Santa Catarina Labouré.PNG

Santa Catarina Labouré
1806-1876

 

> Aparição de Nossa Senhora das Graças.

 

Introdução.

 

Em 9 de outubro de 1815…em Fain-lès-Mouniers, vilarejo da Borgonha de apenas duzentos habitantes, uma menina chora. Ela se chama Catarina Labouré…Não é a única a chorar. É a oitava dos dez filhos que acabam de perder a mãe: Madeleine Gontard, de 46 anos, proprietária de uma fazenda. A morte foi súbita…As duas filhas menores, Catarina e Tonine, irão para a casa de tia Marguerine, irmã do pai, casada com o vinagreiro Antoine Jeanrot, em Sait-Rémy(a 9 quilômetros de Fain). Naquela noite, Catarina e Tonine, de mãos dadas, deixavam a casa paterna por caminhos cujas grandes árvores já começavam a ganhar tons de ouro e púrpura. Ctarina sentia-se duplamente órfã, pois a morte da mãe a a afastava também de seu pai, e essa separação era-lhe dolorosa.

 

Quanto ao vazio deixado pela perda, Catarina encontrara por si mesma uma solução. Naquela manhã, no quarto da falecida, ela subira no móvel em que havia uma imagem de Nossa Senhora e pedira que ela substituísse a mãe. A criada, a quem nada escapava, a tinha visto, e foi quem mais tarde contou o fato a Tonine. Essas lágrimas foram as primeiras e as últimas. Catarina já se fortalecera. A nova Mãe lhe ensinara não a se lamentar, mas a tomar a vida nas mãos.(p.3-5).

 

Atenciosa

 

Havia um odor de vinagre na casa em que Catarina ajudava a tia Jeanrot, sobrecarregada com seu comércio. Assim ela aprendeu a cuidar dos serviços domésticos, o que lhe seria útil.(p.5).

 

Dois anos depois, o pai, que a contragosto decidira a separação, sentiu falta de Catarina… e a chamou de volta para a fazenda.(p.5). Era uma vida rude, e Catarina, a primeira da casa a se levantar: às 4 horas, no verão. O dia nunca era suficientemente longo para todo o trabalho. Diariamente era preciso recomeçar e vencer o cansaço.(p.8).

 

A cada ano, Catarina cumpria melhor o ciclo litúrgico, do Advento à Páscoa…(p.10).

 

Fiel mesmo nas dificuldades

 

Em carta de 15 de setembro de 1844, escrita para a irmã Maria-Louise:

 

Grande religião que há por aqui! Uma missa no domingo, e ainda é preciso que o pároco da região vizinha venha rezá-la. As vésperas são cantadas pelo mestre da escola, sem benção, portanto. Para confessar-se, é preciso ir á busca. Veja só como está assegurado o pouco de religião que temos.

 

Os padres eram então mais raros, e maior o vazio. Para a missa de domingo, Catarina precisava ir a Moutiers, pois o pároco pouco vinha a Fain a não ser para a celebração de Finados, em 2 de novembro. (p.10-p11).

 

“Como eram piedosas as senhoritas de Labouré, Catarina e Tonine!”, observou uma senhora de 88 anos, contemporânea. “Elas não saíam para se divertir como as outras jovens.”

 

Aos 14 anos, Catarina começou a jejuar às sexta-feiras e aos sábados, ao longo do ano todo. Tonine ficou apreensiva. Temia que a irmã esmorecesse no trabalho. Tentou dissuadi-la, em vão. Ameaçou advertir o pai. Catarina não se deixou impressionar: “Pois conte a papai!”. Tonine aceitou o desafio e, dessa vez, o pai deu razão à caçula, Mas Catarina já tinha tomado sua decisão. Respeitava o pai em tudo aquilo que tinha a ver com a ordem da casa, mas aquele jejum era uma questão entre ela e Deus. Do jejum ela extría forças, e isso não dizia respeito a mais ninguém. E continuou a jejuar, sem rancor algum por Tonine. (p.11).

