PADRE GABRIELE AMORTH
Famoso Exorcista da diocese de Roma.
OS CAMINHOS OCULTOS DA MAGIA
A magia é um assunto muito vasto que poderia encher uma biblioteca inteira, e cuja prática se encontra em toda a história humana e entre todos os povos. Ainda hoje são imensos os que caem nas malhas da magia. Muitos sacerdotes subestimam mesmo os seus perigos: confiam justamente no poder salvador de Cristo, que se sacrificou para nos libertas das malhas de Satanás, não tendo em conta que o Senhor nunca nos disse que subestimássemos o poder dele, nem disse que desafiássemos o demônio, nem que deixássemos de o combater.
Pelo contrário, deu-nos o poder de o expulsar e falou-nos da luta incessante com ele, que nos espia constantemente (o próprio Jesus mesmo foi submetido ás tentações do Maligno); disse-nos claramente que não se pode servir a dois senhores.
A Bíblia surpreende-nos pela freqüência com que fala contra a magia e os bruxos, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Põe-nos de sobreaviso: porque um dos meios mais comuns que o demônio utiliza para atrair o homem e o embrutecer é a magia, a superstição e todas as formas de prestar um culto direto ou indireto a Satanás. Aqueles que praticam a magia julgam que podem manipular as forças superiores mas, de fato, eles servem essas mesmas forças.
Os feiticeiros julgam-se os senhores do bem e do mal. Os espíritas e os médiuns empregam todos os seus esforços na invocação dos espíritos superiores ou dos espíritos dos defuntos; na verdade entregam o corpo e a alma a forças demoníacas, sem se darem conta que são sempre utilizados para um fim destrutivo, ainda que esse fim não se manifeste logo.
O homem, afastado de Deus é pobre e infeliz; não chega a compreender o sentido da vida e, ainda menos o sentido das dificuldades, da dor e da morte. Deseja a felicidade tal como o mundo a propõe: riqueza, poder, bem-estar, amor, prazer, admiração... E aceita que o demônio lhe diga: Tudo te darei, porque me pertence e dou-o a quem quiser, se te prostrares diante de mim (Lc 4,6-7).
É assim que uma multidão de jovens e velhos, mulheres, operários, professores, políticos, atores e curiosos, procura a verdade sobre o futuro. É uma multidão que se torna a presa de outra multidão: mágicos, adivinhos, astrólogos, cartomantes, pranoterapeutas, sensitivos ou videntes de vários tipos. Vêm atraídos pelo acaso, ou por esperança, ou por desespero ou para comprovar; alguns ficam prisioneiros, outros ligados e outros ainda, penetram no círculo fechado das seitas.
Mas o que há por detrás disto tudo?
Os ignorantes pensam que se trata unicamente de superstição, de curiosidade, de fingimento, de fraude; de fato esta atividade está ligada a um grande número de negócios. No entanto, na maioria dos casos, a realidade é outra.
A magia não é somente uma crença falsa ou algo desprovido de qualquer fundamento. É um recurso às forças demoníacas para influenciar o curso dos acontecimentos e influir sobre as pessoas, a seu bel prazer.
Esta forma desviada de religiosidade, característica de povos primitivos, prolongou-se no tempo e coexiste atualmente com outras religiões em todos os países. Embora sob diversas formas o resultado é o mesmo: afastar o homem de Deus, conduzi-lo ao pecado e à morte interior.
Há duas espécies de magia: a magia imitativa e a magia contagiosa.
A magia imitativa fundamenta-se no critério de semelhança no que se refere à força a ao procedimento; baseia-se no princípio segundo o qual cada semelhante gera um seu semelhante. Um boneco representará a pessoa que se quer para vítimas e depois de ter pronunciado “as orações do rito” designadas, espeta espinhos no corpo do boneco para fazer mal à pessoa que o boneco representa: dores ou doenças vão manifestar-se na vítima nos locais do corpo correspondentes aos mesmos pontos espetados no boneco.
A magia contagiosa assenta no princípio do contato físico ou do contágio. Para exercer a sua ação sobre a pessoa, o bruxo precisa de ter algo que pertença à vítima: cabelos, unhas, pêlos, roupas; também pode ser uma fotografia, de preferência de corpo inteiro, sendo obrigatório ter a cara a descoberto. Uma parte vale para o todo, isto é, a ação exercida sobre uma parte, influirá na totalidade da pessoa.
