ajudar-se reciprocamente em alguns casos; mas não colaborar como se fossem dois médicos especialistas diferentes, ou dois religiosos. Não cabe à ciência avaliar a fé; não cabe á fé delimitar a área de intervenção do método científico. E o paciente pode beneficiar-se com a clareza, nunca com a confusão das funções e dos papéis que cada um desempenha.
Quem escreve estas linhas já há cerca de três anos promove uma investigação, juntamente com outros colegas e uma antropóloga, sobre o tema do exorcismo. A estrutura a que fazemos referência, ou seja, a cátedra de psiquiatria da Universidade de Roma “Tor Vergata”, dirigida pelo prof. Nicola Ciani, de fato, tem uma antiga tradição de estudos sobre a relação entre a psiquiatria e a cultura.
Prosseguir com esta pesquisa implicou para nós a necessidade de discutir e redefinir o nosso papel. Em todas as pesquisas médicas, como facilmente se intui, há razões éticas que impedem uma rígida subdivisão entre a pesquisa e a atividade terapêutica. É compreensível, portanto, que em muitas ocasiões me tenha sentido no dever de “ser médico”, e não apenas investigador, desempenhando por isso uma função pelo menos complementar (aparentemente) à do exorcista.
Vice-versa em alguns casos mesmo, fomos nós quem propusemos aos nossos pacientes um encontro com o exorcista, mesmo que no âmbito de uma leitura totalmente psicológica da função do Sacerdote. Mas sempre na distinção das funções, distinção que deve ser explicita ao paciente.
Num contributo sobre o tema da relação entre o exorcista e o psiquiatra, parece-me que este seja o ponto central da questão: a possibilidade de uma presença simultânea das duas figuras e a sua estreita interação; mas, salvaguardando claramente a função de cada qual, evitando situações de confusão.
Infelizmente, é coisa que nem sempre acontece; e se ilustrarmos o percurso daqueles que se dirigem ao exorcista, em particular antes do encontro com o Padre Amorth (a cujos exorcismos muitas vezes assisti), descreve-se um mundo cheios de incertezas, uma nebulosa de exorcistas que se consideram um pouco psicólogo-psiquiatras que apelam ao sobrenatural, ou leigos que se proclamam curadores; e por aí afora.
Só é possível tolerar o que é diferente de nós se os limites da nossa identidade estiverem bem delineados. O exorcista e o psiquiatra podem conviver na medida em que salvaguardarem as suas diferenças e aceitarem as respectivas áreas de incerteza.
Dr. Giovanni Guariglia (neurofisiologista de La Spezia)
Em resposta ao seu pedido acerca das características que um médico deve possuir para poder coadjuvar um exorcista, apenas lhe posso falar da minha experiência, já que atualmente não existe nenhuma disciplina que possa preparar profissionalmente alguém para o desempenho desta tarefa.
Suponho que aquilo que se exige de um Sacerdote para que seja um bom exorcista (oração, caridade, humildade, fé...) também é válido para um médico. Não que tais características possam fazer-nos merecer o discernimento de Deus, já que somos sempre pecadores; todavia, se permanecermos na sua graça, é mais fácil utilizar os dons que ele nos dispensa.
A colaboração com o exorcista é feita da seguinte maneira: se o Sacerdote considera que a pessoa que a ele se dirige sofre de perturbações psíquicas ou outras patologias, envia-a a mim. Após ter ouvido atentamente a pessoa que em questão escrevo um relatório com as minhas impressões.
A maior parte das pessoas que me são enviadas têm perturbações mentais ou psicológicas, salvo um ou outro caso que manifesta perturbações mas não relacionadas com patologias habituais. O exorcista já é capaz de discernir quem sofre de fenômenos de possessão ou de malefícios e apenas me envia aqueles casos que lhe parecem essencialmente de foro médico. Nestes casos, não se realizam exorcismos, mas orações, dando ao paciente uma orientação de tipo espiritual.
A colaboração com o psiquiatra, que se serve também do auxílio de uma psicóloga, é uma diretiva do nosso Bispo que, há alguns anos, criou uma comissão que lidasse como os casos propostos ao Sacerdote, com a finalidade de dar um enquadramento ao fenômeno e de fazer um relatório periódico acerca dos conteúdos.
De minha parte, sirvo-me da minha experiência e peço ao Bom Deus que me ajude a discernir bem. Todavia, não sou capaz de afirmar com certeza se uma pessoa ou é vítima de um maléfico: tudo isto é tarefa do Sacerdote. Posso apenas indicar se existe uma patologia psicológica ou psiquiátrica ao sacerdote com o objetivo de lhe facilitar a tarefa.
Fonte: Extraído do Livro "Exorcistas e Psiquiatras" - Pe. Gabriele Amorth - Ed. Palavra & Prece.