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> Via-Sacra do ano 2004 no Vaticano - Meditações do Padre André Louf.

> Via-Sacra do ano 2005 no Vaticano - Meditações do Cardeal Ratzinger.

> Via-Sacra do ano 2007 no Vaticano - Meditações do Mons Gianf. Ravasi

 

 

VIA-SACRA

 

NO COLISEU DE ROMA.

 

#PRESIDIDA PELO SANTO PADRE O PAPA
JOÃO PAULO II

 

SEXTA-FEIRA SANTA DO ANO 2004

 

TEXTOS DE MEDITAÇÃO
PREPARADOS PELO PADRE ANDRÉ LOUF.

 

 

APRESENTAÇÃO

 

Anualmente, na noite de Sexta-feira Santa, memória litúrgica da Paixão do Senhor, a Igreja de Deus que está em Roma, guiada pelo seu Pastor, o Sucessor de Pedro, realiza ao pé do Coliseu o piedoso exercício do "caminho da Cruz". À comunidade cristã de Roma vêm juntar-se ao longo das catorze estações peregrinos de todo o oikumene, enquanto milhões de fiéis de todas as línguas, povos e culturas se associam à oração e meditação através dos meios radiotelevisivos.

 

Neste ano, por uma feliz coincidência de calendário, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram simultaneamente o grande mistério da paixão, morte e ressurreição do único Senhor de todos e, assim, vivem contemporaneamente a memória do acontecimento fontal da sua fé.

 

Neste ano, os textos bíblicos da Via-Sacra são tirados do Evangelho de S. Lucas e os textos de meditação compostos pelo Padre André Louf. Trata-se de um monge cisterciense de estrita observância, que vive já há alguns anos num ermo depois de ter desempenhado o ministério de abade na sua comunidade de Notre-Dame de Monte-des-Cats em França durante trinta e cinco anos, guiando-a no seguimento de Jesus Cristo desde os anos do Concílio Vaticano II até ao limiar do terceiro milênio: um monge radicado na Sagrada Escritura pela prática quotidiana da lectio divina, amante dos Padres da Igreja dos primeiros séculos e dos místicos flamengos; um pai de monges capaz de acompanhar os irmãos na vida espiritual e na busca diária daquele ideal de "um só coração e uma só alma" que caracterizava a comunidade apostólica de Jerusalém.

 

Ou seja, um monge cenobita, para quem solidão e comunhão estão em constante dialética existencial: solidão diante de Deus e comunhão fraterna, unificação interior e união comunitária, redução à simplicitas do essencial e abertura à pluralidade das expressões de fé vivida. Tal é o empenho diário do monge, a dinâmica da sua stabilitas numa determinada realidade comunitária, o "trabalho da obediência" (Regra de S. Bento, Prol. 2) através do qual regressar a Deus.

 

Desta fadiga libertadora do monge, que é fadiga também de todo o batizado membro da comunidade vital da Igreja, estão impregnados os textos propostos para esta Via-Sacra. Diversas vezes Jesus Se acha "sozinho", umas vezes por livre escolha, outras porque todos O abandonaram: está só no Horto das Oliveiras, face a face com o Pai; está só perante a traição de um discípulo e a negação de outro; sozinho enfrenta o Sinédrio, o julgamento de Pilatos, as zombarias dos soldados; sozinho carrega o peso da cruz; sozinho Se abandonará totalmente nos braços do Pai.

 

Mas a solidão de Jesus não é estéril; pelo contrário, brotando duma união íntima com o Pai e o Espírito, cria por sua vez comunhão entre aqueles que entram em relação vivificante com ela.

 

Assim, Jesus na sua paixão encontra o apoio fraterno do Cireneu, conhece a consolação das mulheres-discípulas que tinham subido com Ele a Jerusalém, abre as portas do seu Reino ao centurião e ao bom ladrão que sabem olhar para além das aparências, vê constituir-se ao pé da cruz o embrião da comunidade formado por sua Mãe e pelo discípulo amado.

 

Por último, mesmo no momento aparentemente de maior solidão - a deposição no sepulcro - quando o seu corpo é engolido pela terra, dá-se a passagem a uma renovada comunhão cósmica: tendo descido aos infernos, Jesus encontra a humanidade inteira em Adão e Eva, anuncia a salvação "aos espíritos que estavam no cárcere" (I Ped 3, 19) e restabelece a comunhão paradisíaca.

 

Deste modo, participar na Via-Sacra significa, para todo o discípulo de Jesus Cristo, entrar no mistério de solidão e de comunhão vivido pelo Mestre e Senhor, aceitar a vontade do Pai a seu respeito até enxergar, para além do sofrimento e da morte, a Vida sem fim que brota do peito trespassado e do sepulcro vazio.

 

 

 

ORAÇÃO INICIAL

 

O Santo Padre:

 

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

 

R. Amém.

 

Irmãos e irmãs, mais uma vez nos reunimos para seguir o Senhor Jesus pelo caminho que O conduz ao Calvário. Lá encontraremos as pessoas que O seguiram até ao fim - a Mãe, o Discípulo amado, as mulheres que O seguiram durante o anúncio da boa nova... - e quantos, movidos de compaixão, procuraram consolá-Lo e aliviar a sua dor.

 

Encontraremos também aqueles que decidiram a sua morte e que Ele, num amor desmesurado, perdoou. Peçamos-Lhe que infunda no nosso coração os mesmos sentimentos que havia n'Ele (Fil 2, 5) a fim de podermos "conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição, e à comunhão nos seus sofrimentos, configurando-nos à sua morte para ver se podemos chegar à ressurreição dos mortos" (Fil 3, 10-11).

 

Neste ano, em que a data da Páscoa providencialmente coincide em todas as Igrejas, o nosso pensamento alarga-se a todos os discípulos de Jesus, que no mundo comemoram neste mesmo dia a sua morte e a sua deposição no túmulo.

 

Oremos:

 

(Breve pausa de silêncio)

 

Jesus, vítima inocente do pecado, acolhei-nos como companheiros do vosso caminho pascal, que conduz da morte à vida e ensinai-nos a viver o tempo que passamos na terra radicados na fé em Vós, que nos amastes e Vos entregastes a Vós mesmo por nós (Gal 2, 20). Vós sois Cristo, o único Senhor, que vive e reina pelos séculos dos séculos.

 

R. Amém.

 

 

 

 

PRIMEIRA ESTAÇÃO


Jesus no Horto das Oliveiras
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 39-46

 

Jesus saiu, então, e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: "Orai para que não entreis em tentação". Depois afastou-Se bruscamente deles até à distância de um tiro de pedra, aproximadamente, e, posto de joelhos, começou a orar dizendo: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua".

 

Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos encontrando-os a dormir devido à tristeza. Disse-lhes: "Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação".

 

MEDITAÇÃO

 

Chegado ao limiar da sua Páscoa, Jesus está na presença do Pai. Como poderia ter sido de outro modo se o seu secreto diálogo de amor com o Pai nunca cessara? "Chegou a hora" (Jo 16, 32), a hora pressentida desde o princípio, anunciada aos discípulos, que não se parece com nenhuma outra, que a todas inclui e condensa precisamente quando estão para se cumprir nos braços do Pai.

 

E inesperadamente aquela hora mete medo. Deste medo nada nos é ocultado. Mas lá, no auge da angústia, Jesus refugia-Se junto do Pai em oração. No Getsêmani, naquela noite, vive-se uma luta corpo a corpo extenuante tão áspera que, no rosto de Jesus, o suor muda-se em sangue.

 

E Jesus ousa pela última vez, diante do Pai, manifestar a angústia que O invade: "Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua" (Lc 22, 42). Duas vontades se defrontam por momentos, para depois confluírem num abandono de amor já anunciado por Jesus: É preciso "que o mundo saiba que Eu amo o Pai, que faço como o Pai Me mandou" (Jo 14, 31).

 

ORAÇÃO

 

Jesus, irmão nosso, que, para abrir a todos os homens o caminho da Páscoa, quisestes experimentar a tentação e o medo, ensinai-nos a refugiarmo-nos junto de Vós, e a repetir as vossas palavras de abandono e adesão à vontade do Pai, que, no Getsêmani, mereceram a salvação do universo. Fazei que o mundo conheça, através dos vossos discípulos, a força do vosso amor sem limites (Jo 13, 1), do amor que consiste em dar a vida pelos amigos (Jo 15, 13). Jesus, no Horto das Oliveiras, sozinho, perante o Pai, renovastes a adesão à sua vontade.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

 

 

SEGUNDA ESTAÇÃO


Jesus, atraiçoado por Judas, é preso.

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 47-48

 

Ainda Jesus estava a falar quando surgiu uma multidão de gente, precedendo-os um dos doze, chamado Judas, que caminhava à frente, e aproximou-se de Jesus para O beijar. Jesus disse-lhe: "Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?"

 

MEDITAÇÃO

 

Desde a primeira vez que Judas é nomeado, aparece indicado como aquele "que veio a ser o traidor " (Lc 6, 13; cf. Mt 10, 4; / Mc 3,19); o trágico apelativo de "traidor" ficará ligado para sempre à sua lembrança. Como pôde chegar a isto um que Jesus escolhera para O seguir mais de perto? Ter-se-á Judas deixado levar por um amor contrariado por Jesus que se transformou em suspeita e ressentimento? Tal o faria crer o beijo, gesto que significa amor, mas que serviu para entregar Jesus aos soldados.

 

Ou terá sofrido uma desilusão com um Messias que se subtraía à função política de libertador de Israel do domínio estrangeiro? Judas não tardará a dar-se conta de que a sua subtil chantagem se conclui num desastre. É que ele desejara, não a morte do Messias, mas apenas que Se rebelasse e assumisse uma atitude decidida. E então: em vão chora o seu gesto e se desfaz do salário da traição (Mt 27, 4-5), porque se entrega ao desespero. Quando Jesus falar de Judas como "filho da perdição", limitar-Se-á a recordar que assim se cumpria a Escritura (Jo 17, 22).


Um mistério de iniqüidade que nos ultrapassa mas que não pode sobrepor-se ao mistério da misericórdia.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, amigo dos homens, viestes à terra e revestistes a nossa carne, para oferecer a vossa solidariedade aos vossos irmãos e irmãs da humanidade Jesus, manso e humilde de coração, dais alívio a quantos sofrem sob o peso do seu fardel (Mt 11, 29); e no entanto a oferta do vosso amor muitas vezes foi rejeitada! Mesmo entre aqueles que Vos aceitaram houve quem Vos renegasse, quem traísse o compromisso assumido. Mas Vós nunca deixastes de amá-los, a ponto de abandonar todos os outros para ir à procura deles, com a esperança de os trazer novamente a Vós, carregados aos ombros (Lc 15, 5), ou reclinados ao peito (Jo 13, 25). Entregamos à vossa infinita misericórdia os vossos filhos tentados pelo desânimo ou pelo desespero. Concedei-lhes a graça de procurarem refúgio junto de Vós, e de "nunca desesperarem da vossa misericórdia" (Regra de S. Bento, 3, 74).

 

Jesus, Vós continuais a amar quem recusa o vosso amor e, incansável, procurais quem Vos atraiçoa e abandona.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.

 

 

 

 

TERCEIRA ESTAÇÃO


Jesus é condenado pelo Sinédrio
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 66-71

 

Quando se fez dia, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, príncipes dos sacerdotes e escribas, os quais O levaram ao seu tribunal. Disseram-Lhe: "Declara-nos se Tu és o Messias". Ele respondeu-lhes: "Se vo-lo disser, não Me acreditareis e, se vos perguntar, não respondereis. Mas o Filho do Homem sentar-Se-á, doravante, à direita do poder de Deus". Disseram todos: "Tu és, então, o Filho de Deus?" Ele respondeu-lhes: "Vós o dizeis, Eu sou". Então, exclamaram: "Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca".

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus está só diante do Sinédrio.

 

Os discípulos fugiram. Desorientados pela prisão à qual algum procurou reagir com a violência. Fugiu também aquele que pouco antes exclamara: "Vamos nós também, para morrermos com ele" (Jo 11, 16). O medo venceu-os. A brutalidade do fato prevaleceu sobre o seu frágil propósito. Cederam, arrastados pela corrente da vilania. Deixam que Jesus enfrente, sozinho, a sua sorte. E todavia formavam o círculo dos seus íntimos, Jesus tinha-os designado como os seus "amigos" (Jo 15, 15).

 

Agora, ao seu redor, só uma assembléia hostil, unânime em querer a sua morte. Já mais vezes se estendera sobre Jesus a sombra da morte, quando aludia à sua origem divina. Já outras vezes quem O escutava tentara lapidá-Lo. "Não é por alguma obra que Te apedrejamos - afirmavam -, é por blasfêmia, porque, sendo Tu homem, Te fazes Deus" (Jo 10, 33). Agora o Sumo Sacerdote intima-Lhe que declare, diante de todos, se é Filho de Deus ou não. Jesus não Se subtrai: com a mesma gravidade o atesta. Deste modo assina a sua própria sentença de morte.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, testemunha fiel (Ap 1, 5), face à morte confessastes serenamente a vossa identidade divina e anunciastes o vosso regresso glorioso no fim dos tempos  para levar a cumprimento a obra que o Pai Vos confiara. Confiamos à vossa  misericórdia as nossas dúvidas, as contínuas oscilações entre ímpetos de generosidade e momentos de indolência, em que deixamos "os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza" (Mt 13, 22) sufocar a centelha que o vosso olhar ou a vossa Palavra fez saltar dos nossos corações endurecidos. Encorajai aqueles que começaram a seguir o vosso caminho, para que não se assustem diante das dificuldades e renúncias pressentidas. Recordai-lhes que sois manso e humilde de coração e é suave o vosso jugo e leve o fardo. Concedei-lhes experimentar o alívio que só Vós podeis oferecer (Mt 11, 28-30). 

 

Jesus, sereno face à morte iminente, único justo perante o injusto Sinédrio.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!

 

 

 

QUARTA ESTAÇÃO


Jesus é renegado por Pedro
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 54b-62

 

Pedro seguia Jesus de longe. Como tivessem acendido uma fogueira no meio do pátio e se tivessem sentado, Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: "Este também estava com Ele". Mas Pedro negou-o, dizendo: "Não O conheço, mulher". Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: "Tu também és dos tais". Mas Pedro disse: "Homem, não sou". Cerca de uma hora mais tarde, um outro asseverou com insistência: "Com certeza este também estava com Ele, pois até é galileu". Pedro respondeu: "Homem, não sei o que dizes". E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-Se, o Senhor fixou os olhos em Pedro, e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: "Antes de o galo cantar, negar-Me-ás três vezes". E, vindo para fora, chorou amargamente.

