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QUE DEVOÇÃO SE DEVE PRATICAR DURANTE A ELEVAÇÃO?

 

Por Pe. Martinho de Cochem

 

Imediatamente depois da consagração, o sacerdote procede à elevação das santas espécies, cerimônia sublime, prescrita pela santa Igreja, para que o povo possa gozar e aproveitar, mais perfeitamente, da presença real do divino Salvador. É desta elevação e da devoção que, durante ela, se deve praticar, que queremos tratar neste capítulo.

 

Oh! que júbilo pra o céu! Que fonte de salvação para a terra! Que refrigério para as almas do purgatório! Que terror para o inferno! Nesta elevação, se oferece o dom mais precioso que possa ser apresentado ao Altíssimo! Sabes sob que forma a santa humanidade de Jesus é oferecida a seu Pai, pelas mãos do sacerdote? Esta humanidade que é a imagem, muito perfeita, da Santíssima Trindade, jóia única dos tesouros celestes e terrestres.

 

 É oferecida debaixo de várias formas, porque entre as mãos do sacerdote, o Verbo encarna-se novamente, nasce de novo e sofre a Paixão; o suor de sangue, a flagelação, a coroação de espinhos, a crucificação, a morte... oh, que emoção para o coração do Pai eterno, durante esta elevação de seu Filho predileto!

 

Entretanto, o sacerdote não é o único a expor Jesus Cristo aos olhos de seu Pai, o próprio Salvador se expõe: "À elevação, vi Jesus Cristo apresentar-se a seu Pai e oferecer-se de uma maneira que ultrapassa toda a compreensão", refere Santa Gertrudes no seu "Livro das Revelações". Mas, se não podemos fazer idéia deste encontro do Pai com o Filho, a fé deve nos levar a uma oração muito mais fervorosa no momento em que se realiza".

 

São Boaventura convida o sacerdote e os fiéis a dizerem então, ao Pai celeste: "Vede, ó Pai eterno, vede vosso Filho, que o mundo inteiro não pode conter e tornou-se nosso prisioneiro. Não o deixaremos ir sem que nos tenhais concedido o que vos pedimos em seu nome: o perdão de nossos pecados, o aumento da graça, a riqueza das virtudes e alegria da vida eterna".

 

O sacerdote, ao mostrar a sagrada Hóstia, poderia ainda dizer ao povo: "Eis cristãos, vosso divino Salvador, vosso Redentor. Olhai-o com fé viva e derramai vossos corações diante dele em ardentes súplicas. Bem-aventurados os olhos que vêem o que contemplais! Bem-aventurados os que crêem, firmemente, na presença de Jesus Cristo, nesta santa Hóstia!" Se adoras assim, asseguras a salvação de tua alma, e poderás repetir com o patriarca Jacó: "Vi a Deus face a face, a minha alma foi salva" (Gen. 32, 30).

 

À elevação, todo o povo deve levantar os olhos para o altar e olhar, com piedade, o Santíssimo Sacramento. Jesus Cristo revelou a Santa Gertrudes quanto é útil à alma esta prática. "Cada vez, escreve ela, que olharmos para o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, oculto no Sacramento do Altar, aumentamos o grau de nosso mérito para o céu, o prazer, o gozo da vida eterna". Não te inclines, pois, tão profundamente à elevação que te seja impossível ver a sagrada Hóstia.

 

A santa Igreja também não o deseja; ela prescreve ao sacerdote levantar as santas espécies, alguns instantes, acima da cabeça, a fim de que o povo possa vê-las e adorá-las. A eficácia deste olhar para o divino Salvador foi figurada no antigo Testamento: "Ao povo de Israel, que tinha murmurado contra o Senhor e contra Moisés, mandou o Senhor cobras, cujas mordedura queimavam como fogo. Muitos, tendo sido feridos, foram ter com Moisés, dizendo: "Pecamos; roga ao Senhor para que nos livre destas serpentes". Moisés fez uma serpente de bronze, colocou-a como sinal, e os que, sendo feridos, olhavam para ela, ficaram curados" (Num. 21, 8).

 

O santo Evangelho vê, neste fato, um símbolo tocante de Cristo, porque diz: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do homem deve ser levantado sobre a cruz" (Jo. 3, 14). Se a imagem da serpente de bronze tinha a virtude de curar os israelitas e de preservá-los da morte, com maior de razão, a piedosa contemplação do próprio Jesus curará as almas feridas, aflitas e desanimadas.

