PAPA BENTO XVI: ÂNGELUS.
Os anjos enviados por Deus para velar e sustentar o homem
Angelus de domingo, 1 de Março, com os fiéis na Praça de São Pedro
antes do início dos Exercícios espirituais
Queridos irmãos e irmãs
Hoje é o primeiro domingo de Quaresma, e o evangelho, com o estilo sóbrio e conciso de São Marcos, introduz-nos no clima deste tempo litúrgico: "O Espírito impeliu Jesus para o deserto. E esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás" (Mc 1, 12).
Na Terra Santa, a oeste do rio Jordão e do oásis de Jericó, encontra-se o deserto de Judá que, ao longo de vales pedregosos, ultrapassando um desnível de cerca de mil metros, sobe até Jerusalém. Depois de ter recebido o batismo de João, Jesus entrou naquela solidão conduzido pelo próprio Espírito Santo, que tinha descido sobre Ele, consagrando-O e revelando-O como Filho de Deus.
No deserto, lugar da provação, como mostra a experiência do povo de Israel, sobressai com profunda dramaticidade a realidade da kenosi, do esvaziamento de Cristo, que se despojou da forma de Deus (cf. Fl 2, 6-7). Ele, que não pecou e não pode pecar, submete-se à prova e por isso pode compadecer-se da nossa enfermidade (cf. Hb 4, 15). Deixa-se tentar por Satanás, o adversário, que desde o princípio se opôs ao desígnio salvífico de Deus em benefício dos homens.
Quase de fugida, na brevidade da narração, diante desta figura obscura e tenebrosa que ousa tentar o Senhor, aparecem os anjos, figuras luminosas e misteriosas. Os anjos, diz o Evangelho, "serviam" Jesus (Mc 1, 13); eles são o contraponto de Satanás. "Anjo" quer dizer "enviado".
Em todo o Antigo Testamento encontramos estas figuras que, em nome de Deus, ajudam a orientar os homens. É suficiente recordar o livro de Tobias, onde aparece a figura do anjo Rafael, que assiste o protagonista em numerosas vicissitudes. A presença tranqüilizadora do anjo do Senhor acompanha o povo de Israel em todas as suas vicissitudes boas e más.
No início do novo Testamento, Gabriel é enviado para anunciar a Zacarias e a Maria os ditosos acontecimentos que se encontram no princípio da nossa salvação; e um anjo, do qual não se diz o nome, adverte José, orientando-o naquele momento de incerteza. Um coro de anjos anuncia aos pastores a boa notícia do nascimento do Salvador; assim, serão também os anjos que anunciarão às mulheres a notícia jubilosa da sua ressurreição.
No final dos tempos, os anjos hão de acompanhar Jesus na sua vinda na glória (cf. Mt 25, 31). Os anjos servem Jesus, que certamente é superior a eles, e esta sua dignidade é aqui, no Evangelho, proclamada de maneira clara, embora discreta. Efetivamente, também na situação de pobreza e humildade extremas, quando é tentado por Satanás, Ele permanece o Filho de Deus, o Messias, o Senhor.
Estimados irmãos e irmãs, excluiríamos uma parte notável do Evangelho, se deixássemos de lado estes seres enviados por Deus, que anunciam a sua presença no meio de nós e constituem um sinal da mesma. Invoquemo-los com freqüência, a fim de que nos sustentem no compromisso de seguir Jesus a ponto de nos identificarmos com Ele.
Peçamos-lhes, de modo particular no dia de hoje, que vele sobre mim e sobre os meus colaboradores da Cúria Romana que hoje à tarde, como todos os anos, começaremos a semana de Exercícios espirituais. Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós!
No final do Angelus, Bento XVI saudou os diversos grupos de peregrinos e fiéis presentes na Praça de São Pedro.