 

Vocação e sonho

 

Eis que certa noite esse apelo tomou a forma de um sonho:Catarina encontrava-se na igreja de Fain, em seu lugar de costume, na capela de Labouré. Rezava. A certa altura, apareceu um velho padre. Ele vestia os paramentos sacerdotais e celebrava a missa no altar branco de moldura dourada. O que a impressionava era seu olhar, quando ele se voltava para dizer o Dominus vobiscum. Quando do Ite missa est, ele lhe fez sinal para que se aproximasse. O medo tomou conta de Catarina. Ela se afastou, mas de costas, fascinada. Não conseguia desprender-se daquele olhar, do qual se lembraria para o resto da vida. Ao sair da igreja, foi visitar uma doente(sempre em sonho); o velho padre a reencontrou e disse: “Minha filha, é bom cuidar dos doentes, Foges de mim agora, mas um dia ficarás feliz em me procurar. Deus tem seus desígnios para ti. Não te esqueças.(p.12).

 

Em Châtillon, era uma felicidade ter a missa tão perto:numa igreja com o santo sacramento e um padre à disposição:o Abade Gaillac, pároco decano, um octogenário(1743-1828). Era fácil se confessar. Certo dia, Catarina foi ver as religiosas na rua de La Juiverie, e eis que no vestíbulo deparou-se com um retrato. Não seria o padre que ela vira em sonho? Quem seria ele? “Nosso pai, São Vicente de Paulo”, informaram as irmãs.

 

A decisão

 

A decisão de Catarina já estava tomada. Mas o que fazer? A entrada no postulado exigiria o consentimento do pai, o que estava fora de questão…

 

Mas eis que, em 3 de maio de 1827, ela completava 21 anos. E dessa vez declarou ao pai sua firme decisão. Ele a rejeitou com veemência. Não reconhecia a maioridade. Já entregara uma filha a Deus: Marie-Louise. Sempre dissera que não entregaria duas.(p.13)

 

Na primavera de 1828, o pai mudou de tática de persuasão. Charles, seu quinto filho, havia estabelecido em Paris, na rua l’Échier, um comércio de vinhos e rolhas…Em 21 de fevereiro de 1828, Charles pediu ajuda. Pois bem, Catarina foi ajudá-lo. A capital despertava as moças, e o restaurante a tornaria cortejada. Para ela, foi sofrimento após sofrimento: depois de desaprovada sua vocação, veio a separação do pai, com quem tinha fortes laços. O irmão tentou-lhe arranjar casamento. A certa altura, o irmão encontrou consolo. Iria se casar novamente em 3 de fevereiro de 1829. Duas mulheres na casa seria demais! Assim, Catarina, aproveitou a oportunidade para voltar a Châtillon, para a casa da prima, que se tornara cunhada devido ao casamento com o mais velho dos irmãos Labouré, Hubert.

 

Catarina escreveu a Marie-Louise a fim de consultá-la, e em resposta recebeu uma carta transbordante de felicidade e ardor: O que significa ser Filha de Caridade? Significa entregar-se a Deus sem reservas, para, entre os pobres, servir àqueles que sofrem…Se, neste momento, alguém tivesse poder suficiente para me oferecer não um reino, mas todo o universo, eu veria isso como um grão de poeira em meu sapato, e estaria bem convencida de que não encontraria nessa posse a felicidade e o contentamento que sinto em minha vocação.(p.15). Catarina corajosamente retomou seu lugar no internato, cujo ambiente lhe era estranho. Mas Irmã Victoire, com quem se abrira, intercedeu por ela junto à superiora, para que o ingresso da Catarina fosse apressado: “Receba-a,” disse ela à superiora(Irmã Cany),“Ela é toda candura e piedade.é uma boa moça de aldeia, como São Vicente aprecia.(p.16).