 

A fim de tornar muito eficaz este olhar para o divino Salvador, faze atos de fé em sua presença real e no Sacrifício que ele oferece a seu Pai celeste, por nós, pobres pecadores. Estes atos de fé valer-te-ão uma insigne recompensa. "Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo. 20, 29). Estas palavras podem bem se aplicar àqueles que têm uma fé viva na presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.

 

Tendo adorado a Santa Hóstia, faze dela oferta ao Rei celeste. Já expusemos a virtude deste ato; acrescentamos somente a seguinte palavra da Santa Gertrudes: "A oblação da sagrada Hóstia é a mais eficaz satisfação por nossas culpas". Com isso quer dizer que, pobres pecadores como somos, devemos concentrar todas as forças de nossa alma, para oferecer a Deus a Hóstia santa, a fim de obter-lhe o perdão e a misericórdia.

 

À elevação da santa Hóstia, sucede a do Cálice sagrado, cerimônia igualmente significativa. É então que o precioso Sangue corre, de maneira mística, sobre os circunstantes, como se vê das palavras do missal: "Isto é o Cálice de meu Sangue, do novo e eterno Testamento: mistério da fé que será derramado por vós e por muitos, para o perdão dos pecados". Neste momento, recebes a mesma graça como se estivesses, cheio de arrependimento, debaixo da Cruz no Calvário e o precioso Sangue te inundasse.

 

Deus disse, no Antigo Testamento, ao povo de Israel: "Imolai um cordeiro e marcai, com seu sangue, as portas e os portais; e o Anjo exterminador passará a porta de vossa casa, quando vir este sangue..." (Ex. 12, 22). Se o sangue do cordeiro pascoal preservou os israelitas dos golpes do Anjo exterminador, mais poderosamente, o Sangue do Cordeiro sem mancha nos protegerá contra a raiva do anjo das trevas que, como um leão rugidor, anda em redor de nós, procurando a quem possa devorar.

 

Vejamos ainda o que devemos fazer depois da elevação do Cálice. Muitas pessoas têm o costume de rezar então cinco Padre-Nossos em honra das cinco chagas; excelente prática, porém muito mal colocada. Outros que se sobrecarregam de orações, continuam a fazê-las. Seria, infinitamente, melhor fazer o que faz o sacerdote; pois, o Sacrifício nos pertence tanto quanto a ele. Apesar das ofertas reiteradas (insistidas, renovadas) antes da elevação, o sacerdote continua a oferecer depois.

        

Nada aliás poderíamos fazer mais agradável a Deus. É por isso que o sacerdote diz, depois de ter posto o Cálice sobre o altar: Por esta razão, Senhor, nós, vossos servos, mas também vosso povo santo... oferecemos à vossa augusta Majestade de vossos dons e dádivas, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna e o Cálice da salvação perpétua".

 

Sanchez diz destas palavras: "Em toda a Missa, o sacerdote não pronuncia palavras mais consoladoras; pois, nem ele nem o povo poderiam fazer cousa melhor do que oferecer a Deus o augusto Sacrifício". Compreende, portanto, como prejudicas a teus interesses, substituindo esta preciosa oferta por tuas pobres e tíbias orações.

 

Criaturas indigentes que somos, desprovidos de méritos e virtudes, como não nos apoderaríamos, avidamente, de imenso tesouro que podemos apresentar, como sucesso, ao Pai celestial? E este tesouro, Deus no-lo dá em cada Missa, e, com ele, nos entrega todas as suas riquezas, para que as empreguemos em saldar nossas dívidas. Oferece, pois, a santa Missa, oferece-a ainda, oferece-a sempre.

 

As pessoas que não sabem ler os excelentes métodos de oferecer o santo Sacrifício, contido nos formulários de orações, podem decorar a oração seguinte:

 

Meu Deus, eu vos ofereço esta Santa Missa; ofereço-vos vosso caro Filho, sua encarnação, seu nascimento, sua dolorosa paixão; ofereço-vos seu suor de sangue, sua flagelação, sua coroação de espinhos, sua via sacra, sua crucificação, sua morte, seu precioso Sangue. Ofereço-vos, para vossa maior glória e a salvação de minha alma, tudo quanto vosso caro Filho fez, padeceu, mereceu, e todos os Mistérios que ele renova nesta santa Missa.
Amém.