 

MEDITAÇÃO

 

Dos discípulos em fuga, dois voltam atrás, seguindo à distância os soldados e o seu prisioneiro. Um misto de afeto e curiosidade, talvez; falta de consciência do risco. Não demora muito que Pedro seja reconhecido: a denunciá-lo o acento Galileu e o testemunho de quem o viu desembainhar a espada no Horto das Oliveiras. Pedro refugia-se na mentira: nega tudo.

 

Não se dá conta de que assim renega o seu Senhor, desmente as suas ardentes declarações de fidelidade absoluta. Não compreende que assim nega também a sua própria identidade. Mas um galo canta, Jesus volta-Se, pousa o seu olhar sobre Pedro e dá sentido àquele canto.

 

Pedro compreende e prorrompe em lágrimas. Lágrimas amargas, mas suavizadas pela recordação das palavras de Jesus: "Não vim para condenar o mundo, mas para o salvar" (Jo 12, 47). Agora repete-as aquele olhar "misericordioso e compassivo", o mesmo olhar do Pai, "tardo na ira e grande no seu amor", que "não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas" (Sal 103/102, 8.10). Pedro abisma-se naquele olhar. Na manhã de Páscoa as lágrimas de Pedro serão lágrimas de alegria.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, única esperança daqueles que, frágeis e feridos, caem; Vós conheceis o que há no interior de cada homem (Jo 2, 25). A nossa fragilidade aumenta o vosso amor e suscita o vosso perdão. Fazei que, à luz da vossa misericórdia, reconheçamos os nossos passos falsos e, salvos pelo vosso amor, proclamemos as maravilhas da vossa graça. Concedei a quantos exercem autoridade sobre os irmãos que se gloriem, não de ter sido escolhidos, mas da sua fragilidade pela qual habite neles a vossa força (II Cor 12, 9).

 

Jesus, pousando o olhar sobre Pedro, suscitais lágrimas amargas de arrependimento, rio de paz de um novo batismo.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quæ mærebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
Nati pœnas incliti.

 

 

 

 

QUINTA ESTAÇÃO


Jesus é julgado por Pilatos


 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 13-25

 

Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: "Trouxestes este Homem à minha presença como andando a revoltar o povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n'Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-Lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-Lo, depois de O castigar". (...) E todos se puseram a gritar: "Dá morte a esse e solta-nos Barrabás!" Este último foi metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por um homicídio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: "Crucifica-O! Crucifica-O!" Pilatos disse-lhes pela terceira vez:"Que mal fez ele então? Nada encontrei n'Ele que mereça a morte. Libertá-Lo-ei, portanto, depois de O castigar". Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Pilatos, então, decretou que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.

 

MEDITAÇÃO

 

Um homem sem culpa alguma está diante de Pilatos. A lei e o direito cedem ao arbítrio de um poder totalitário, que procura o consenso das multidões. Num mundo injusto, o justo não pode senão ser rejeitado e condenado. Viva o homicida, morra Aquele que dá a vida. Liberte-se Bar-Abbà, o insurrecto chamado "filho do Pai", seja crucificado Aquele que revelou o Pai e é o verdadeiro Filho do Pai.

 

Outros, não Jesus, são os agitadores do povo. Outros, não Jesus, fizeram o que é mal aos olhos de Deus. Mas o poder teme pela sua própria autoridade, renuncia à credibilidade que lhe vem de praticar a justiça, e abdica.

 

Pilatos, a autoridade que tem poder de vida e de morte, Pilatos, que não hesitara em sufocar no sangue focos de revolta (Lc 13, 1), Pilatos, que governava com mão de ferro aquela obscura província do Império, sonhando domínios mais amplos, abdica, entrega um inocente, e com ele a própria autoridade, a uma multidão vociferante. Aquele que no silêncio Se tinha abandonado à vontade do Pai acaba assim abandonado à vontade de quem grita mais forte.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, cordeiro inocente levado ao matadouro (Is 53, 7) para tirar o pecado do mundo (Jo 1, 29), dirigi o vosso olhar de ternura para todos os inocentes perseguidos, aos prisioneiros que gemem em cárceres infames, às vítimas do amor pelos oprimidos e pela justiça, a quantos não entrevêem o fim de um longa pena não merecida. A vossa presença, intimamente sentida, suavize a sua amargura e dissipe a escuridão da prisão. Fazei que nunca nos resignemos a ver em cadeias a liberdade que destes a todo o homem, criado à vossa imagem e semelhança.

 

Jesus, manso rei de um reino de justiça e de paz, resplandeceis vestido com um manto de púrpura: o vosso sangue derramado por amor.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis est homo qui non fleret,
Matrem Christi si videret
in tanto supplicio?

 

 

 

SEXTA ESTAÇÃO


Jesus é flagelado e coroado de espinhos

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelhos segundo São Lucas e São João Lc 22, 63-65; Jo 19, 2-3

 

Entretanto os que guardavam Jesus troçavam d'Ele e maltratavam-n'O. Cobriam-Lhe o rosto e perguntavam-Lhe: "Adivinha! Quem Te bateu?" E muitos outros insultos proferiram contra Ele. E os soldados, depois de tecerem uma coroa com espinhos, puseram-Lha na cabeça e envolveram-n'O com um manto de púrpura. Depois avançavam para Ele e diziam: "Salve, ó Rei dos Judeus"!

 

MEDITAÇÃO

 

À iníqua condenação junta-se o ultraje da flagelação. Entregue nas mãos dos homens, o corpo de Jesus é desfigurado. Aquele corpo recebido da Virgem Maria, que fazia de Jesus "o mais belo dos filhos dos homens", que irradiava a unção da Palavra - "em teus lábios se derramou a graça" (Sal 45/44, 3), é agora cruelmente dilacerado pelo azorrague.

 

O rosto transfigurado no Tabor é desfigurado no pretório: rosto de quem, insultado, não responde de quem, flagelado, perdoa de quem, tornado escravo sem nome, liberta a quantos jazem na escravidão. Jesus avança decididamente pelo caminho da dor, cumprindo na carne viva, que se torna viva voz, a profecia de Isaías: "Aos que Me feriam apresentei as costas, e a minha face aos que Me arrancavam a barba: não desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam e cuspiam" (Is 50, 6). Profecia que se abre para um futuro de transfiguração.

 

 

ORAÇÃO

 

Jesus, "resplendor da glória do Pai e imagem da sua substância" (Heb 1, 3), aceitastes ser reduzido a um frangalho humano, um condenado ao suplício, que dá pena. Tomastes sobre Vós os nossos sofrimentos, tínheis carregado as nossas dores, éreis esmagado pelas nossas iniqüidades (Is 53, 4-5). Com as vossas feridas, sarai as feridas dos nossos pecados. Concedei a quantos são injustamente desprezados e marginalizados, a quantos foram desfigurados pela tortura ou pela doença, compreender que, crucificados convosco e como Vós para o mundo (Gal 2, 19), completam o que falta à vossa Paixão para a salvação do homem (Col 1, 24).

 

Jesus, pedaço de humanidade profanada, em Vós se revela a sacralidade do homem: arca do amor que paga o mal com o bem.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Pro peccatis suae gentis
vidit Iesum in tormentis
et flagellis subditum.

 

 

 

SÉTIMA ESTAÇÃO


Jesus é carregado com a Cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Marcos 15, 20

 

Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Levaram-n'O, então, para fora para O crucificarem.

 

MEDITAÇÃO

 

Fora. O justo, injustamente condenado, deve morrer fora: fora do acampamento, fora da cidade santa, fora da sociedade humana. Os soldados despojam-n'O e revestem-n'O: Ele já não pode dispor sequer do seu próprio corpo.

 

Carregam-Lhe sobre os ombros um madeiro, parte pesada do patíbulo, sinal de maldição e instrumento de execução capital. Madeiro de ignomínia, que pesa, como fardo extenuante, sobre os ombros curvados de Jesus. O ódio, de que está impregnado, torna insuportável o seu peso. E no entanto aquele madeiro da cruz é resgatado por Jesus, torna-se sinal de uma existência vivida e oferecida por amor dos homens. Segundo a tradição, Jesus vacila, por três vezes cairá sob aquele peso. Jesus não pôs limites ao seu amor: "tendo amado os seus, amou-os até ao fim" (Jo 13, 1). Obediente à palavra do Pai - "Amarás ao Senhor, teu Deus, com todas as tuas forças " (Dt 6, 5) - amou a Deus e cumpriu a sua vontade até ao fim.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, rei da glória, coroado de espinhos, curvado sob o peso da cruz que mãos humanas prepararam para Vós, imprimi em nossos corações a imagem do vosso rosto coberto de sangue, para nos recordar que nos amastes até Vos entregardes Vós mesmo por nós (Gal 2, 20). Que o nosso olhar nunca se separe do sinal da nossa salvação, erguido no coração do mundo, para que, contemplando-o e crendo em Vós, não nos percamos, mas tenhamos a vida eterna (Jo 3, 14-16). Jesus, sobre os vossos ombros dilacerados pesa o patíbulo ignóbil: por vosso merecimento a cruz torna-se constelação de gemas e a árvore do Paraíso volta a ser árvore da Vida.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis non posset contristari,
Christi Matrem contemplari,
dolentem cum Filio?

 

 

 

OITAVA ESTAÇÃO

 

Jesus é ajudado pelo Cireneu a levar a Cruz

 

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 26

 

Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus.

 

MEDITAÇÃO

 

Ainda não brilham no céu as primeiras estrelas que anunciam o sábado, mas Simão já regressa a casa do trabalho nos campos. Soldados pagãos, que nada sabem do repouso do sábado, detêm-no. Colocam sobre os seus ombros robustos aquela cruz que outros tinham prometido levar dia após dia atrás de Jesus.

 

Simão não escolhe: recebe uma ordem, sem saber ainda que acolhe um dom. É típico dos pobres nada poderem escolher, nem sequer o peso dos próprios sofrimentos. Mas é característico dos pobres ajudar outros pobres, e ali está um mais pobre que Simão: está para ser privado até mesmo da vida.

 

Ajudar sem fazer perguntas, sem demandar porquê: demasiado pesado o peso para o outro, os meus ombros, porém, ainda o regem. E isto basta. Virá o dia em que o mais pobre dos pobres dirá ao companheiro: "Vem, bendito de meu Pai, entra na minha alegria: estava esmagado sob o peso da cruz e tu Me aliviaste".

 

ORAÇÃO

 

Jesus, tomastes resolutamente o caminho que conduz a Jerusalém (Lc 9, 51); os vossos sofrimentos tornaram-Vos o guia dos homens pelo caminho da salvação (Heb 2, 10). Sois o nosso precursor pela estrada da vossa Páscoa (Heb 6, 20). Vinde em ajuda de todos aqueles que, conscientemente ou constrangidos por fatos obscuros, seguem os vossos passos, Vós que dissestes: "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados" (Mt 5, 4), Jesus, aliviado do peso da cruz por Simão de Cirene, para que ele, ignaro companheiro no caminho do sofrimento, se tornasse vosso amigo e hóspede na morada da glória eterna.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati,
poenas mecum divide.

 

 

 

 

NONA ESTAÇÃO


Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 27-31

 

Seguiam-n'O uma grande massa de povo e umas mulheres que se lamentavam e choravam por Ele. Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: "Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos, pois virão dias em que se dirá: 'Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram'. Hão-de então dizer aos montes: 'Caí sobre nós!', e às colinas: 'Cobri-nos'. Porque se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?"

 

MEDITAÇÃO

 

O cortejo do condenado avança. Como escolta: soldados e um punhado de mulheres em lágrimas, mulheres que subiram da Galileia a Jerusalém com Ele e os discípulos. Conhecem aquele homem. Ouviram a sua palavra de vida, amam-n'O como mestre e profeta. Esperavam que fosse Ele quem havia de libertar Israel? (Lc 24, 21).

 

Não o sabemos, mas agora choram por aquele homem como se chora por uma pessoa amada, como Ele tinha chorado pelo amigo Lázaro. Ele irmana-as no seu sofrimento, uma nova luz ilumina a dor que sentem. A voz de Jesus fala de juízo, mas chama à conversão; anuncia sofrimentos, mas como as dores de um parto. A madeira verde há-de reaver a vida e a madeira seca terá parte nela.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, rei glorioso, coroado de espinhos, o rosto coberto de sangue e escarros, ensinai-nos a buscar incessantemente o vosso rosto (Sal 27/26, 8) para que a sua luz ilumine o nosso caminho (Sal 89/88, 16); ensinai-nos a discerni-lo sob os traços do homem ferido pela doença, prostrado pelo desânimo, envilecido pela injustiça. Fazei que estejam impressos nos nossos olhos os traços do vosso rosto amável, de que vossos "irmãos mais pequeninos" (Mt 25, 40) são um luminoso reflexo, sacramento da vossa presença no meio de nós. Jesus, acompanhado até à colina do Calvário por um cortejo de mulheres em lágrimas: elas conheceram o vosso rosto de luz, a vossa palavra de graça.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.


Eia, mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.

 

 

 

DÉCIMA ESTAÇÃO


Jesus é crucificado

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 33.47b

 

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n'O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. (...) O centurião deu glória a Deus, dizendo: "Verdadeiramente, este homem era justo!"

 

MEDITAÇÃO

 

Uma colina fora da cidade, um abismo de dor e humilhação. Suspenso entre o céu e a terra está um homem: cravado na cruz, suplício reservado aos amaldiçoados de Deus e dos homens. Junto d'Ele, outros condenados que já não são dignos do nome de homem. E no entanto Jesus, que sente o seu espírito a abandoná-Lo, não abandona os outros homens, estende os braços para acolher a todos, Ele que já ninguém quer acolher.

 

Desfigurado pela dor, ferido pelos ultrajes, o rosto daquele homem fala ao homem de uma outra justiça. Derrotado, escarnecido, difamado aquele condenado restitui a dignidade a todo o homem: A quanta dor pode levar o amor! Por quanto amor, o resgate de toda a dor! "Verdadeiramente, aquele homem era justo" (Lc 23, 47b).