O bruxo procederá no seu trabalho com fórmulas ou rituais apropriados e indicará momentos preciosos do ano e do dia, com a intervenção dos espíritos que ele invocará para tornar sua obra eficaz. Tratamos deste assunto quando falamos dos bruxedos; no entanto a magia abarca um campo muito mais vasto do que os simples bruxedos e muito mais vasto do que o malefício.
Num dos rituais de iniciação à magia negra utilizado pelos feiticeiros da Ilha de Cabo Verde, afirma-se que o iniciado num certo momento do rito encontrar-se-á diante dum espelho no qual aparecerá satanás para lhe confiar os “poderes” pondo-lhes nas mãos as armas que ele deverá utilizar.
As armas do Cristão para fazer face ao “leão que ruge” são a verdade, a justiça, a fé e a espada de dois gumes da Palavra de Deus. Ao contrário o mago disporá de uma verdadeira espada para ferir os homens; há poderes de destruição, de maldição, de vidência, de pré-vidência, de desdobramento, de cura e ainda outros, consoante o mal que é capaz de fazer, consoante o modo como conseguir entravar os projetos de Deus e, consoante aquilo que está em condições de oferecer ao demônio: além de sua própria pessoa, pode oferecer os seus filhos e ainda outras pessoas, mais ou menos ignorantes que recorrem a ele. O resultado para a vítima, no mínimo, é que adquirirá uma aversão terrível em relação a tudo o que é sagrado (orações, igrejas, imagens sagradas...) além de outros males graves, muito variáveis.
Também pode acontecer isto àquele que pagou o trabalho ao bruxo, uma vez que foi oferecido o “sacrifício” representado por uma oferta, mesmo que modesta, e, concedidas as coisas pedidas, respeitando certas regras sugeridas: visitar sete igrejas, acender velas de determinada maneira, espalhar após, usar certos objetos ou fazê-los usar por outras pessoas, etc. deste modo criam-se ligações mais ou menos fortes com o demônio, com graves conseqüências para a alma e o corpo.
Contactaram várias vezes comigo mães que tinham levado os seus filhos aos bruxos e que tinham feito as crianças usar certas coisas que poderiam ser consideradas pelos inexperientes como ninharias, mas que, por causa dos efeitos maléficos, se tinham revelado realmente como verdadeiros malefícios.
Quando alguém se coloca no campo do inimigo cai no seu poder, mesmo se age de “boa fé” e, só a poderosa mão de Deus pode libertar dessas ligações contraídas.
Às operações da dita alta magia pertencem geralmente as seguintes categorias: sacralizações, consagrações, bênçãos, destituições, excomunhões e maldições. Têm por finalidade transformar os objetos ou as pessoas em “símbolos sagrados” (sagrados para Satanás, naturalmente). O material mágico é “magnetizado” em determinados momentos relevantes da astrologia mágica.
Cada bruxo usa ou prepara para outras “pentáculos” (do grego panta-Klea) (estrela de cinco pontas). Em geral, trata-se de medalhas, cujos símbolos são “catalisadores de energia”. Têm, segundo os bruxos, uma força celeste específica. Outra coisa são os talismãs que lembram os traços distintivos da pessoa que se queria proteger.
A procura dos talismãs são um dos maiores atrativos dos pobres clientes que se sentem vítimas da má sorte, de enguiço, de compreensão, de falta de amor e de pobreza; e estão dispostas a pagar o preço por vezes muito elevado destes objetos que dão sorte, destinados a libertá-las de todas as suas desgraças. Pelo contrário, estes objetos são portadores de uma tal carga negativa, que prejudica não só os que os adquirem, mas também todos os membros da sua família. Para preparar todos estes objetos assim como a maior parte das operações de magia, faz-se largo uso de incenso. É um incenso oferecido a Satanás, em clara oposição com o incenso que no culto litúrgico é oferecido a Deus.
Outras formas de magia incluem a preparação de filtros ou de mistelas que provocam sugestão ou vexação diabólica naquele que ingerir o preparado do bruxo misturado em comida ou bebida. A vítima experimentará no corpo, não só algo de desagradável, mas também a presença dos espíritos maléficos invocados para a preparação do malefício. É bem conhecido o chamado “filtro do amor”, pelo qual os poderes satânicos impõem à vítima uma ligação horrivelmente constrangente (designada igualmente pelo termo ‘amarração’).