 

No começo de janeiro de 1830, Irmã Cany enviou parecer favorável à casa-mãe, e , em 14 de janeiro, o conselho a aceitou nos seguintes termos:

 

“Irmã Cany propõe a senhorita Labouré, irmã daquela que é superiora em Castelsarrasin. Ela tem 24 anos e convém à nossa organização:bem devota, de bom caráter, temperamento forte, tem amor pelo trabalho e é bem alegre. Comunga regularmente a cada oito dias. Sua família é íntegra aos costumes e à probidade, mas de pouca fortuna. Instamos que seja acolhida.(p.16).

 

A resposta de Paris chegou em 22 de janeiro. Catarina despediu-se alegremente das pensionistas.

 

A ida para o noviciado (21 de Abril de 1830-30 de Janeiro de 1831)

 

Numa quarta-feira, 21 de abril de 1830..Catarina reencontrava a capital, não mais para o trabalho tenso, a contragosto, do restaurante operário, mas para conhecer a casa de Vicente de Paulo. Os obstáculos haviam sido vencidos.(p.19).

 

As rodas ressoaram sob o pórtico do número 132 da rua dy Bac e, em seguida, sob um segundo pórtico. Ali Catarina descobriu o Hôtel de Chatilly, construído para o prestígio ostensivo da família de Lavallière. As janelas de uma altura desmedida. A escada dupla de pedra com suntuosa balaustrada de ferro forjado(de onde o Papa João Paulo II falaria um século e meio depois..por causa de Catarina) exibia uma suntuosidade bem estranha ao noviciado…iniciou-se um período de festa para o espírito e o coração, pois ali via Deus em primeiro lugar. “Meus pés não tocavam mais o chão”, escreveu Catarina.(p.19-20).

 

As relíquias e aparições de São Vicente de Paulo

 

Eis que uma grande cerimônia parisiense em homenagem a São Vicente veio ao encontro da esperança. Naquele primeiro domingo, as relíquias(escondidas durante a Revolução) seriam solenemente transferidas de Notre-Dame a Saint-Lazare….Não era mais um sonho, mas São Vicente fazia seu coração voar nas asas de um desejo exigente: “Eu lhe pedia todas as graças que me eram necessárias, e também pelas duas famílias, e toda a França. Pareciam-me que precisavam muito disso.(p.21).

 

“Sempre que eu voltava a Saint-Lazare para visitar o famoso relicário, parecia que eu reencontrava São Vicente, ou pelo menos seu coração. Ele me aparecia todas as vezes que eu retornava a Saint-Lazare[na capela da rua Du Bac] acima do relicário onde estavam expostas as pequenas relíquias de São Vicente….Ele apareceu para mim três vezes distintas, três dias seguidos: branco cor de carne, anunciando a paz, a calma, a inocência e a união. Depois, eu o vi em vermelho cor de fogo: que deve iluminar a caridade nos corações. Parecia-me que toda a comunidade devia se renovar e se expandir até os extremos do mundo. Depois o vi em vermelho escuro: o que trouxe tristeza a meu coração. Isso vinha das tristezas que eu achava difícil superar; eu não sabia como nem por que essa tristeza tinha a ver com a mudança de governo.(p.21-22)

 

Milagre Eucarístico – Santa Catarina Labouré

 

De repente na missa, a hóstia tornou-se transparente como um véu. Além da aparência do pão, Catarina viu Nosso Senhor. A visão aconteceu antes que ela tivesse tido tempo para resistir…e o fenômeno repetia-se com freqüência: “Eu via[...]Nosso Senhor no santíssimo sacramento[...] o tempo todo do meu noviciado, afora as vezes em que duvidei: isto é, na vez seguinte não via nada, porque queria aprofundar [...] Eu duvidava desse mistério e julgava me enganar.(p.25)…. Em 6 de junho de 1830, dia da trindade…nova revelação… “Nosso Senhor me apareceu como um rei, com a cruz no peito[sempre], no santíssimo sacramento. Foi durante a santa missa e no momento do evangelho.” (p.25).