 

ORAÇÃO

 

Jesus, no seio do vosso povo, só um pequenino rebanho, ao qual aprouve ao Pai dar o seu Reino (Lc 12, 32), Vos reconheceu como Senhor e Salvador mas o vosso Espírito depressa fará deles testemunhas "em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até aos confins do mundo" (Atos 1, 8). Concedei àqueles que pela terra inteira anunciam a vossa Palavra, ousadia (Fil 1, 14) e liberdade (Flm 8) gloriosas, pelas quais o vosso Espírito irrompe com a força da Páscoa e a linguagem da cruz, escândalo aos olhos do mundo, torna-se sabedoria para aqueles que acreditam (I Cor 1, 17ss).

 

Jesus a vossa morte, oblação pura para que todos tenham a vida, revelou a vossa identidade de Filho de Deus e Filho do homem.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum,
ut sibi complaceam.

 
 

 

 

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO


Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 33-34.39-43

 

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n'O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: "Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem". (...)Um dos malfeitores, que tinham sido crucificados, insultava-O, dizendo: "Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também". Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: "Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça pois recebemos o castigo que as nossas ações mereciam, mas Ele nada praticou de condenável". E acrescentou: "Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu reino". Ele respondeu-lhe: "Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo no Paraíso".

 

MEDITAÇÃO

 

O lugar do Calvário, sepulcro de Adão, o primeiro homem, patíbulo de Jesus, o homem novo. O madeiro da cruz, instrumento de morte exibida, arca de perdão concedido. Junto de Jesus, que passou por entre o povo fazendo o bem, dois homens condenados por terem feito o mal. Outros dois tinham pedido para estarem um à direita e outro à esquerda de Jesus, declararam-se inclusive dispostos a sofrer o mesmo batismo, a beber do mesmo cálice (Mc 10, 38-39).

 

Mas, nesta hora, não estão aqui, outros os precederam no lugar do Calvário. Destes um invoca um Messias que Se salve a Si mesmo e a eles dois, ali e já, o outro recomenda-se a Jesus para que Se lembre dele quando entrar no seu Reino.

 

Quem compartilha as zombarias da multidão não recebe resposta, quem reconhece a inocência de um condenado à morte obtém uma promessa imediata de vida.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, amigo dos pecadores e dos publicanos (Mt 9, 11; 11, 19; Lc 15, 1-2), Vós viestes salvar, não os justos, mas os pecadores (Mt 9, 13) e quisestes dar-nos a prova do vosso "amor desmedido" (Ef 2, 4 Vulgata) e da abundância da vossa misericórdia, aceitando morrer por nós quando éramos ainda pecadores (Rom 5, 8). Pousai sobre nós o vosso olhar de bondade e, depois de termos saboreado a amargura purificadora da humilhação, acolhei-nos nos vossos braços, seguros da misericórdia paterna, e transformai com o vosso perdão a lama do pecado em veste de glória. Jesus, proclamado inocente por um malfeitor, companheiro de pena: para Vós e para o vosso companheiro chegou a hora de entrar no Reino.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Sancta Mater, istud agas,

Crucifixi fige plagas
cordi meo valide.

 

 

 

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO

 

Jesus na Cruz, a Mãe e o Discípulo.
 

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São João 19, 25-27

 

Junto da cruz de Jesus, estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria de Magdala. Ao ver sua mãe e, junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Depois disse ao discípulo: "Eis aí a tua mãe". E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-A em sua casa.

 

MEDITAÇÃO

 

Em redor da cruz, gritos de ódio, ao pé da cruz, presenças de amor.

 

Está ali, firme, a mãe de Jesus. Com ela, outras mulheres, unidas no amor pelo moribundo. Junto dela, o discípulo amado, não outros. Só o amor soube superar todos os obstáculos, só o amor perseverou até ao fim, só o amor gera outro amor.

 

E ali, aos pés da cruz, nasce uma nova comunidade, ali, no lugar da morte, surge um novo espaço de vida: Maria acolhe o discípulo como filho, o discípulo amado acolhe Maria como mãe. "Acolheu-a como um dos seus bens mais queridos" (Jo 19, 27), tesouro inalienável do qual se fez guardião. Só o amor pode guardar o amor, só o amor é mais forte do que a morte (Ct 8, 6).

 

ORAÇÃO

 

Jesus, Filho dileto do Pai, aos tormentos sofridos na cruz junta-se o de ver junto de Vós a vossa Mãe abatida pela dor. Confiamo-Vos a desolação e a revolta dos pais desvairados diante dos sofrimentos ou da morte de um filho; confiamo-Vos o desalento de tantos órfãos, de filhos abandonados ou deixados sozinhos. Vós estais presente nos seus sofrimentos como o estáveis na cruz, junto da Virgem Maria. Venha o dia do encontro, quando toda a lágrima será enxugada e a alegria não terá fim. Jesus, moribundo na cruz confiais a Mãe ao Dileto, o Apóstolo virgem, à Virgem pura que Vos trouxe no seio.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac me vere tecum flere,
Crucifixo condolere,
donec ego vixero.

 

 

 

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO


Jesus morre na Cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 44-46

 

Por volta da hora sexta, as trevas cobriram toda a terra, até à hora nona, por o sol se haver eclipsado. O véu do Templo rasgou-se ao meio, e Jesus exclamou, dando um grande grito: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Dito isto, expirou.

 

MEDITAÇÃO

 

Depois da agonia do Getsêmani, Jesus, na cruz, está de novo diante do Pai.


No auge de um sofrimento indizível, Jesus volta-Se para Ele, reza-Lhe. A sua oração é primeiramente uma imploração de misericórdia para os algozes. Depois, aplicação a Si mesmo da palavra profética dos Salmos:manifestação de um sentimento de abandono dilacerante, que chega no momento crucial, quando se experimenta com todo o ser o desespero a que conduz o pecado que separa de Deus.

 

 Jesus bebeu até às borras o cálice da amargura. Mas daquele abismo de sofrimento eleva-se um grito que rompe a desolação: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23, 46). E o sentimento de abandono muda-se em entrega nos braços do Pai; o último respiro do moribundo torna-se grito de vitória, a humanidade, que se afastara na vertigem da auto-suficiência, é de novo acolhida pelo Pai.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, irmão nosso, com a vossa morte reabristes-nos a estrada que a culpa de Adão fechara. Precedestes-nos no caminho que conduz da morte à vida (Heb 6, 20). Tomastes sobre Vós o medo e os tormentos da morte, mudando radicalmente o seu sentido: invertestes o desespero que eles provocam, fazendo da morte um encontro de amor. Confortai aqueles que hoje estão para empreender o mesmo caminho que Vós. Tranqüilizai aqueles que procuram evitar o pensamento da morte. E quando chegar para nós também a hora dramática e bendita, acolhei-nos na vossa alegria eterna, não por causa dos nossos méritos, mas em virtude das maravilhas que a vossa graça realiza em nós.

 

Jesus, ao exalar o último respiro, entregais a vida nas mãos do Pai e derramais sobre a Esposa o dom vivificante do Espírito.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Vidit suum dulcem Natum
morientem, desolatum,
cum emisit spiritum.

 

 

 

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO


Jesus é depositado no sepulcro

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 50-54

 

Um membro do Conselho, chamado José, homem reto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimatéia, cidade da Judéia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus e, descendo-o da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e já brilhavam as luzes do sábado.

 

MEDITAÇÃO

 

Primeiras luzes do sábado. Aquele que era a luz do mundo desce ao reino das trevas. O corpo de Jesus é engolido pela terra, e com ele é engolida toda a esperança. Mas a sua descida à mansão dos mortos não é uma descida para a morte mas para a vida. É para reduzir à impotência aquele que detinha o poder da morte, o diabo (Heb 2, 14), para destruir o último inimigo do homem, a própria morte (I Cor 15, 26), para fazer resplandecer a vida e a imortalidade (II Tim 1, 10), para anunciar a boa nova aos espíritos prisioneiros (I Ped 3, 19).
 

Jesus desce até alcançar o primeiro casal humano, Adão e Eva, curvados sob o fardo da sua culpa. Jesus estende-lhes a mão e o rosto deles ilumina-se com a glória da ressurreição. O primeiro Adão e o Último são parecidos e reconhecem-se; o primeiro reencontra a própria imagem n'Aquele que havia de vir um dia libertá-lo juntamente com todos os outros (Gen 1, 26). Aquele Dia finalmente chegou. Agora, em Jesus, cada morte pode, a partir daquele momento, desaguar na vida.

 

ORAÇÃO

 

Jesus, Senhor rico de misericórdia, fizestes-Vos homem para Vos tornar nosso irmão, e, com a vossa morte, vencer a morte. Descestes aos infernos para libertar a humanidade, para fazer-nos novamente viver convosco, ressuscitados chamados a sentar-se nos Céus junto de Vós (cf. Ef 2, 4-6). Bom Pastor, que nos guiais às águas tranqüilas, tomai-nos pela mão ao atravessarmos as sombras da morte (Sal 23/22, 2-4), para ficarmos convosco e contemplar eternamente a vossa glória (Jo 17, 24). Jesus, envolvido num lençol e depositado no sepulcro, esperai que, rolada a pedra, o silêncio da morte seja quebrado pelo júbilo do aleluia perene.

 

R. A Vós o louvor e a glória para sempre.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quando corpus morietur
fac ut animae donetur
paradisi gloria. Amen.

 

 

O Santo Padre fala aos presentes.


No final do discurso, o Santo Padre dá a Bênção Apostólica:

 

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

 

V. Sit nomen Domini benedictum.
R. Ex hoc nunc et usque in sæculum.

 

V. Adiutorium nostrum in nomine Domini.
R. Qui fecit cælum et terram.

 

V. Benedicat vos omnipotens Deus,
Pater a et Filius a et Spiritus a Sanctus.
 

R. Amen.

 

Crucifixo.PNG

#VIA-SACRA

 

 

SEXTA-FEIRA SANTA DO ANO 2005


MEDITAÇÕES E ORAÇÕES
DO CARDEAL JOSEPH RATZINGER

 

APRESENTAÇÃO

 

O leitmotiv desta Via-Sacra é evidenciado já na oração inicial e, depois, na XIV estação. Trata-se da afirmação pronunciada por Jesus no Domingo de Ramos – logo a seguir à sua entrada em Jerusalém – como resposta à súplica de alguns Gregos que queriam vê-Lo: «Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24).

 

Deste modo, o Senhor interpreta todo o seu caminho terreno como o percurso do grão de trigo, que, só através da morte, chega a produzir fruto.  Interpreta a sua vida terrena, a sua morte e a sua ressurreição de modo a desembocar na Santíssima Eucaristia, na qual está compendiado todo o seu mistério.

 

Uma vez que Ele viveu a sua morte como uma oferta de Si mesmo, como um ato de amor, o seu corpo foi transformado na nova vida da ressurreição. Por isso, Ele, o Verbo encarnado, tornou-Se agora o nosso alimento, que conduz à verdadeira vida, à vida eterna. O Verbo eterno – a força criadora da vida – desceu do Céu, tornando-Se assim o verdadeiro maná, o pão que o homem comunga na fé e no sacramento.

 

Deste modo, a Via-Sacra torna-se num caminho que introduz dentro do mistério eucarístico: a piedade popular e a piedade sacramental da Igreja interligam-se e fundem-se.

 

A devoção da Via-Sacra pode ser vista como um caminho que leva à comunhão profunda, espiritual com Jesus, sem a qual ficaria vazia a comunhão sacramental. A Via-Sacra apresenta-se como um caminho «mistagógico». 

 

Contraposta a esta visão, aparece a compreensão puramente sentimental da Via-Sacra, para cujo perigo, na VIII estação, o Senhor alerta as mulheres de Jerusalém que choram por Ele. O mero sentimento não basta; a Via-Sacra deveria ser uma escola de fé, daquela fé que, por sua natureza, «atua pela caridade» (Gal 5, 6). Mas isto não quer dizer que se deva excluir o sentimento.

 

Segundo os Padres da Igreja, o primeiro defeito dos pagãos é precisamente a sua falta de coração; por isso, os Padres repropõem a visão de Ezequiel que comunica ao povo de Israel a promessa feita por Deus de tirar do peito deles o coração de pedra e dar-lhes um coração de carne (cf. Ez 11, 19).

 

A Via-Sacra mostra-nos um Deus que partilha pessoalmente os sofrimentos dos homens, cujo amor não se mantém impassível nem distante, mas desce ao nosso meio até à morte na cruz (cf. Fil 2, 8).

 

Este Deus que partilha os nossos sofrimentos, o Deus que Se fez homem para levar a nossa cruz, quer transformar o nosso coração de pedra chamando-nos a partilhar os sofrimentos alheios, quer dar-nos um «coração de carne» que não fique impassível diante dos sofrimentos alheios, mas se deixe comover e nos leve ao amor que cura e ajuda. Isto reconduz-nos às palavras de Jesus sobre o grão de trigo que Ele próprio transforma em fórmula basilar da existência cristiana: «Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo aborrece a sua vida conservá-la-á para a vida eterna» (Jo 12, 15; cf. Mt 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; 17, 33: «Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á»).

 

Daqui se vê também o alcance do significado da frase que precede, nos evangelhos sinópticos, esta afirmação central da sua mensagem: «Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16, 24).

 

Com todas estas palavras, o próprio Jesus nos dá a interpretação da «Via-Sacra», ensina-nos como devemos fazê-la e segui-la: a Via-Sacra é o caminho da perda de nós mesmos, isto é, o caminho do amor verdadeiro.

 

Ele precedeu-nos neste caminho; este é o caminho que a devoção da Via-Sacra nos quer ensinar. E isto leva-nos mais uma vez ao grão de trigo, à Santíssima Eucaristia, na qual se torna continuamente presente entre nós o fruto da morte e da ressurreição de Jesus. Na Eucaristia, Ele caminha conosco, como outrora com os discípulos de Emaús, fazendo-Se constantemente nosso contemporâneo.

 

 

 

ORAÇÃO INICIAL

 

V. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

 

R. Amém. 

 

Senhor Jesus Cristo, por nós aceitastes a sorte do grão de trigo que cai na terra e morre para produzir muito fruto (Jo 12, 24). E convidais-nos a seguir-Vos pelo mesmo caminho quando dizeis: «Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo aborrece a sua vida conservá-la-á para a vida eterna» (Jo 12, 15). Mas nós estamos agarrados à nossa vida. Não queremos abandoná-la, mas reservá-la inteiramente para nós mesmos. Queremos possuí-la; não oferecê-la.

 

Mas Vós seguis à nossa frente e mostrais-nos que só dando a nossa vida é que podemos salvá-la. Acompanhando-Vos na vossa Via-Sacra, quereis que sigamos o caminho do grão de trigo, o caminho duma fecundidade que dura até à eternidade.