A Bíblia fala-nos pela primeira vez do demônio quando ele tenta os nossos primeiros pais sob a forma de uma serpente. Na mitologia a serpente é sempre figurada como símbolo do conhecimento. No Egito a maga Isis conhece os segredos das pedras, das plantas e dos animais, tal como os diferentes tipos de males e os seus remédios: assim pode reanimar o cadáver de Osíris.
A serpente é representada enrolada sobre si mesma e com a cauda na boca, como símbolo do ciclo eterno da vida. Pode-se igualmente mencionar a “boa”, jibóia imperatriz dos Incas, ou a “boa”, jibóia divina dos Indianos.
No culto vodu, a serpente hermafrodita Danbhalaha e Aida Wedo inspira nos seus adeptos com uma certeza e precisão, que dá resultados espetaculares qualquer que seja a hora do dia ou da noite. Esta serpente pretende conhecer todos os segredos do Verbo Criador por meio da “língua mágica”, que se torna mágica pela música sacra.
Trata-se de uma magia haitiana proveniente da África que, associada à magia africana original e à importada da América do Sul (particularmente do Brasil) sob o nome de “macumba” exerce um grande poder maléfico. Já assinalei que os malefícios mais graves que me apareceram para exorcizar provinham do Brasil ou de África.
A civilização moderna fundiu-se, mas não mudou certos costumes; daí a coabitação da ciência com a magia, da religião com as antigas práticas. Ainda hoje e, mais particularmente nas terras pequenas, algumas pessoas muito fervorosas recorrem a “santarrões” (homens ou mulheres) para resolver os problemas mais variados: doenças, mau olhado, procura de um “trabalho” ou de um marido.
São pessoas piedosas “que vão sempre à Igreja”; ainda hoje há mães que, de boa fé, ensinam os filhos os ritos que visam afastar o mau olhado no dia de Natal, ou que colocam ao pescoço dos filhos fios com crucifixos ou medalhas benzidas juntamente com “pêlos de texugo” ou “dentes de lobo” ou “cornos”; todos estes objetos, mesmo que não estejam “carregados” de negatividades transmitidas por rituais mágicos, estabelecem uma ligação com o demônio pelo pecado da superstição.
A magia está sempre associada à adivinhação: querer descobrir o futuro por caminhos tortuosos. Basta pensar na prática muito difundida de deitar cartas isto é, predizer o futuro pelo tarot, que constitui o meio de adivinhação mais utilizado pelos feiticeiros e adivinhos.
Parece que a origem da adivinhação pelas cartas vem do séc. XIII por obra de ciganas que teriam condensado neste “jogo” o seu poder de predizer o futuro. Todas estas práticas são fundadas sobre a doutrina esotérica que visa o esquema de correspondência entre o homem e o mundo divino.
Não me vou deter sobre isto; direi simplesmente que a pessoa ingênua, admirada pela exatidão com que o seu passado lhe foi revelado, experimenta um sentimento de angústia e de desconfiança ou, então pelo contrário, uma vã esperança mas, na maioria dos casos, fica cheia de suspeitas em relação aos seus familiares ou amigos, e sobretudo com uma certa forma de dependência daquele que lhe leu as cartas e a quem vai procurar sempre de futuro.
Todos estes sentimentos podem fazer nascer nela estados de medo, de cólera, de incerteza; terá o desejo de recorrer a práticas de magia ou de procurar talismãs dados como capazes de neutralizar este inimigo interior que ela mesma procurou e que lhe causa doenças, azares, etc.
A pior das magias de origem africana é baseada na feitiçaria (witchcraft) que é a arte de fazer mal aos outros através de vias mágicas e do espiritismo, através do qual pretende pôr-se em contato com o espírito dos defuntos ou com os espíritos superiores.
O espiritismo está presente em todas as culturas e povos. O médium tem o papel de intermediário entre os espíritos e o homem, emprestando a sua energia (voz, gestos, escrita...) ao espírito que se deseja manifestar. Pode acontecer que os espíritos invocados, que são sempre e só demônios, tomem posse sobre algum dos presentes. A igreja sempre condenou as sessões de espiritismo e a participação nelas. Não é consultando satanás que se aprenderá alguma coisa de útil.
- Mas, é verdadeiramente impossível evocar os mortos?
- São sempre e unicamente os demônios que se manifestam durante as sessões dos médiuns?