 

Primeira aparição de Nossa Senhora (p.26-33)

 

Na noite de 18 de julho…era a véspera da festa de São Vicente. Catarina tinha visto São Vicente, tinha visto Nosso Senhor…Não tinha visto a Virgem Santa. E ei-la transportada por um novo ela: “Eu me deitei com a idéia de que nessa mesma noite eu veria minha boa Mãe. Havia muito desejava vê-la. E foi o que aconteceu.

 

Finalmente, às onze e meia da noite, ouvi um chamado:

 

- Irmã, irmã!

 

Despertei e olhei para o lado  de onde vinha a voz, do lado do corredor. Abri a cortina. Vi então uma criança vestida de branco, de uns 4 ou 5 anos de idade, que me dizia:

 

- Levanta-se depressa e vá à capela, a Virgem Santa a espera! De imediato, veio-me à mente:

 

- Mas ela vai me esperar?

 

A criança me respondeu (mentalmente):

 

- Fique tranqüila, são onze e meia, todos estão dormindo. Venha, estou esperando.

 

Vesti-me rapidamente e fiquei do lado da criança, que permanecera em pé, sem se afastar da cabeceira de meu leito. Ela me seguiu, ou melhor, eu a segui, sempre à minha esquerda, e a criança lançava raios de luz por onde passava. As luzes se acendiam em todos os lugares por onde passávamos, o que me espantava muito. Mas fiquei bem mais surpresa quando entrei na capela…a porta se abriu mal a criança a tocou com a ponta do dedo. Mas a minha surpresa foi ainda maior quando vi todos os círios e archotes acesos, o que me lembrava a missa da meia-noite. No entanto, eu não via a Virgem Santa. A criança me conduziu para dentro do santuário, ao lado da poltrona do Senhor Diretor. Lá me pus de joelhos, e a criança permaneceu em pé o tempo todo. Como julgasse haver demora, olhei para verificar se as vigilantes não passavam pela tribuna. Por fim, chegava a hora, preveniu-me a criança, dizendo:

 

- Eis a Virgem Santa! Ei-la….Não tinha certeza que fosse a Virgem Santa. No entanto, a criança que lá estava me disse:

 

- Eis a Virgem Santa!

 

Não me seria possível dizer o que senti nesse momento, o que se passou dentro de mim. Parecia-me não ver a Virgem Santa. … A criança repetiu: “Eis a Virgem Santa!”Mas Catarina parecia não ouvir.

 

“Foi então que essa criança me falou, não mais como criança, mas como um homem: mais robusto e com as palavras mais fortes. Então, olhando para a Virgem Santa, saltei para perto dela, ajoelhando-me nos degraus do altar, com as mãos apoiadas nos joelhos da Virgem Santa. Passou-me um momento, o mais doce da minha vida. Impossível contar o que senti. Ela me disse como eu deveria me conduzir em relação a meu diretor…o modo de conduzir meus sofrimentos…

 

“Minha filha, o bom Deus quer nos encarregar de uma missão. Você terá muitas dificuldades, mas as superará pensando que cumpre essa missão para a glória do Bom Deus. Será atormentada por isso, a ponto de contar àquele que é encarregado de a dirigir. Será contestada, mas conhecerá a graça. Não tema. Fale com confiança e simplicidade… Os tempos serão difíceis. Infortúnios se abaterão sobre a França. O trono será derrubado O mundo todo será acometido de infortúnios de todo tipo (a Virgem Santa parecia muito aflita ao dizer isso). Mas venha ao pé deste altar. Aqui, as graças serão concedidas a todos, grandes e pequenos, que as pedirem com confiança e fervor.  As graças serão concedidas principalmente àqueles que as pedirem… Vão acontecer grandes infortúnios. O perigo será grande. No entanto, nada tema, diga que nada temam!  Proteção de Deus estará sempre presente de um modo especial, e São Vicente protegerá a comunidade (a Virgem Santa continuava triste). Mas eu mesma estarei ao seu lado. Sempre velei por você. Eu lhe concederei muitas graças. Haverá um momento em que o perigo será grande. Hão de crer que tudo foi perdido. Nesse momento eu estarei com você!”

