Papa Bento XVI 362.PNG

CATEQUESE DO PAPA BENTO XVI

 

AUDIÊNCIA GERAL

 

Reflexões sobre a Peregrinação Apostólica a Colônia por ocasião da Jornada Mundial da Juventude

 

Quarta-feira, 24 de Agosto de 2005

 

Queridos irmãos e irmãs!

 

Como o amado João Paulo II costumava fazer depois de cada peregrinação apostólica, também eu gostaria hoje, juntamente convosco, de percorrer novamente os dias transcorridos em Colónia por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. A Providência divina quis que a minha primeira viagem pastoral fora da Itália tivesse como meta precisamente o meu país de origem e acontecesse por ocasião do grande encontro dos jovens do mundo, a vinte anos da instituição da Jornada Mundial da Juventude, querida com intuição profética pelo meu inesquecível Predecessor.

 

Depois do meu regresso, do fundo do meu coração dou graças a Deus pelo dom desta peregrinação, da qual conservarei uma agradável recordação. Todos sentimos que era um dom de Deus. Sem dúvida, muitos colaboraram, mas no fim a graça deste encontro era um dom do Alto, do Senhor. A minha gratidão dirige-se, ao mesmo tempo, a todos os que com empenho e amor prepararam e organizaram este encontro em cada uma das suas fases: em primeiro lugar, ao Arcebispo de Colónia, o Cardeal Joachim Meisner, ao Cardeal Karl Lehmann, Presidente da Conferência Episcopal, e aos Bispos da Alemanha, com os quais me encontrei precisamente no final da minha visita. Depois, desejo agradecer de novo às Autoridades, às organizações e aos voluntários que ofereceram o seu contributo. Estou grato também às pessoas e às comunidades que, em todas as partes do mundo, o sustentaram com a oração e aos doentes, que ofereceram os seus sofrimentos pelo bom êxito espiritual deste importante encontro.

 

O maravilhoso abraço com os jovens participantes na Jornada Mundial da Juventude começou desde a minha chegada ao aeroporto de Colónia/Bonn e as emoções foram aumentando cada vez mais, ao percorrer o Reno do cais de Rodenkirchenerbrucke até Colónia escoltados por outras cinco embarcações que representavam os cinco continentes. Depois, muito sugestiva, foi a paragem diante do cais do Poller Rheinwiesen onde já se encontravam milhares e milhares de jovens com os quais tive um primeiro encontro oficial, oportunamente chamado "festa de acolhimento" e que tinha como tema as palavras do Magos: "Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?" (Mt 2, 2).

 

Foram precisamente os Magos os "guias" para aqueles jovens peregrinos rumo a Cristo, adoradores do mistério da sua presença na Eucaristia. Como é significativo que tudo isto tenha acontecido quando nos encaminhamos para a conclusão do Ano da Eucaristia querido por João Paulo II! "Viemos adorá-l'O": o tema do Encontro convidou todos a seguir idealmente os Magos, e a fazer juntamente com eles uma viagem interior de conversão rumo ao Emanuel, o Deus connosco, para o conhecer, o encontrar, o adorar e, depois de o ter encontrado e adorado, partir de novo levando no coração, no nosso íntimo, a sua luz e a sua alegria.

 

Em Colónia os jovens tiveram a oportunidade, várias vezes, de aprofundar estas importantes temáticas espirituais e sentiram-se estimulados pelo Espírito Santo a ser testemunhas entusiastas e coerentes de Cristo, que na Eucaristia prometeu permanecer realmente entre nós até ao fim do mundo. Penso de novo nos vários momentos em que tive a alegria de partilhar com eles, especialmente na Vigília do sábado à noite e na Celebração conclusiva de domingo.

 

A estas sugestivas manifestações de fé uniram-se milhões de outros jovens de todas as partes da terra, graças às providenciais transmissões através da rádio e da televisão. Mas gostaria de reevocar aqui um encontro singular, o que tive com os seminaristas, jovens chamados a um seguimento pessoal mais radical de Cristo, Mestre e Pastor. Tinha querido que houvesse um momento específico dedicado a eles, também para realçar a dimensão vocacional típica das Jornadas Mundiais da Juventude. Não são poucas as vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada que desabrocharam, nestes vinte anos, precisamente durante as Jornadas Mundiais da Juventude, ocasiões privilegiadas nas quais o Espírito Santo faz sentir com vigor a sua chamada.

 

No contexto rico de esperança das Jornadas de Colónia, coloca-se muito bem o encontro ecuménico com os representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. O papel da Alemanha no diálogo ecuménico é importante quer para a triste história das divisões quer para a parte significativa desempenhada no caminho de reconciliação.

 

Faço votos para que o diálogo, como intercâmbio recíproco de dons e não só de palavras, contribua também para fazer crescer e amadurecer aquela "sinfonia" ordenada e harmoniosa que é a unidade católica. Nesta perspectiva, as Jornadas Mundiais da Juventude representam um válido "laboratório" ecuménico. E como não reviver com emoção a visita à Sinagoga de Colónia, onde tem sede a mais antiga Comunidade hebraica na Alemanha. Com os irmãos hebreus recordei o Shoà, e o 60º aniversário da libertação dos campos de concentração nazistas. Além disso, celebra-se este ano o 40º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate, que inaugurou uma nova época de diálogo e de solidariedade espiritual entre hebreus e cristãos, assim como de estima pelas outras grandes tradições religiosas.

 

Entre elas, o Islão ocupa um lugar particular, cujos seguidores adoram o único Deus e reconhecem de bom grado o patriarca Abraão. Por este motivo, quis encontrar-me com os representantes de algumas Comunidades muçulmanas, aos quais manifestei as esperanças e as preocupações do difícil momento histórico que estamos a viver, desejando que sejam extirpados o fanatismo e a violência e que juntamente se possa colaborar para defender sempre a dignidade da pessoa humana e tutelar os seus direitos fundamentais.

 

Queridos irmãos e irmãs, do coração da "velha" Europa, que infelizmente conheceu no século passado horrendos conflitos e regimes desumanos, os jovens voltaram a lançar à humanidade do nosso tempo a mensagem da esperança que não desilude, porque se funda na Palavra de Deus que se fez carne em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação. Em Colónia os jovens encontraram e adoraram o Emanuel, o Deus-connosco, no mistério da Eucaristia e compreenderam melhor, que a Igreja é a grande família mediante a qual Deus forma um espaço de comunhão e de unidade entre cada continente, cultura e raça, uma família mais vasta do que o mundo, que não conhece limites nem confins, por assim dizer, uma "grande comitiva de peregrinos" que caminham juntamente com Cristo, guiados por Ele, estrela radiosa que ilumina a história.

 

Jesus faz-se nosso companheiro de viagem na Eucaristia, e na Eucaristia assim disse na homilia da Celebração conclusiva tirando da física uma imagem muito conhecida leva a "cisão nuclear" ao coração mais recôndito do ser. Só esta íntima explosão do bem que vence o mal pode dar vida às transformações necessárias para mudar o mundo. Jesus, o rosto de Deus misericordioso por todos os homens, continua a iluminar o nosso caminho como a estrela que guiou os Magos, e enche-nos com a sua alegria. Por conseguinte, rezemos para que os jovens de Colónia levem consigo, dentro de si, a luz de Cristo, que é verdade e amor e a difundam em toda a parte.

 

Tenho esperança em que, graças à força do Espírito Santo e à ajuda materna da Virgem Maria, possamos assistir a uma grande primavera de esperança na Alemanha, na Europa e no mundo inteiro.

 

© Copyright 2005 - Libreria Editrice Vaticana