 

A cruz – a oferta de nós mesmos – custa-nos muito. Mas, na vossa Via-Sacra, carregastes também a minha cruz, e não o fizestes num momento remoto qualquer, porque o vosso amor é contemporâneo à minha vida.

 

Hoje mesmo carregais a cruz comigo e por mim, e, de modo admirável, quereis que agora também eu, como outrora Simão de Cirene, carregue convosco a vossa cruz e, acompanhando-Vos, me coloque convosco ao serviço da redenção do mundo. Ajudai-me para que a minha Via-Sacra não seja apenas um fugidio devoto sentimento.

 

Ajudai-nos a acompanhar-Vos não somente com nobres pensamentos, mas a percorrer o vosso caminho com o coração, antes, com os passos concretos da nossa vida diária. Ajudai-nos para que sigamos com todo o nosso ser o caminho da cruz, e permaneçamos no vosso caminho para sempre.

 

Livrai-nos do medo da cruz, do medo perante a troça alheia, do medo de poder fugir-nos a nossa vida se não agarrarmos tudo o que ela nos oferece. Ajudai-nos a desmascarar as tentações que prometem vida, mas cujas ofertas no fim nos deixam apenas vazios e desiludidos. Ajudai-nos a não querer apoderarmo-nos da vida, mas a dá-la.

 

Ajudai-nos, acompanhando-Vos pelo percurso do grão de trigo, a encontrar, no «perder a vida», o caminho do amor, o caminho que verdadeiramente nos dá a vida, e vida em abundância (Jo 10, 10)

 

 

 

PRIMEIRA ESTAÇÃO


Jesus é condenado à morte
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 22-23.26

 

Retorquiu-lhes Pilatos: "E que hei-de fazer de Jesus que é chamado Messias" Replicaram todos: "Seja crucificado!" Pilatos insistiu: "Então, que mal fez Ele" Mas eles gritavam mais ainda: "Seja crucificado!" (...) Soltou-lhes então Barrabás. E a Jesus, depois de O ter mandado açoitar, entregou-O para ser crucificado.

 

MEDITAÇÃO

 

O Juiz do mundo, que um dia voltará para nos julgar a todos, está ali, aniquilado, insultado e inerme diante do juiz terreno. Pilatos não é um monstro de malvadez. Sabe que este condenado é inocente; procura um modo de O libertar. Mas o seu coração está dividido. E, no fim, faz prevalecer a sua posição, a si mesmo, sobre o direito.

 

Também os homens que gritam e pedem a morte de Jesus não são monstros de malvadez. Muitos deles, no dia de Pentecostes, sentir-se-ão «emocionados até ao fundo do coração» (Atos 2, 37), quando Pedro lhes disser: A «Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, (...), matastes, cravando-O na cruz pela mão de gente perversa» (Act 2, 22.23).

 

Mas naquele momento sofrem a influência da multidão. Gritam porque os outros gritam e como gritam os outros. E, assim, a justiça é espezinhada pela cobardia, pela pusilanimidade, pelo medo do diktat da mentalidade predominante.

 

A voz subtil da consciência fica sufocada pelos gritos da multidão. A indecisão, o respeito humano dão força ao mal.

 

ORAÇÃO

 

Senhor, fostes condenado à morte porque o medo do olhar alheio sufocou a voz da consciência. E, assim, acontece que, sempre ao longo de toda a história, inocentes sejam maltratados, condenados e mortos. Quantas vezes também nós preferimos o sucesso à verdade, a nossa reputação à justiça. Dai força, na nossa vida, à voz subtil da consciência, à vossa voz. Olhai-me como olhastes para Pedro depois de Vos ter negado. Fazei com que o vosso olhar penetre nas nossas almas e indique a direção à nossa vida. Àqueles que na Sexta-feira Santa gritaram contra Vós, no dia de Pentecostes destes a contrição do coração e a conversão. E assim destes esperança a todos nós. Não cesseis de dar também a nós a graça da conversão.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

 

 

 

SEGUNDA ESTAÇÃO

 

Jesus é carregado com a cruz.

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 27-31

 

Então, os soldados do governador levaram Jesus consigo para o Pretório e reuniram junto d'Ele toda a companhia. Depois de O terem despido, envolveram-n'O em um manto encarnado. Teceram uma coroa de espinhos, que Lhe puseram na cabeça, e, na mão direita, colocaram-Lhe uma cana. Ajoelharam-se diante d'Ele e escarneceram-n'O dizendo: "Salve, ó rei dos Judeus!" Depois, cuspiram n'Ele e pegaram na cana e puseram-se a bater-Lhe com ela na cabeça. No fim de O terem escarnecido, despiram-Lhe o manto, vestiram-Lhe as suas roupas e levaram-n'O para O crucificarem.

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus, condenado como pretenso rei, é escarnecido, mas precisamente na troça aparece cruelmente a verdade. Quantas vezes as insígnias do poder trazidas pelos poderosos deste mundo são um insulto à verdade, à justiça e à dignidade do homem! Quantas vezes os seus rituais e as suas grandes palavras, verdadeiramente, não passam de pomposas mentiras, uma caricatura do dever que lhes incumbe por força do seu cargo, ou seja, colocar-se ao serviço do bem.

 

Por isso mesmo, Jesus, Aquele que é escarnecido e que traz a coroa do sofrimento, é o verdadeiro rei. O seu cetro é justiça (cf. Sal 45/44, 7).

 

O preço da justiça é sofrimento neste mundo: Ele, o verdadeiro rei, não reina por meio da violência, mas através do amor com que sofre por nós e conosco. Ele carrega a cruz, a nossa cruz, o peso de sermos homens, o peso do mundo. É assim que Ele nos precede e mostra como encontrar o caminho para a vida verdadeira.

 

ORAÇÃO

 

Senhor, deixastes que Vos escarnecessem e ultrajassem. Ajudai-nos a não fazer coro com aqueles que escarnecem quem sofre e quem é frágil. Ajudai-nos a reconhecer o vosso rosto em quem é humilhado e marginalizado. Ajudai-nos a não desanimar perante as zombarias do mundo quando a obediência à vossa vontade é metida a ridículo. Carregastes a cruz e convidastes-nos a seguir-Vos por este caminho (Mt 10, 38). Ajudai-nos a aceitar a cruz, a não fugir dela, a não lamentarmo-nos nem deixar que os nossos corações se abatam com as provas da vida. Ajudai-nos a percorrer o caminho do amor e, obedecendo às suas exigências, a alcançar a verdadeira alegria.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.

 

 

 

TERCEIRA ESTAÇÃO


Jesus cai pela primeira vez

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do livro do profeta Isaías 53, 4-6

 

Eram os nossos males que Ele suportava, e as nossas dores que tinha sobre Si. Mas nós víamos n’Ele um homem castigado, ferido por Deus e sujeito à humilhação. Ele foi trespassado por causa das nossas culpas, e esmagado devido às nossas faltas. O castigo que nos salva, caiu sobre Ele, e por causa das suas chagas é que fomos curados. Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada qual o seu caminho. E o Senhor fez cair sobre Ele as faltas de todos nós.


MEDITAÇÃO

 

O homem caiu e continua a cair: quantas vezes ele se torna a caricatura de si mesmo, já não é a imagem de Deus, mas algo que mete a ridículo o Criador.

 

Aquele que, ao descer de Jerusalém para Jericó, embateu nos ladrões que o despojaram deixando-o meio morto, sangrando na beira da estrada, não é porventura a imagem por excelência do homem? A queda de Jesus sob a cruz não é apenas a queda do homem Jesus já extenuado pela flagelação.

 

Aqui aparece algo de mais profundo, como diz Paulo na carta aos Filipenses: «Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo tomando a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens (…) humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 6-8).

 

Na queda de Jesus sob o peso da cruz, é visível todo este seu itinerário: a sua voluntária humilhação para nos levantar do nosso orgulho. E ao mesmo tempo aparece a natureza do nosso orgulho: a soberba pela qual desejamos emancipar-nos de Deus sendo apenas nós mesmos, pela qual cremos que não temos necessidade do amor eterno, mas queremos organizar a nossa vida sozinhos.

 

Nesta revolta contra a verdade, nesta tentativa de nos tornarmos deus, de sermos criadores e juízes de nós mesmos, caímos e acabamos por autodestruir-nos. A humilhação de Jesus é a superação da nossa soberba: com a sua humilhação, Ele faz-nos levantar. Deixemos que nos levante.

 

Despojemos-nos da nossa auto-suficiência, da nossa errada cisma de autonomia e aprendamos o contrário d’Ele, d’Aquele que Se humilhou, ou seja, aprendamos a encontrar a nossa verdadeira grandeza, humilhando-nos e voltando-nos para Deus e para os irmãos espezinhados.

 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus, o peso da cruz fez-Vos cair por terra. O peso do nosso pecado, o peso da nossa soberba deita-Vos ao chão. Mas, a vossa queda não é sinal de um destino adverso, nem é a pura e simples fraqueza de quem é espezinhado. Quisestes vir até junto de nós que, pela nossa soberba, jazemos por terra. A soberba de pensar que somos capazes de produzir o homem fez com que os homens se tenham tornado um espécie de mercadoria para comprar e vender, como que uma reserva de material para as nossas experiências, pelas quais esperamos de, por nós mesmos, superar a morte, quando, na verdade, conseguimos apenas humilhar cada vez mais profundamente a dignidade do homem. Senhor, vinde em nossa ajuda, porque caímos. Ajudai-nos a abandonar a nossa soberba devastadora e, aprendendo da vossa humildade, a pormo-nos novamente de pé.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!

 

 

 

QUARTA ESTAÇÃO

 

Jesus encontra sua Mãe

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Lucas 2, 34-35.51

 

Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: "Ele foi estabelecido para a queda e o ressurgir de muitos em Israel, e para ser sinal de contradição; e uma espada Te há de traspassar a alma. Assim se deverão revelar os intentos de muitos corações" (...) Sua mãe guardava no coração todas estas recordações.

 

MEDITAÇÃO

 

Na Via-Sacra de Jesus, aparece também Maria, sua Mãe. Durante a sua vida pública, teve de ficar de lado para dar lugar ao nascimento da nova família de Jesus, a família dos seus discípulos. Teve também de ouvir estas palavras: «Quem é a minha Mãe e quem são os meus irmãos? (…) Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mt 12, 48.50).

 

Pode-se agora constatar que Ela é a Mãe de Jesus não só no corpo, mas também no coração. Ainda antes de O ter concebido no corpo, pela sua obediência concebera-O no coração. Fora-Lhe dito: «Hás de conceber no teu seio e dar à luz um filho (…) Será grande (…) O Senhor Deus dar-Lhe-á o trono de seu pai David» (Lc 1, 31-32). Mas algum tempo depois ouvira da boca do velho Simeão uma palavra diferente: «Uma espada Te há-de trespassar a alma» (Lc 2, 35).

 

Deste modo ter-Se-á lembrado de certas palavras pronunciadas pelos profetas, tais como: «Foi maltratado e resignou-se, não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro» (Is 53, 7). Agora tudo isto se torna realidade. No coração, tinha sempre conservado as palavras que o anjo Lhe dissera quando tudo começou: «Não tenhas receio, Maria» (Lc 1, 30).

 

Os discípulos fugiram; Ela não foge. Ela está ali, com a coragem de mãe, com a fidelidade de mãe, com a bondade de mãe, e com a sua fé, que resiste na escuridão: «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1, 45). «Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé sobre a terra?» (Lc 18, 8). Sim, agora Ele sabe-o: encontrará fé. E esta é, naquela hora, a sua grande consolação.


ORAÇÃO

 

Santa Maria, Mãe do Senhor, permanecestes fiel quando os discípulos fugiram. Tal como acreditastes quando o anjo Vos anunciou o que era incrível – que haverias de ser Mãe do Altíssimo – assim também acreditastes na hora da sua maior humilhação.

E foi assim que, na hora da cruz, na hora da noite mais escura do mundo, Vos tornastes Mãe dos crentes, Mãe da Igreja. Nós Vos pedimos: ensinai-nos a acreditar e ajudai-nos para que a fé se torne coragem de servir e gesto de um amor que socorre e sabe partilhar o sofrimento.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quæ mærebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
Nati pœnas incliti.

 

 

 

QUINTA ESTAÇÃO


Jesus é ajudado a levar a cruz pelo Cireneu
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 32; 16, 24

 

Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no, para levar a cruz de Jesus. Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser seguir-Me, renegue-se a si mesmo, pegue na sua cruz e siga-Me".
 

MEDITAÇÃO

 

Simão de Cirene regressa do trabalho, vai a caminho de casa quando se cruza com aquele triste cortejo de condenados – para ele talvez fosse um espetáculo habitual. Os soldados valem-se do seu direito de coação e colocam a cruz às costas dele, robusto homem do campo.

 

Que aborrecimento não deverá ter sentido ao ver-se inesperadamente envolvido no destino daqueles condenados! Faz o que deve fazer, mas certamente com grande relutância. E todavia o evangelista Marcos nomeia, juntamente com ele, também os seus filhos, que evidentemente eram conhecidos como cristãos, como membros daquela comunidade (Mc 15, 21).

 

Do encontro involuntário, brotou a fé. Acompanhando Jesus e compartilhando o peso da cruz, o Cireneu compreendeu que era uma graça poder caminhar juntamente com este Crucificado e assisti-Lo. O mistério de Jesus que sofre calado tocou-lhe o coração. Jesus, cujo amor divino era o único que podia, e pode, redimir a humanidade inteira, quer que compartilhemos a sua cruz para completar o que ainda falta aos seus sofrimentos (Col 1, 24).

 

Sempre que, bondosamente, vamos ao encontro de alguém que sofre, alguém que é perseguido e inerme, partilhando o seu sofrimento ajudamos a levar a própria cruz de Jesus. E assim obtemos salvação, e nós mesmos podemos contribuir para a salvação do mundo.

 

ORAÇÃO

 

Senhor, abristes a Simão de Cirene os olhos e o coração, dando-lhe, na partilha da cruz, a graça da fé. Ajudai-nos a assistir o nosso próximo que sofre, ainda que este chamamento resultasse em contradição com os nossos projetos e as nossas simpatias. Concedei-nos reconhecer que é uma graça poder partilhar a cruz dos outros e experimentar que dessa forma estamos a caminhar convosco. Fazei-nos reconhecer com alegria que é precisamente pela partilha do vosso sofrimento e dos sofrimentos deste mundo que nos tornamos ministros da salvação, podendo assim ajudar a construir o vosso corpo, a Igreja.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis est homo qui non fleret,
Matrem Christi si videret
in tanto supplicio?