 

Ali fiquei não sei quanto tempo. Tudo o que sei é que  quando ela partiu percebi que algo se apagava, algo mais que uma sombra que se dirigia para o lado tribuna, mesmo caminho por onde ela tinha chegado. Eu me pus em pé nos degraus do altar e percebi a presença da criança ali onde eu a havia deixado. A criança me disse:

 

- Ela partiu.

 

Retomamos o mesmo caminho, sempre todo iluminado, com a criança sempre à minha esquerda. Creio que essa criança fosse meu anjo da guarda, que se tornara visível para me fazer ver a virgem Maria, pois eu tinha rezado muito para que ele me concedesse esse favor. Ele estava vestido de branco e trazia consigo uma luz milagrosa, isto é, ele era resplandecente de luz: tinha uns quatro ou cinco anos de idade.

 

Segunda aparição de Nossa Senhora (p.34-36)

 

Com efeito, em 27 de dezembro Catarina foi novamente tomada de “um grande desejo de ver a Virgem Santa”: ‘Desejo tão forte que tive a convicção de que a veria em seu mais belo esplendor. Avistei a Virgem Santa na altura do quadro de São José… Em pé, vestida de branco, altura mediana, figura tão bela que me seria impossível falar de sua beleza. Estava com um traje de seda branco-aurora.’

 

A noviça viu na hora da oração um quadro que representa a Virgem Santa tal como é comumente representada sob o título de Imaculada Conceição, em pé, e de braços estendidos. Vestida com um traje branco e manto azul prateado, tinha ela um véu de aurora, e de suas mãos saíam, como em feixes, raios de um brilho fulgurante. A irmã ouviu no mesmo instante uma voz que dizia: “Esses raios são o símbolo das graças que Maria concede aos homens”.(p.35). Ao redor do quadro, ela leu, em letras douradas, a seguinte invocação: "Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

 

Sobre esse ponto só sei expressar aquilo que senti e percebi; a beleza e o brilho, os raios…Estendo essas graças às pessoas que as pedem a mim (ouviu Catarina). Ela me fez compreender o quanto era agradável rogar à Virgem Santa e o quanto ela era generosa com quem lhe rogava. Quantas graças ela concedia a quem as pedia, quantas alegrias sentia ela em concedê-las… Alguns momentos depois, esse quadro se vira e, no reverso ela distingue letra M acima da qual havia uma pequena cruz e, abaixo, os sagrados Corações de Jesus e de Maria. Depois de ela ter observado atentamente tudo isso, disse-lhe a voz: “É preciso mandar cunhar uma medalha conforme esse modelo, e as pessoas que a usarem indulgenciada e disserem com piedade essa curta prece, terão a proteção especial de Deus."

 

Terceira aparição (dezembro de 1830).

 

Mas eis que em dezembro Catarina reviu o ‘quadro’…Dessa vez, a Virgem veio por detrás do altar, e a medalha se apresentou no centro, um pouco atrás do tabernáculo. A Virgem vestia o mesmo traje fechado, cor de aurora, e o mesmo manto azul…Os raios que saíam das mãos “preenchiam toda a parte de baixo de modo a encobrir os pés da Virgem Santa.  E de novo uma voz se fez ouvir ao fundo do coro: “Esses raios são o símbolo das graças que a Virgem Santa concede a quem as pedem”… ‘Não me verás mais, mas ouvirás minha voz durante tuas orações.’

 

Foi o fim das visões. Todas aconteceram na capela da rua Du Bac. Em 30 de janeiro de 1831, Catarina tomava o hábito e, no dia seguinte, deixava o noviciado.

 

Primeiras graças

 

Mal começara a propagação, houve conversões espetaculares e curas. Em Paris, na escola do Louvre, a pequena Caroline Nenain, de 8 anos, a única de sua classe que não usava a medalha, foi também a única atingida pela cólera. As irmãs então lhe deram uma medalha. Ela logo se curou e, no dia seguinte, já voltava para a classe… A partir de agosto de 1833, a medalha se espalhou pela Espanha, onde a invocação de ‘Maria concebida sem pecado’ realizou também maravilhas. Chamaram-na ‘milagrosa’; o título permanecia.(p.43).