Sabemos bem que a existência desta dúvida junto dos crentes resulta de uma única exceção. A Bíblia menciona um só e único caso quando Saul se dirige a uma pitonisa e lhe impõe: “Prediz-me o futuro invocando um morto e faz-me chegar aquele que eu te disser” (1 Sm 28,8).
Neste caso, Samuel que tinha morrido havia pouco tempo, apareceu efetivamente. Deus permitiu esta exceção mas lembremos o grito horroroso que a pitonisa deu ao ver Samuel e, sobretudo, a grave reprovação que este fez: “Porque é que me perturbaste invocando-me?” (1 Sm 28,15).
É preciso respeitar os mortos e não os importunar. Sendo o único relato na Bíblia, notemos o seu caráter excepcional. Eu concordo com a opinião de um psiquiatra e exorcista protestante a este respeito: “É puro egoísmo e crueldade querermos ficar agarrados aos nossos defuntos ou querer chamá-los para junto de nós. Eles têm necessidade é da libertação eterna e não de ser envolvidos nas coisas e nas pessoas deste mundo...” (Kenneth McAll, Fino alle radici, Editions Ancora, p. 141).
Imensas pessoas caem nestas ciladas por ignorância ou por falta de fé. Algumas danças, cânticos, costumes, velas, animais, indispensáveis nos vários rituais de magia, vodu ou macumba, podem apresentar-se com um aspecto interessante sob o ponto de vista étnico e folclórico.
O fato de colocar, por exemplo, quatro velas nos quatro ângulos do cruzamento de uma rua, ou de fazer um triângulo de velas em que uma é colocada com a parte de cima virada para baixo, pode parecer um jogo ou uma superstição inofensiva. É tempo de abrir os olhos. Dirijo-me sobre tudo aos padres. É preciso saber que são invocações de espíritos maléficos que podem prejudicar uma determinada pessoa, mas têm sempre como último objetivo afastar a vítima de Deus, conduzi-la ao pecado, à angustia, à alienação e ao desespero.
Perguntaram-me, também, se era possível atingir comunidades de pessoas através da magia. Respondo afirmativamente; este assunto merece só por si um estudo separado. Também aqui, como em todo o meu livro, contento-me em chamar a atenção para as coisas.
É possível que o demônio se sirva de uma pessoa para atingir grupos, mesmo muito numerosos, susceptíveis de dominar até uma nação inteira ou de estender a sua influência sobre várias nações. Penso que, na nossa época, Karl Max, Hitler e Stalin fizeram parte dessas pessoas.
As atrocidades dos nazistas, os horrores do comunismo e os massacres de Stalin atingiram um nível de perfídia verdadeiramente diabólica. Fora do domínio político, não hesito em dizer que certas músicas e certos cantores, cujos concertos provocam um frenesim que pode engendrar manifestações de extrema violência ou de vontade destruidora, são veículos de satanás.
Mas há outros casos, mais fáceis de controlar e de curar (embora as possessões coletivas sejam sempre muito difíceis de curar), em que foram atingidos grupos de alunos ou comunidades como, por exemplo, comunidades religiosas.
É incrível a habilidade para conseguir enganar, e fazer penetrar os piores erros em grupos inteiros. Há quem pense que é mais fácil enganar uma multidão do que um indivíduo. É verdade que o demônio pode atingir grupos mesmo muito numerosos. Assinalemos, contudo, que existe quase sempre, nestes casos, um consenso humano de livre adesão à obra satânica: por interesse, por vício, por ambição, por tantos motivos possíveis.
A influência do demônio sobre a coletividade é uma das mais perigosas e mais poderosas. Daí a insistência dos últimos pontífices a este respeito. Refiro-me aqui ao discurso de Paulo VI em 15 de Novembro de 1972, e ao de João Paulo II em 20 de Agosto de 1986.
Satanás é o nosso pior inimigo e será até ao fim dos tempos: é por isso que ele usa a sua inteligência e os seus poderes para entravar os planos de Deus que, ao contrário, deseja a salvação de todos nós. A nossa força é a Cruz de Cristo, o Seu sangue, as Suas chagas, a obediência às Suas Palavras e à Sua instituição que é a Igreja.
Fonte: Extraído do Livro "Um Exorcista Conta-nos" - Pe. Gabriele Amorth - Ed. Paulinas.