 


 

 

SEXTA ESTAÇÃO

 

A Verônica limpa o rosto de Jesus
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do livro do profeta Isaías 53, 2-3

 

O meu Servo cresceu (…) sem distinção nem beleza que atraia o nosso olhar, nem aspecto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens, homem de dores, afeito ao sofrimento, é como aquele a quem se volta a cara, pessoa desprezível, da qual se não faz caso.

 

Do livro dos Salmos 27/26, 8-9

 

Segredou-me o coração: "Procura a sua face!" É, Senhor, o vosso rosto que eu persigo. Não escondais de mim o vosso rosto, nem rejeiteis com ira o vosso servo. Vós sois a minha ajuda, o Deus da minha salvação.


MEDITAÇÃO

 

«É, Senhor, o vosso rosto que eu persigo. Não escondais de mim o vosso rosto» (Sal 27/26, 8). Verônica – Berenice, segundo a tradição grega – encarna este anseio que irmana todos os homens piedosos do Antigo Testamento, o anseio que provam todos os homens crentes de verem o rosto de Deus.

 

Em todo o caso, na Via-Sacra de Jesus, inicialmente ela limitara-se a prestar um serviço de gentileza feminina: oferecer um lenço a Jesus. Não se deixa contagiar pela brutalidade dos soldados, nem imobilizar pelo medo dos discípulos. É a imagem da mulher bondosa que, perante o turbamento e escuridão dos corações, mantém a coragem da bondade, não permite ao seu coração de entenebrecer-se: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» – dissera o Senhor no Discurso da Montanha (Mt 5, 8).

 

Ao princípio, Verônica via apenas um rosto maltratado e marcado pela dor. Mas, o ato de amor imprime no seu coração a verdadeira imagem de Jesus: no Rosto humano, coberto de sangue e de feridas, ela vê o Rosto de Deus e da sua bondade que nos acompanha mesmo na dor mais profunda. Somente com o coração podemos ver Jesus. Apenas o amor nos torna capazes de ver e nos torna puros. Só o amor nos faz reconhecer Deus, que é o próprio amor.

 

ORAÇÃO

 

Senhor, dai-nos a inquietação do coração que procura o vosso rosto. Protegei-nos do obscurecimento do coração que vê apenas a superfície das coisas. Concedei-nos aquela generosidade e pureza de coração que nos tornam capazes de ver a vossa presença no mundo. Quando não formos capazes de realizar grandes coisas, dai-nos a coragem de uma bondade humilde. Imprimi o vosso rosto nos nossos corações, para Vos podermos encontrar e mostrar ao mundo a vossa imagem.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Pro peccatis suae gentis
vidit Iesum in tormentis
et flagellis subditum.

    
 

 

 

SÉTIMA ESTAÇÃO

 

Jesus cai pela segunda vez

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do livro das Lamentações 3, 1-2.9.16

 

Eu sou o homem que conheceu a miséria sob a vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar nas trevas e não na luz. (…) Embarrou meus caminhos com blocos de pedra, obstruiu minhas veredas. (…) Ele quebrou meus dentes com cascalho, mergulhou-me na cinza.

 

MEDITAÇÃO

 

A tradição da tríplice queda de Jesus sob o peso da cruz recorda a queda de Adão – o ser humano caído que somos nós – e o mistério da associação de Jesus à nossa queda.

 

Na história, a queda do homem assume sempre novas formas. Na sua primeira carta, S. João fala duma tríplice queda do homem: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Assim interpreta ele a queda do homem e da humanidade, no horizonte dos vícios do seu tempo com todos os seus excessos e depravações.

 

Mas, olhando a história mais recente, podemos também pensar como a cristandade, cansada da fé, abandonou o Senhor: as grandes ideologias, com a banalização do homem que já não crê em nada e se deixa simplesmente ir à deriva, construíram um novo paganismo, um paganismo pior que o antigo, o qual, desejoso de marginalizar definitivamente Deus, acabou por perder o homem.

 

Eis o homem que jaz no pó. O Senhor carrega este peso e cai... cai, para poder chegar até nós; Ele olha-nos para que em nós volte a palpitar o coração; cai para nos levantar.

 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus Cristo, carregastes o nosso peso e continuais a carregar-nos. É o nosso peso que Vos faz cair. Mas sois Vós a levantar-nos, porque, sozinhos, não conseguimos levantar-nos do pó. Livrai-nos do poder da concupiscência. Em vez do coração de pedra, dai-nos novamente um coração de carne, um coração capaz de ver.Destruí o poder das ideologias, para os homens poderem reconhecer que estão permeadas de mentiras. Não permitais que o muro do materialismo se torne intransponível. Fazei que Vos ouçamos de novo. Tornai-nos sóbrios e vigilantes para podermos resistir às forças do mal, e ajudai-nos a reconhecer as necessidades interiores e exteriores dos outros, e a socorrê-las. Erguei-nos, para podermos levantar os outros. Concedei-nos esperança no meio de toda esta escuridão, para podermos ser portadores de esperança no mundo.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis non posset contristari,
Christi Matrem contemplari,
dolentem cum Filio?

 

 

 

OITAVA ESTAÇÃO


Jesus encontra as mulheres de Jerusalém que choram por Ele

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Lucas 23, 28-31

 

Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: "Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: "Felizes as estéreis, as entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não amamentaram". Nessa altura, começarão a dizer aos montes: "Caí sobre nós", e às colinas: "Encobri-nos". Porque se fazem assim no madeiro verde, que será no madeiro seco?"


MEDITAÇÃO

 

As palavras com que Jesus adverte as mulheres de Jerusalém que O seguem e choram por Ele, fazem-nos refletir. Como entendê-las?

Não se trata porventura de uma advertência contra uma piedade puramente sentimental, que não se torna conversão e fé vivida? De nada serve lamentar, por palavras e sentimentalmente, os sofrimentos deste mundo, se a nossa vida continua sempre igual. Por isso, o Senhor nos adverte do perigo em que nós próprios nos encontramos.

 

Mostra-nos a seriedade do pecado e a seriedade do juízo. Apesar de todas as nossas palavras de horror à vista do mal e dos sofrimentos dos inocentes, não somos nós porventura demasiado inclinados a banalizar o mistério do mal? Da imagem de Deus e de Jesus, no fim de contas, admitimos apenas o aspecto terno e amável, enquanto tranquilamente cancelamos o aspecto do juízo? Como poderia Deus fazer-Se um drama com a nossa fragilidade – pensamos cá conosco –, não passamos de simples homens?!

 

Mas, fixando os sofrimentos do Filho, vemos toda a seriedade do pecado, vemos como tem de ser expiado até ao fim para poder ser superado. Não se pode continuar a banalizar o mal, quando vemos a imagem do Senhor que sofre.

 

Também a nós, diz Ele: Não choreis por Mim, chorai por vós próprios... porque se tratam assim o madeiro verde, que será do madeiro seco?

 

ORAÇÃO

 

Senhor, às mulheres que choravam, falastes de penitência, do dia do Juízo, quando nos encontrarmos diante da vossa face, a face do Juiz do mundo. Chamais-nos a sair da banalização do mal que nos deixa tranqüilos para podermos continuar a nossa vida de sempre.

Mostrai-nos a seriedade da nossa responsabilidade, o perigo de sermos encontrados, no Juízo, culpados e estéreis. Fazei com que não nos limitemos a caminhar ao vosso lado, oferecendo apenas palavras de compaixão. Convertei-nos e dai-nos uma vida nova; não permitais que acabemos por ficar como um madeiro seco, mas fazei que nos tornemos ramos vivos em Vós, a videira verdadeira, e produzamos fruto para a vida eterna (cf. Jo 15, 1-10).

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati,
poenas mecum divide.

 

 

 

NONA ESTAÇÃO

 

Jesus cai pela terceira vez
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do livro das Lamentações 3, 27-32

 

É bom para o homem suportar o jugo desde a sua juventude. Que esteja solitário e silencioso, quando o Senhor o impuser sobre ele; que ponha sua boca no pó: talvez haja esperança! Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor não rejeita para sempre: se Ele aflige, Ele se compadece segundo a sua grande bondade.

 

MEDITAÇÃO

 

E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus.

 

Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele!

 

Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão.

 

A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração.

 

Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison (Senhor, tende piedade de nós) – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25).

 

ORAÇÃO

 

Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Com a nossa queda, deitamo-Vos ao chão, e Satanás a rir-se porque espera que não mais conseguireis levantar-Vos daquela queda; espera que Vós, tendo sido arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas, Vós erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Eia, mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.


 

 

 

DÉCIMA ESTAÇÃO

 

Jesus é despojado das suas vestes
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 33-36

 

Chegados a um lugar chamado Gólgota, quer dizer «Lugar do Crânio», deram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Mas Jesus, quando o provou, não quis beber. Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, e ficaram ali sentados a guardá-Lo.

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus é despojado das suas vestes. A roupa confere ao homem a sua posição social; dá-lhe o seu lugar na sociedade, fá-lo sentir alguém.

 

Ser despojado em público significa que Jesus já não é ninguém, nada mais é que um marginalizado, desprezado por todos. O momento do despojamento recorda-nos também a expulsão do paraíso: ficou sem o esplendor de Deus o homem, que agora está, ali, nu e exposto, desnudado e envergonha-se. Deste modo, Jesus assume mais uma vez a situação do homem caído.

 

Jesus despojado recorda-nos o fato de que todos nós perdemos a «primeira veste», isto é, o esplendor de Deus. Junto da cruz, os soldados lançam sortes para repartirem entre si os seus míseros haveres, as suas vestes. Os evangelistas narram isto com palavras tiradas do Salmo 22, 19 e assim afirmam-nos o mesmo que Jesus há de dizer aos discípulos de Emaús: tudo aconteceu «conforme as Escrituras».

 

Não se trata aqui de pura coincidência, tudo o que acontece está contido na Palavra de Deus e assente no seu desígnio divino. O Senhor experimenta todos os estádios e degraus da perdição dos homens, e cada um destes degraus é, com toda a sua amargura, um passo da redenção: é precisamente assim que Ele traz de volta para casa a ovelha perdida.

 

Recordemos ainda que, segundo diz S. João, o objeto do sorteio era a túnica de Jesus, a qual, «toda tecida de alto a baixo, não tinha costura» (Jo 19, 23). Podemos considerar isto como uma alusão à veste do sumo sacerdote, que era «tecida como um todo», sem costura (Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, III, 161). Ele, o Crucificado, é realmente o verdadeiro sumo sacerdote.

 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus, fostes despojado das vossas vestes, exposto à desonra, expulso da sociedade. Assumistes sobre Vós a desonra de Adão, sanando-a. Assumistes os sofrimentos e as necessidades dos pobres, daqueles que são expulsos do mundo. Deste modo é que realizais a palavra dos profetas. É precisamente assim que dais significado àquilo que não tem significado. Assim mesmo nos dais a conhecer que nas mãos do vosso Pai estais Vós, nós e o mundo.  Concedei-nos um respeito profundo pelo homem em todas as fases da sua existência e em todas as situações onde o encontrarmos. Dai-nos a veste luminosa da vossa graça.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum,
ut sibi complaceam.

 
 

 

 

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO

 

Jesus pé pregado na Cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 37-42

 

Puseram por cima da cabeça d'Ele um letreiro escrito com a causa da condenação: "Este é Jesus, o Rei dos Judeus". Foram então crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam dirigiam-Lhe insultos, abanavam a cabeça e diziam: "Tu que demolias o Templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!" De igual modo, também os sumos sacerdotes troçavam, juntamente com os escribas e os anciãos, e diziam: "Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se! É Rei de Israel! Desça agora da cruz, e acreditaremos n'Ele".

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus é pregado na cruz.

 

O sudário de Turim permite formar uma idéia da crueldade incrível deste processo. Jesus não toma a bebida anestesiante que Lhe fora oferecida: conscientemente assume todo o sofrimento da crucifixão.

 

Todo o seu corpo é martirizado; cumpriram-se as palavras do Salmo: «Eu, porém, sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe» (Sal 22/21, 7). «Como um homem (…) diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desestimado.

 

Na verdade Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores» (Is 53, 3-4). Detenhamo-nos diante desta imagem de sofrimento, diante do Filho de Deus sofredor. Olhemos para Ele nos momentos de presunção e de prazer, para aprendermos a respeitar os limites e a ver a superficialidade de todos os bens puramente materiais.

 

Olhemos para Ele nos momentos de calamidade e de angústia, para reconhecermos que precisamente assim estamos perto de Deus. Procuremos reconhecer o seu rosto naqueles que tendemos a desprezar. Diante do Senhor condenado, que não quer usar o seu poder para descer da cruz, mas antes suportou o sofrimentos da cruz até ao fim, pode assomar ainda outro pensamento.

 

Inácio de Antioquia, ele mesmo preso com cadeias pela sua fé no Senhor, elogiou os cristãos de Esmirna pela sua fé inabalável: afirma que estavam, por assim dizer, pregados com a carne e o sangue à cruz do Senhor Jesus Cristo (1, 1).

 

Deixemo-nos pregar a Ele, sem ceder a qualquer tentação de nos separarmos nem ceder às zombarias que pretendem levar-nos a fazê-lo.

 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus Cristo, fizestes-Vos pregar na cruz, aceitando a crueldade terrível deste tormento, a destruição do vosso corpo e da vossa dignidade. Fizestes-Vos pregar, sofrestes sem evasões nem descontos. Ajudai-nos a não fugir perante o que somos chamados a realizar. Ajudai-nos a fazermo-nos ligar estreitamente a Vós. Ajudai-nos a desmascarar a falsa liberdade que nos quer afastar de Vós. Ajudai-nos a aceitar a vossa liberdade «ligada» e a encontrar nesta estreita ligação convosco a verdadeira liberdade.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Sancta Mater, istud agas,
Crucifixi fige plagas
cordi meo valide.

 
 

 

 

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO


Jesus morre na Cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 45-50.54

 

A partir do meio-dia, houve trevas em toda a região, até às três horas da tarde. E, pelas três horas da tarde, Jesus bradou com voz forte: "Eli, Eli, lemá sabachthani", quer dizer, "Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?" Alguns dos presentes ouviram e disseram: «Está a chamar por Elias». E logo um deles correu a pegar numa esponja, ensopou-a em vinagre, pô-la numa cana e deu-Lhe a beber. Mas os outros disseram: «Deixa lá! Vejamos se Elias vem salvá-Lo». E Jesus, dando novamente um forte brado, expirou. Entretanto, o centurião e os que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele era, na verdade, Filho de Deus».