 

Votos

 

Em 3 de maio de 1835, domingo do Bom Pastor, pronunciou enfim seus votos na modesta capela de Enghien.

 

Acolhida

 

Era, portanto, responsável pela acolhida aos pobres que batiam à porta – problema constante ao qual não se esquivava e tentava resolver de todo o coração. “Ninguém nunca se queixou de sua acolhida”, testemunhou Irmã Combres no processo (CLM 2, p.314).(p.51).

 

Embora inocente, não se justificava

 

Apesar de tudo, confidencialmente informada da vidência de Catarina, Irmã Dufès a tratava com severidade: “Umas cinco ou seis vezes, relata Irmã Cosnard, ‘vi Catarina de joelhos diante de Irmã Dufès, que a censurava por erros que ela não tinha [cometido] e pelos quais não era responsável. As advertências eram incisivas, muito incisivas. Irmã Catarina, embora inocente, não se justificava. Parecia-me, no entanto, que em sua alma se travava uma luta..a luta terminou com o triunfo da humildade. (p.58-59).

 

Amorosa

 

Quando a jovem Cécile Laporte, de 20 anos, que cuidava da roupa branca, caiu doente ao chegar, em 1868, era Catarina quem ia visitá-la, em meio ao rigoroso inverno. Ela lhe levava um edredom… Certo dia, Cécile recorda, “quando eu entregava ferros para que as irmãs passassem roupa, ela viu que eu estava com calor e me deu um copo de leite.” (p.59).

 

A virgem com o globo

 

Desde 1839, Catarina sentia-se pressionada a erigir um altar e uma imagem comemorativa no local da aparição de 27 de novembro (à direita de quem olha para o altar), e essa imagem teria um globo nas mãos, aspecto até então esquecido. Aladel ficou contrariado com a nova exigência, mas, na obscuridade do confessionário, Catarina insistiu. O padre se exaltou. Seu descontentamento foi maior que a habitual discrição: “Criatura astuciosa”!.. O confessionário tremia, julgou poder comentar uma testemunha. (p.62).

 

“Quando ela apareceu a uma de nossas irmãs, a Virgem Santíssima tinha nas mãos o globo do mundo. Ela o oferecia… Nenhuma gravura das aparições a representa assim. No entanto ela quer que o façam assim, ela quer um altar no local em que apareceu.” (p.106).

 

Deixava o melhor para os doentes e feridos

 

“Eu me lembro de nossa alegria infantil, escreveu Marthe, ao receber dela um pão branco e uma porção de ervilhas com toucinho. Minha irmã, com uma ingenuidade de criança, suplicava: ‘mais ervilha”. Catarina reserva sua generosidade aos doentes e feridos. Ela própria e as irmãs precisam ater-se à porção de subsistência. Irmã Dufès preocupa-se ao vê-las ‘ certos dias a devorar um pedaço  de pão preto e mais nada, depois de um trabalho exaustivo”. (p.69).

 

Morte em 31 de dezembro de 1876

 

Uma irmã chegou com medalhas. Catarina tinha retomado a preparação de pequenos pacotes para a comunidade. Não tendo um número suficiente delas, pedira mais. – Irmã Catarina, aqui estão as medalhas.

 

Dessa vez, ela não respondeu. Irmã Tranchemer colocou em suas mãos as medalhas, que se espalharam pelo lençol. Eram seis e meia. Dessa vez ela partia. …Ela não respondeu, ‘silenciosa na hora da morte assim como o fora durante a vida”. As irmãs passaram a dizer as preces agonizantes já recitadas no dia anterior. E a invocação da medalha: "Ó Maria concebida sem pecado”. Docemente, Catarina expirou, apagou sem agonia….Ela tinha partido. Fecharam-lhe os olhos. Eram sete horas. Essa morte, Catarina. (p.120-122).

 

Fonte: Santa Catarina Labouré – Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa. René Laurentin. Ed. Paulinas. 2009.