  

MEDITAÇÃO

 

No cimo da cruz de Jesus – nas duas línguas do mundo de então, o grego e o latim, e na língua do povo eleito, o hebraico – está escrito quem é: o Rei dos Judeus, o Filho prometido a David.

 

Pilatos, o juiz injusto, tornou-se profeta sem querer. Perante a opinião pública mundial é proclamada a realeza de Jesus. O próprio Jesus não tinha aceite o título de Messias, enquanto poderia induzir a uma idéia errada, humana, de poder e de salvação. Mas, agora, o título pode estar escrito ali publicamente sobre o Crucificado.

 

Ele, assim, é verdadeiramente o rei do mundo. Agora foi verdadeiramente «elevado». Na sua descida, Ele subiu. Agora cumpriu radicalmente o mandamento do amor, cumpriu a oferta de Si próprio, e precisamente deste modo Ele é agora a manifestação do verdadeiro Deus, daquele Deus que é amor. Agora sabemos quem é Deus.

 

Agora sabemos como é a verdadeira realeza. Jesus reza o Salmo 22, que começa por estas palavras: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Sal 22/21, 2). Assume em Si mesmo todo o Israel, a humanidade inteira, que sofre o drama da escuridão de Deus, e faz com que Deus Se manifeste precisamente onde parece estar definitivamente derrotado e ausente.

 

A cruz de Cristo é um acontecimento cósmico. O mundo fica na escuridão, quando o Filho de Deus sofre a morte. A terra treme. E junto da cruz tem início a Igreja dos pagãos. O centurião romano reconhece, compreende que Jesus é o Filho de Deus. Da cruz, Ele triunfa sem cessar.

 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus Cristo, na hora da vossa morte, o sol escureceu. Sois pregado na cruz sem cessar. Precisamente nesta hora da história, vivemos na escuridão de Deus. Pelo sofrimento sem medida e pela maldade dos homens o rosto de Deus, o vosso rosto, aparece obscurecido, irreconhecível. Mas foi precisamente na cruz que Vos fizestes reconhecer. Precisamente enquanto sois Aquele que sofre e que ama, sois aquele que é elevado. Foi precisamente lá que triunfastes. Ajudai-nos a reconhecer, nesta hora de escuridão e confusão, o vosso rosto. Ajudai-nos a crer em Vós e a seguir-Vos precisamente na hora da escuridão e da privação. Mostrai-Vos novamente ao mundo nesta hora. Fazei com que a vossa salvação se manifeste.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac me vere tecum flere,
Crucifixo condolere,
donec ego vixero.

 

 

 

 

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO

 

Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
 

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 54-55

 

O centurião e os que estavam com ele de guarda a Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a suceder, ficaram aterrados e disseram: «Ele era, na verdade, Filho de Deus». Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres, que tinham seguido Jesus desde a Galiléia, para O servirem.

 

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus morreu, o seu coração é trespassado pela lança do soldado romano e dele brotam sangue e águamisteriosa imagem do rio dos sacramentos, do Batismo e da Eucaristia, dos quais, em virtude do coração trespassado do Senhor, renasce incessantemente a Igreja.

E não Lhe são quebradas as pernas, como aos outros dois crucificados; deste modo Ele aparece como o verdadeiro cordeiro pascal, ao qual nenhum osso deve ser quebrado (cf. Ex 12, 46).

 

E agora que tudo suportou, vemos que Ele, apesar de toda a confusão dos corações, apesar do poder do ódio e da cobardia, não ficou sozinho. Os fiéis existem. Junto da cruz, estavam Maria, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, Maria de Magdala e o discípulo que Ele amava.

 

Agora chega também um homem rico, José de Arimatéia: o rico encontra modo de passar pela buraco de uma agulha, porque Deus lhe dá a graça. Sepulta Jesus no seu túmulo ainda intacto, num jardim: o cemitério onde fica sepultado Jesus transforma-se em jardim, no jardim donde fora expulso Adão quando se separara da plenitude da vida, do seu Criador.

 

O túmulo no jardim faz-nos saber que o domínio da morte está para terminar. E chega também um membro do Sinédrio, Nicodemos, a quem Jesus tinha anunciado o mistério do renascimento pela água e pelo Espírito. Até no Sinédrio, que tinha decidido a sua morte, há alguém que acredita, que conhece e reconhece Jesus após a sua morte.

 

Sobre a hora do grande luto, da grande escuridão e do desespero, aparece misteriosamente a luz da esperança. O Deus escondido permanece em todo o caso o Deus vivo e próximo. O Senhor morto permanece em todo o caso o Senhor e nosso Salvador, mesmo na noite da morte. A Igreja de Jesus Cristo, a sua nova família, começa a formar-se.

 

ORAÇÃO

 

Senhor, descestes à escuridão da morte. Mas o vosso corpo é recolhido por mãos bondosas e envolvido num cândido lençol (Mt 27, 59). A fé não está completamente morta, não se pôs totalmente o sol. Quantas vezes parece que Vós estais a dormir. Como é fácil a nós, homens, afastar-nos dizendo para nós mesmos:  Deus morreu. Fazei com que, na hora da escuridão, reconheçamos que em todo o caso Vós estais lá. Não nos deixeis sozinhos quando tendemos a desanimar. Ajudai-nos a não deixar-Vos sozinho. Dai-nos uma fidelidade que resista no desânimo e um amor que Vos acolha no momento mais extremo da vossa necessidade, como a vossa Mãe, que Vos abraçou de novo no seu regaço. Ajudai-nos, ajudai os pobres e os ricos, os simples e os sábios, a ver através dos seus medos e preconceitos e a oferecer-Vos a nossa capacidade, o nosso coração, o nosso tempo, preparando assim o jardim no qual possa dar-se a ressurreição.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Vidit suum dulcem Natum
morientem, desolatum,
cum emisit spiritum.

 

 

 

 

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO

 

Jesus é sepultado
 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Do evangelho segundo São Mateus 27, 59-61

 

José pegou no corpo de Jesus, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o no seu túmulo novo, que tinha mandado escavar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra para a porta do túmulo e retirou-se. Entretanto, estavam ali Maria de Magdala e a outra Maria, sentadas em frente do sepulcro.

 

MEDITAÇÃO

 

Jesus, desonrado e ultrajado, é deposto com todas as honras num túmulo novo.

 

Nicodemos traz uma mistura de mirra e aloés de cem libras destinada a emanar um perfume precioso. Agora na oferta do Filho revela-se, como sucedera já na unção de Betânia, um excesso que nos recorda o amor generoso de Deus, a «superabundância» do seu amor. Deus faz generosamente oferta de Si próprio. Se a medida de Deus é superabundante, também para nós nada deveria ser demasiado para Deus.

 

Foi o que o próprio Jesus nos ensinou no discurso da Montanha (Mt 5, 20). Mas é preciso lembrar também as palavras de S. Paulo a propósito de Deus, que «por nosso meio faz sentir em todos os lugares o odor do seu conhecimento. Somos, para Deus, o bom odor de Cristo» (2 Cor 2, 14-15).

 

Na putrefação das ideologias, a nossa fé deveria ser de novo o perfume que reconduz às pegadas da vida. No momento da deposição, começa a realizar-se a palavra de Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24).

 

Jesus é o grão de trigo que morre. Do grão de trigo morto começa a grande multiplicação do pão que dura até ao fim do mundo: Ele é o pão de vida capaz de saciar em medida superabundante a humanidade inteira e dar-lhe o alimento vital: o Verbo eterno de Deus, que Se fez carne e também pão, para nós, através da cruz e da ressurreição. Sobre a sepultura de Jesus resplandece o mistério da Eucaristia.
 

ORAÇÃO

 

Senhor Jesus Cristo, na sepultura fizestes vossa a morte do grão de trigo, tornastes-Vos o grão de trigo morto que produz fruto ao longo de todos os tempos até à eternidade. Do sepulcro brilha em cada tempo a promessa do grão de trigo, do qual provém o verdadeiro maná, o pão de vida em que Vós mesmo Vos ofereceis a nós. A Palavra eterna, através da encarnação e da morte, tornou-Se a Palavra próxima: Colocais-Vos nas nossas mãos e nos nossos corações para que a vossa Palavra cresça em nós e produza fruto.

 

Dais-Vos a Vós próprio através da morte do grão de trigo, para que nós tenhamos a coragem de perder a nossa vida para encontrá-la; para que também nós nos fiemos da promessa do grão de trigo. Ajudai-nos a amar cada vez mais o vosso mistério eucarístico e a venerá-lo – a viver verdadeiramente de Vós, Pão do Céu.

 

Ajudai-nos a tornarmo-nos o vosso «odor», a tornar palpáveis os vestígios da vossa vida neste mundo. Do mesmo modo que o grão de trigo se eleva da terra como caule e espiga, assim também Vós não podeis ficar no sepulcro: o sepulcro está vazio porque Ele – o Pai – não Vos «abandonou na habitação dos mortos nem permitiu que a vossa carne conhecesse a decomposição» (cf. Act 2, 31; Sal 16, 10 LXX).

 

Não, Vós não experimentastes a corrupção. Ressuscitastes e destes espaço à carne transformada no coração de Deus. Fazei com que possamos alegrar-nos com esta esperança e possamos levá-la jubilosamente pelo mundo; fazei que nos tornemos testemunhas da vossa ressurreição.

 
Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

 

Quando corpus morietur
fac ut animae donetur
paradisi gloria. Amen.

 

 

BÊNÇÃO

 

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

 

V. Sit nomen Domini benedictum.
R. Ex hoc nunc et usque in sæculum.

 

V. Adiutorium nostrum in nomine Domini.
R. Qui fecit cælum et terram.

 

V. Benedicat vos omnipotens Deus,
Pater a et Filius + et Spiritus a Sanctus.


R. Amen.

 

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#VIA-SACRA

 


NO COLISEU DE ROMA

 

PRESIDIDA PELO SANTO PADRE

O PAPA BENTO XVI

 

SEXTA-FEIRA SANTA DE 2007

 

MEDITAÇÕES DE Mons. GIANFRANCO RAVASI



 

APRESENTAÇÃO

 

Era o final de uma manhã de primavera entre os anos 30 e 33 da nossa época. Numa estrada de Jerusalém – que nos séculos sucessivos receberia o nome emblemático de «Via Dolorosa» - acontecia um pequeno cortejo: um condenado à morte, escoltado por uma divisão do exército romano, se encaminhava, trazendo o patibulum, ou seja, o braço transversal da cruz cuja haste principal já estava colocada no alto, entre as pedras de um pequeno promontório rochoso chamado em aramaico Gólgota e em latim Calvário, isto é, «crânio».

 

Esta era a última etapa de uma história conhecida por todos, em cujo centro se destaca a figura de Jesus Cristo, o homem crucificado e humilhado e o Senhor ressuscitado e glorioso. Uma história iniciada no silêncio profundo da noite precedente, junto das oliveiras de um jardim denominado Getsêmani, isto é «lagar para as azeitonas».

 

Uma história que se desenrolou de modo acelerado nos palácios do poder religioso e político e que se concluiu por uma condenação à pena capital. Até mesmo a sepultura, oferecida generosamente por um proprietário chamado José de Arimatéia, que não teria concluído a vicissitude daquele condenado, como aconteceu para tantos corpos martirizados no cruel suplício da crucifixão, destinado pelos romanos ao julgamento dos revolucionários e dos escravos.

 

Teria havido uma etapa posterior, surpreendente e inesperada: aquele condenado, Jesus de Nazaré, revelou de modo fulgurante uma outra sua natureza sob o perfil do seu rosto e do seu corpo de homem, o ser Filho de Deus. A cruz e a sepultura não foram o destino final daquela história, mas sim a luz da sua ressurreição e da sua glória. Como cantaria poucos anos depois o apóstolo Paulo, aquele que se despojou do seu poder, tornando-se impotente e fraco como os homens e humilhando-se até à morte infame por crucifixão, foi exaltado pelo Pai divino que o tinha constituído Senhor da terra e do céu, da história e da eternidade (cf. Carta aos Filipenses 2, 6-11).

 

Durante séculos os cristãos desejaram percorrer novamente as etapas dessa Via Crucis, um itinerário rumo à colina da crucificação mas com o olhar voltado para a última meta, a luz pascal. Fizeram-no como peregrinos naquela mesma estrada de Jerusalém, mas igualmente nas suas cidades, nas suas igrejas e nas suas casas.

 

Durante séculos escritores e artistas, famosos ou desconhecidos procuraram fazer reviver diante dos olhos estarrecidos e comovidos dos fiéis, as etapas ou «estações», verdadeiras pausas meditativas no caminho para o Gólgota. Surgiram assim imagens ora poderosas, ora simples, altivas e populares, dramáticas e ingênuas.

 

Também em Roma, guiada pelo seu Bispo, o Papa Bento XVI, com toda a cristandade presente no mundo unida ao seu pastor universal, em cada Sexta-feira Santa realiza-se aquela viagem do espírito seguindo as pegadas de Jesus Cristo.

 

Este ano, as reflexões – de modo narrativo-meditativo –, destinadas a proclamar em cada parada orante, seguindo a trama da narração da Paixão segundo o Evangelista Lucas, serão propostas por um biblista, Mons. Gianfranco Ravasi, Prefeito da Biblioteca-Pinacoteca Ambrosiana de Milão, instituição cultural fundada há quatro séculos pelo Cardeal Federico Borromeo, Arcebispo daquela cidade e primo de São Carlos, o qual teve, há um século atrás, entre os seus Prefeitos Achille Ratti, o futuro Papa Pio XI.

 

Iniciemos agora, ao longo deste itinerário na oração, não por uma simples memória histórica de um evento passado e de um defunto, mas, para viver a realidade áspera e crua de um acontecimento aberto à esperança, à alegria, à salvação. Conosco, caminharão talvez aqueles que ainda estão na busca, progredindo na inquietude das suas interrogações. E enquanto seguirmos, de etapa em etapa, este caminho de dor e de luz, ressoarão as palavras vibrantes do apóstolo Paulo: «A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Mas sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo» (1 Cor 15, 54-55.57).



 

ORAÇÃO INICIAL

 

O Santo Padre:

 

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

 

R. Amém.

 

Irmãos e irmãs, As sombras noturnas desceram sobre Roma como naquela noite sobre as casas e jardins de Jerusalém. Também nós nos aproximaremos das oliveiras do Getsêmani e começaremos a seguir os passos de Jesus de Nazaré
nas últimas horas da sua vida terrena.

 

Será uma viagem na dor, na solidão, na crueldade, no mal e na morte. Mas, será igualmente um percurso na fé, na esperança e no amor, pois a sepultura da última etapa do nosso caminho não permanecerá selada para sempre.

 

Passadas as sombras, na alvorada da Páscoa, levantar-se-á a luz da alegria, o silêncio será substituído pela palavra de vida, à morte sucederá a glória da ressurreição.

 

Rezemos, portanto, entrelaçando as nossas palavras com aquelas de uma antiga voz do Oriente cristão.

 

Senhor Jesus concedei-nos as lágrimas que no momento não possuímos, para lavar os nossos pecados. Dai-nos a coragem de suplicar a vossa misericórdia. No dia do último juízo, arrancai as páginas que enumeram os nossos pecados e fazei que não existam mais (1). 

 

Senhor Jesus, vós repetis também para nós, nesta noite, as palavras que um dia dissestes a Pedro: «Segue-me». Obedecendo ao vosso convite, queremos seguir-vos, passo a passo, no caminho da vossa Paixão, para também nós aprendermos a pensar segundo Deus e não segundo os homens. Amém.

 

(1) Nil Sorkij (1433-1580), da Orazione Penitenziale.



 

 

PRIMEIRA ESTAÇÃO


Jesus no Horto das Oliveiras

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas. 22, 39-46

 

Saiu então, e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação». Depois afastou-Se bruscamente deles até à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, posto de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; não se faça, contudo, a Minha vontade, mas a Tua». Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-Se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caiam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação».

 

MEDITAÇÃO

 

Quando o véu das sombras desce sobre Jerusalém, as oliveiras do Getsêmani parecem-nos reconduzir, ainda hoje, com o sussurrar das suas folhas, àquela noite de sofrimento e de oração vivida por JesusEle se destaca solitário, no centro da cena, ajoelhado no chão daquele jardim. Como cada pessoa que está diante da morte, também Cristo se sente afligido pela angústia; aliás, a palavra originária que o evangelista Lucas utiliza é «agonia», ou seja, luta.

 

Então, a oração de Jesus é dramática, tensa como num combate, e o suor estriado de sangue que se escorre pelo seu rosto é sinal de um tormento áspero e duro. O grito é lançado para o alto, em direção ao Pai que parece misterioso e mudo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice», o cálice da dor e da morte.

 

Também um dos grandes Pais de Israel, Jacó, em uma noite escura na margem de um afluente do Jordão tinha encontrado Deus como uma pessoa misteriosa, que «lutara com ele até o surgir da aurora»(2). Rezar em tempo de prova é uma experiência que perturba corpo e alma e também Jesus, nas trevas daquela noite, «oferece orações e súplicas com fortes gritos e lágrimas àquele que pode libertá-lo da morte»(3).

 

No Cristo do Getsêmani, em luta com a angústia, reencontramo-nos a nós mesmos quando atravessamos a noite da dor lancinante, da solidão dos amigos, do silêncio de Deus. É por isso que Jesus – como foi dito - «estará em agonia até o fim dos tempos: não é necessário dormir até àquele momento pois ele procura companhia e conforto» (4), como todo sofredor da terra.

 

Nele descobrimos também o nosso rosto, quando é regado pelas lágrimas e é marcado pela desolação. Mas a luta de Jesus não chega à tentação da rendição desesperada, mas à profissão de confiança no Pai e no seu misterioso desígnio. São as palavras do «Pai nosso» que ele repropõe naquela hora amarga: «Orai para que não entreis... não se faça, contudo, a Minha vontade, mas a Tua». E eis que então, aparece o anjo da consolação, do apoio e do conforto que auxilia Jesus e a nós a continuar até o final o nosso caminho.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Stabat mater dolorosa,
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

 

 

(2) Cf. Génesis 32, 23-32.
(3) Cf. Hebreus 5, 7.
(4) Blaise Pascal, Pensieri, n. 553 ed. Brunschvicg



 

 

SEGUNDA ESTAÇÃO


Jesus, traído por Judas, é preso

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 47-53

 

Estava Ele ainda a falar quando surgiu uma multidão de gente, precedendo-os um dos doze, o chamado Judas, que caminhava à frente, e aproximou-se de Jesus para O beijar. Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» Vendo aqueles que O cercavam o que ia suceder, perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» E um deles feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: «Já basta, deixai-os». E, tocando na orelha, curou-o. Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos príncipes dos sacerdotes, aos oficiais do Templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro dum salteador? Estando Eu todos os dias convosco no Templo, não Me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas».

 

MEDITAÇÃO

 

Entre as oliveiras do Getsêmani, imerso nas trevas, aproxima-se agora uma pequena multidão: a guiá-la, Judas «um dos Doze», um discípulo de Jesus. Na narrativa de Lucas, ele não pronuncia sequer uma palavra, é apenas uma gélida presença. Parece até que não consegue aproximar-se completamente do rosto de Jesus para beijá-lo, interrompido pela única voz que ressoa, a de Cristo: «Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?». São palavras dolentes, mas firmes que revelam o emaranhado maligno que se aninha no coração agitado e endurecido do discípulo, talvez iludido e desiludido e, depois, desesperado.

 

Aquela traição e aquele beijo tornaram-se, ao longo dos séculos, o símbolo de todas as infidelidades, apostasias e enganos. Cristo, portanto, encontra uma outra prova, a da traição que gera abandono e isolamento. Não é a solidão a ele cara quando se retirava nos montes para rezar, não é a solidão interior, fonte de paz e de tranqüilidade, pois, com ela, se inclina sobre o mistério da alma e de Deus.

 

É, porém, a áspera experiência de tantas pessoas que mesmo neste momento que nos vê reunidos, como em outros momentos do dia, estão sozinhas em um quarto, diante de uma parede vazia ou de um telefone mudo, esquecidas por todos porque são idosos, doentes, estrangeiros ou desconhecidos. Jesus bebe com eles também este cálice que contém o veneno do abandono, da solidão, da hostilidade.

 

Porém, a cena do Getsêmani movimenta-se: ao quadro precedente, íntimo e silencioso da oração se opõe agora, sob as oliveiras, o estrondo, o tumulto e até mesmo a violência. Jesus se ergue, sempre no centro como um ponto fixo. Ele está consciente do mal que envolve a história humana com o seu sudário de prepotência, de agressão, de brutalidade: «Esta é a vossa hora e o domínio das trevas».

 

Cristo não quer que os discípulos, prontos a empunhar a espada, revidem o mal com o mal, a violência com a violência. Ele tem a certeza de que o poder das trevas – aparentemente invencível e jamais satisfeita de triunfos – está destinado a ser dominado.

 

À noite, de fato, sucederá o alvorecer, à obscuridade a luz, à traição o arrependimento, também para Judas. É por esse motivo que, não obstante tudo isso, é necessário continuar a esperar e a amar. Jesus tinha ensinado no monte das Bem-aventuranças, que para se ter um mundo novo e diferente, é necessário amar os nossos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem (5).

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.

 

(5) Cf. Mateus 5, 44.

 

 

 

 

TERCEIRA ESTAÇÃO


Jesus é condenado pelo Sinédrio

 

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 66-71

 

Quando se fez dia, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, príncipes dos sacerdotes e escribas, os quais O levaram ao seu tribunal. Disseram-Lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias». Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não Me acreditareis e, se vos perguntar, não Me respondereis. Mas o Filho do Homem sentar-Se-á, doravante, à direita do poder de Deus». Disseram todos: «Tu és o Filho de Deus?». Ele respondeu: «Vós, o dizeis, Eu sou». Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da Sua boca»

 

MEDITAÇÃO

 

O sol da sexta-feira santa está surgindo por detrás do monte das Oliveiras, depois de ter iluminado os vales do deserto de Judá. Os setenta e um membros do Sinédrio, a máxima instituição judaica, estão reunidos em semi-círculo ao redor de Jesus. Está para ser iniciada a audiência que compreende o costumeiro procedimento das assembléias judiciárias: a verificação da identidade, os motivos da acusação, as testemunhas. O julgamento é de natureza religiosa segundo as competências daquele tribunal, como parece também nas duas perguntas principais: «És tu o Cristo?... És tu o Filho de Deus?».

 

A resposta de Jesus parte de uma premissa quase desencorajada: «Se vo-lo disser, não Me acreditareis e, se vos perguntar, não Me respondereis». Ele sabe, portanto, que na cilada existe a incompreensão, a suspeita, o equívoco. Ele sente ao seu redor uma fria cortina de desconfiança e de hostilidade, ainda mais opressora pois ela está erguida contra ele pela sua própria comunidade religiosa e nacional.

 

 Já o salmista tinha sentido esta desilusão: «Se me tivesse ultrajado o inimigo, eu tolerá-lo-ia. Se contra mim se levantara quem me odeia, afastá-lo-ia. Mas tu, um homem igual a mim, meu amigo e familiar, com quem eu partilhava o conselho agradável, com quem ia à casa de Deus cheio de entusiasmo» (6).

 

Porém, não obstante aquela incompreensão, Jesus não hesita em proclamar o mistério que está nele e que a partir daquele momento está para ser revelado como numa epifania. Recorrendo à linguagem da Sagrada Escritura, ele se apresenta como o Filho do homem «sentado à direita do poder de Deus».

 

É a glória messiânica, esperada por Israel, que agora se manifesta neste condenado. Aliás, é o Filho de Deus que paradoxalmente se apresenta revestido agora dos seus despojos de um acusado. A resposta de Jesus - «Eu sou» - , à primeira vista semelhante à confissão de um condenado, torna-se na realidade uma profissão solene de divindade. Para a Bíblia, de fato, «Eu sou» é o nome e apelativo do próprio Deus (7).

 

A imputação, que levará a uma sentença de morte, torna-se a uma revelação e assim se torna também a nossa profissão de fé no Cristo, o Filho de Deus.

 

Aquele acusado, humilhado pela corte enfurecida, pela suntuosidade da sala, por um julgamento já selado, recorda a todos o dever do testemunho à verdade. Um testemunho de fazer ressoar até mesmo quando é forte a tentação de ocultar-se, de resignar-se, de deixar-se levar pela corrente da opinião dominante.

 

Como declarava uma jovem judia destinada a ser morta num lager, (8) «a cada novo horror ou crime devemos opor um novo fragmento de verdade e de bondade que conquistamos em nós mesmos. Podemos sofrer, mas não devemos sucumbir».

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!

 

(6) Salmo 55 (54) 13-15.
(7) Cf. Êxodo 3, 14.
(8) Etty Hillesum, Diario 1941-1943 (3 de julho de 1943).

 

 

 

 

QUARTA ESTAÇÃO


Jesus é renegado por Pedro

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 54-62

 

Apoderando-se então de Jesus levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia-O de longe. Como tivessem acendido uma fogueira no meio do pátio e se tivessem sentado, Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele». Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não O conheço, mulher». Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais». Mas Pedro disse: «Homem, não sou». Cerca de uma hora mais tarde, um outro asseverou com insistência: «Com certeza este também estava com Ele; pois até é galileu». Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes». E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-Se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Antes de o galo cantar, negar-Me-ás três vezes». E, vindo para fora, chorou amargamente.

 

MEDITAÇÃO

 

Retornemos àquela noite deixada para trás, entrando na sala do primeiro processo ao qual Jesus foi submetido. A obscuridade e o frio são dilacerados pelas chamas de um braseiro colocado no pátio do palácio do Sinédrio. Os funcionários em serviço e de guarda estendem as mãos em direção daquele calor; os rostos estão iluminados. E eis que se erguem três vozes, três mãos a indicar um rosto reconhecido, o de São Pedro.

 

A primeira é uma voz feminina. Uma criada do palácio que fixa o discípulo nos olhos e exclama: «Estavas também tu com Jesus!»Surge depois uma voz masculina: «Pertences a eles!»É ainda um homem a insistir mais tarde a mesma acusação, notando o sotaque setentrional de Pedro: «Estavas com ele!».

 

A estas denúncias, quase num crescendo desesperado de autodefesa, o apóstolo não hesita por três vezes a perjurar: «Não conheço Jesus! Não sou um discípulo seu! Não sou aquele dizeis!».

 

Portanto, a luz daquele braseiro ilumina, portanto, muito além do rosto de Pedro, revela uma alma mesquinha, a sua fragilidade, o egoísmo, o medo. E no entanto, algumas horas antes, ele tinha proclamado: «Mesmo que todos venham a sucumbir, eu não! Mesmo que eu tenha de morrer Contigo, não Te renegarei!» (9).

 

Mas esta traição não terminou, como tinha acontecido com a de Judas. Há, de fato, naquela noite um som que dilacera o silêncio de Jerusalém, mas sobretudo a consciência de Pedro: é o canto de um galo.

 

Exatamente naquele momento Jesus estava saindo do processo judiciário que o havia condenado. Lucas descreve a troca de olhares entre Cristo e Pedro e o faz usando um verbo grego que indica o fixar profundamente um rosto. Mas, como nota o evangelista, não se trata de um homem qualquer que agora olha para o outro, é «o Senhor», cujos olhos perscrutam os corações e os rins, ou seja, o íntimo segredo de uma alma.

 

E dos olhos do apóstolo caem lágrimas de arrependimento. Na sua vicissitude condensam-se muitas histórias de infidelidade e de conversão, de fraqueza e de libertação. «Chorei e acreditei!»: assim, com apenas estes dois verbos, séculos depois, um convertido (10), aproximará sua experiência à de Pedro, dando voz também a todos nós que neste dia cometemos pequenas traições, protegendo-nos por detrás de justificações mesquinhas, deixando-nos possuir por medos vis.

 

Mas, como para o apóstolo, também para nós está aberto o caminho do encontro com o olhar de Cristo que nos confia o mesmo compromisso: também tu «uma vez convertido, fortalece os teus irmãos» (11).

 

Todos:

 

Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quæ mærebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
Nati pœnas incliti.

 

(9) Marcos 14, 29.31.
(10) François-René de Chateaubriand, Il genio del cristianesimo (1802).
(11) Lucas 22, 32.


 

 

 

QUINTA ESTAÇÃO


Jesus é julgado por Pilatos

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 13-25

 

Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxeste este Homem à minha presença como andando a revoltar o povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-Lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-lo, depois de O castigar». Ora, pela festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. E todos se puseram a gritar: «Dá morte a esse e solta-nos Barrabás». Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por um homicídio. De novo, Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-O! Crucifica-O!». Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele então? Nada encontrei n’Ele que mereça a morte. Libertá-Lo-ei, portanto, depois de O castigar». Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Pilatos, então, decretou que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.

 

MEDITAÇÃO

 

Neste momento, Jesus encontra-se entre as insígnias imperiais, os estandartes, as águias e os pavilhões da autoridade romana, dentro de um outro palácio do poder, o do governador Pôncio Pilatos, um nome à margem e esquecido na história do Império de Roma. E, no entanto, é um nome que ressoa todos os domingos, em todo o mundo, exatamente por causa daquele processo que ora se celebra: os cristãos, de fato, no Credo proclamam que Cristo «foi crucificado sob Pôncio Pilatos».

 

Por um lado, ele encarna à primeira vista a brutalidade repressiva, pois Lucas recorda, numa página do seu Evangelho, naquele dia em que ele não hesitou em misturar no templo o sangue judeu com o dos animais para o sacrifício (12).

 

Com ele compara-se um outro poder obscuro e impalpável: é a força feroz das multidões, manipuladas pelas estratégias dos poderes ocultos que tramam na escuridão. O resultado está na escolha de conceder a graça a Barrabás, um rebelde homicida.

 

Por outro lado, porém, emerge um perfil diferente de Pilatos: ele parece representar a equidade tradicional e a imparcialidade do direito romano. Por três vezes pelo menos, Pilatos tenta propor a absolvição de Jesus por insuficiência de provas, cominando ao máximo a sanção disciplinar da flagelação. A acusa, de fato, não suportaria um sério exame processual. Como insistem todos os evangelistas, Pilatos revela, portanto, uma certa abertura de ânimo, uma disponibilidade que, porém, progressivamente se debilita e se apaga.

 

Sob a pressão da opinião pública, Pilatos encarna, então, uma atitude que parecem dominar nos nossos dias: a indiferença, o desinteresse, a conveniência pessoal. Para se viver serenamente, e por vantagem própria, não se hesita em esmagar a verdade e a justiça. A imoralidade explícita gera pelo menos um estremecimento ou uma reação; esta, por sua vez, pura amoralidade que paralisa a consciência, extingue o remorso e fecha a mente. A indiferença é a morte lenta da verdadeira humanidade.

 

O êxito está na escolha final de Pilatos. Como diziam os antigos latinos, uma justiça hipócrita e apática se torna semelhante a uma teia de aranha na qual se prendem e morrem os mosquitos mas os grandes pássaros as rasgam com a força do seu vôo. Jesus, que é um dos pequenos da terra, sem poder emitir uma palavra, é sufocado por esta teia. E como muitas vezes fazemos, Pilatos olha para o outro lado, lava as mãos e como álibi lança – segundo o evangelista João (13) - a eterna pergunta típica de qualquer cepticismo e de qualquer relativismo ético: «E o que é a verdade?».

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis est homo qui non fleret,
Matrem Christi si videret
in tanto supplicio?

 

(12) Cf. Lucas 13, 1.
(13) João 18, 38.

 


 

 

SEXTA ESTAÇÃO


Jesus é flagelado e coroado de espinhos

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 22, 63-65

 

Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam d’Ele e maltratavam-n’O. Cobriam-Lhe o rosto e perguntavam-Lhe: «Adivinha! Quem Te bateu?» E muitos outros insultos proferiam contra Ele.

 

MEDITAÇÃO

 

 Um dia, enquanto caminhava pelo vale do Jordão, não distante de Jericó, Jesus parou e dirigiu aos Doze palavras fervorosas e incompreensíveis aos seus ouvidos: «Olhai, subimos agora a Jerusalém e cumprir-se-á tudo quanto foi escrito pelos profetas acerca do Filho do Homem. Vai ser entregue aos gentios, vai ser escarnecido, maltratado e coberto de escarros; e, depois de O açoitarem, dar-Lhe-hão a morte»(14).

 

Mas aquelas palavras resolvem o seu enigma: no pátio do pretório, a sede jerosolimitana do governador romano, inicia o lúgubre ritual da tortura, acompanhado de fora do palácio pela multidão que espera o espetáculo do cortejo da execução capital.

 

Naquele espaço proibido para o público se consuma um gesto que será repetido nos séculos de mil formas sádicas e perversas, na obscuridade de tantas prisões. Jesus não é somente açoitado mas também é humilhado. Aliás, o evangelista Lucas para definir aqueles insultos usa o verbo «blasfemar», revelando de modo alusivo o significado profundo daquele desabafo dos guardas enfurecidos sobre a vítima. Mas na martirizada carne de Cristo se associa igualmente uma afronta à sua dignidade pessoal através de uma farsa macabra.

 

É o evangelista João quem recorda aquele ato sarcástico, ritmado sobre um jogo popular, o do rei do ridículo. Eis, de fato, uma coroa cujos esplendores são ramos de espinhos; a púrpura real é substituída por um manto vermelho; e, finalmente, a saudação imperial, «Ave, César!». Porém, em dissolução a este escárnio, se entrevê um sinal glorioso: sim, Jesus è humilhado como rei do ridículo; mas, na realidade ele é o verdadeiro soberano da história.

 

Quando finalmente revelará a sua realeza – como nos recorda um outro evangelista, Mateus (15) - ele condenará todos os torturadores e os opressores e introduzirá na glória não apenas as vítimas mas também todos os que visitaram quem estava no cárcere, cuidaram dos feridos e dos sofredores, sustentaram os famintos, os sedentos e os perseguidos.

 

Agora, porém, o rosto transfigurado mostrado no Tabor (16) está desfigurado; aquele que é«irradiação da glória divina» (17) está obscurecido e humilhado; como tinha anunciado Isaias, o Servo messiânico do Senhor tem o dorso sulcado pelos flagelos, a barba arrancada das faces, o rosto regado de escarros (18). Nele, que é o Deus da glória, está presente também a nossa humanidade dolente; nele, que é o Senhor da história, se revela a vulnerabilidade das criaturas; nele, que é o Criador do mundo, se condensa a dor de todos os seres vivos.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Pro peccatis suæ gentis
vidit Jesum in tormentis
et flagellis subditum.

 

(14) Lucas 18, 31-32.
(15) Cf. Mateus 25, 31-46.
(16) Cf. Lucas 9, 29.
(17) Hebreus 1, 3.
(18) Cf. Isaías 50, 6.


 

 

 

SÉTIMA ESTAÇÃO


Jesus carrega a cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Marcos 15, 20

 

Em seguida, depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as Suas roupas.

 

MEDITAÇÃO

 

Nos pátios do palácio imperial terminou a festa macabra; caem as vestes daquele ridículo hábito real, escancara-se o portal. Eis que avança com suas vestes normais, com a sua túnica «toda tecida de alto a baixo, não tinha costura» (19). Nas suas costas, apóia a trave horizontal, destinada a acolher os seus braços quando ela for fixada no poste da crucifixão. A sua presença é muda, suas pegadas ensangüentam aquela estrada que ainda hoje traz o nome de «Via dolorosa», em Jerusalém.

 

Inicia-se agora, em sentido estrito a Via Crucis, aquele percurso que se repete esta noite e que se encaminha para a colina das execuções capitais, fora dos muros da cidade santa. Jesus avança e vacila sob aquele peso e pela fraqueza do seu corpo ferido. A tradição desejou simbolicamente assinalar aquele itinerário com três quedas. Nelas, há o episódio infinito de tantas mulheres e homens prostrados na miséria ou na fome: são crianças magras, idosos enfraquecidos, pobres debilitados de cujas veias foi tirada toda energia.

 

Naquelas quedas há ainda a história de todas as pessoas desoladas na alma e infelizes, ignoradas pelo frenesi e pela distração das que passam ao lado. Em Cristo curvado sob a cruz está a humanidade doente e fraca que, como afirmava o profeta Isaías (20), «Desolada, falarás do solo, as tuas palavras virão apagadas pelo pó, a tua voz sairá da terra como a de um fantasma, a tua voz levantar-se-á do pó como um murmúrio».

 

Também hoje, como ontem, ao redor de Jesus que se ergue e prossegue carregando o lenho da cruz, continua a vida quotidiana do caminho, assinalada pelos negócios, pelas monstras cintilantes, pela procura do prazer. E, no entanto, à sua volta não há apenas hostilidade ou indiferença. Nos seus passos movem-se hoje aqueles que escolheram segui-Lo. Esses ouviram o apelo que um dia ele tinha lançado passando pelos os campos da Galiléia: «Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-Me» (21).

 

«Saiamos, então, do campo para ir ter com ele fora do acampamento, levando o Seu opróbrio» (22). No final da Via dolorosa não há apenas a colina da morte ou o abismo do sepulcro, mas igualmente o monte da gloriosa ascensão e da luz.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quis non posset contristati
piam matrem comtemplari
dolentem cum Filio?

 

(19) João 19, 23.
(20) Isaías 29, 4.
(21) Lucas 9, 23.
(22) Hebreus 13, 13.

 


 

 

OITAVA ESTAÇÃO
 

Jesus é ajudado pelo Cireneu a carregar a Cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 26

 

Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus.

 

MEDITAÇÃO

 

Voltava do campo, talvez depois de algumas horas de trabalho. Esperavam-no em casa os preparativos do dia festivo: ao pôr-do-sol, de fato, seria aberta a sagrada fronteira do sábado, iniciado com o despontar das primeiras estrelas no céu. Simão era o seu nome; ele era um judeu proveniente da África, de Cirene, cidade situada no litoral líbio e que hospedava uma densa comunidade da Diáspora judaica (23). Uma dura ordem da divisão romana que escolta Jesus o detém e o obriga a carregar, por um trecho de caminho, o patíbulo daquele condenado enfraquecido.

 

Simão tinha passado por ali por acaso; não sabia que aquele encontro seria extraordinário. Como está escrito, (24) “quantos homens nos séculos teriam desejado estar ali, no seu lugar, ter passado por ali exatamente naquele momento. Mas, era tarde demais, era ele quem passou e ele, ao longo dos séculos não teria jamais cedido o seu lugar a algum outro”. Paulo apóstolo, tinha sido interceptado, “agarrado e conquistado” (25) por Cristo na estrada de Damasco. É por isso que depois retomou de Isaías as surpreendentes palavras de Deus: «Fui encontrado pelos que não Me procuravam; manifestei-Me àqueles que não perguntavam por Mim» (26).

 

Deus está em emboscada nos caminhos da nossa existência quotidiana. É ele que às vezes bate nas nossas portas pedindo um lugar em nossas mesas para jantar conosco (27). Até mesmo um imprevisto, como que aconteceu na vida de Simão de Cirene, pode se tornar um dom de conversão, e isso é tão verdade que o evangelista Marcos citará os nomes dos filhos daquele homem que se tornou cristão: Alexandre e Rufo (28).

 

O Cireneu é, assim, o emblema do misterioso abraço entre a graça divina e a atividade humana. No final o evangelista o representa como o discípulo que «leva a crua atrás de Jesus», seguindo-lhe as pegadas (29). O seu gesto, da execução forçada, transforma-se idealmente num símbolo de todos os atos de solidariedade pelos sofredores, pelos oprimidos e pelos exaustos.

 

O Cireneu representa, assim, uma imensa fila das pessoas generosas, dos missionários, dos Samaritanos que não «se desviam» da estrada, (30) mas se inclinam sobre os miseráveis carregando-lhes sobre si para sustentá-los. Na cabeça e nos ombros de Simão, curvado sob o peso da cruz, ressoam as palavras de São Paulo: «Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo» (31).

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Tui Nati vulnerati,
tam dignati pro me pati,
poenas mecum divide.

 

(23) Cf. Atos 2, 10; 6, 9; 13, 1.
(24) Charles Péguy, Il mistero della carità di santa Giovanna D’Arco (1910).
(25) Filipenses 3, 12.
(26) Romanos 10, 20.
(27) Cf. Apocalipse 3, 20.
(28) Cf. Marcos 15, 21.
(29) Cf. Lucas 9, 23.
(30) Cf. Lucas 10, 30-37.
(31) Gálatas 6, 2.

 
 

 

NONA ESTAÇÃO


Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 27-31

 

Seguiam-n’O uma grande massa de povo e umas mulheres que se lamentavam e choravam por Ele. Jesus, voltou-Se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos, pois dias virão em que se dirá: “Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram”. Hão de então dizer aos montes: “Caí sobre nós” e às colinas: “Cobri-nos”. Porque se tratam assim a madeira verde, o que acontecerá à seca?»

 

MEDITAÇÃO

 

Naquela sexta-feira de primavera, no caminho que conduzia ao Gólgota, não se aglomeravam senão alguns desocupados, curiosos e pessoas hostis a Jesus. E eis um grupo de mulheres, talvez pertencentes a uma irmandade dedicada ao conforto e ao pranto ritual pelos moribundos e pelos condenados à morte.

 

Cristo, durante a sua vida terrena, superando convenções e preconceitos, estava frequentemente circundado por mulheres e tinha conversado com elas, ouvindo os seus pequenos e grandes dramas: da febre da sogra de Pedro à tragédia da viúva de Naim, da prostituta em lágrimas ao tormento interior de Maria de Mágdala, do afeto de Marta e Maria ao sofrimento da mulher acometida de hemorragia, da jovem filha de Jairo à anciã encurvada, da nobre Joana de Cusa à viúva indigente e às figuras femininas da multidão que o seguia.

 

Em torno a Jesus, até à sua última hora, estreitam-se numerosas mães, filhas e irmãs. Junto dele, agora, imaginemos todas as mulheres humilhadas e violentadas, as marginalizadas e submetidas a práticas tribais indignas, às mulheres em crise e sozinhas diante da sua maternidade, mães judias e palestinas, as de todas as regiões em guerra, as viúvas ou as idosas esquecidas pelos seus filhos...

É uma longa suposição de mulheres que testemunham num mundo árido e impiedoso o dom da ternura e da comoção, como fizeram pelo filho de Maria no final daquela manhã de Jerusalém. Elas nos ensinam a beleza dos sentimentos: não nos devemos envergonhar se o coração acelera suas batidas na compaixão, se por vezes afloram lágrimas dos olhos, se se sente necessidade de uma carícia e de um conforto.

 

Jesus não ignora as intenções caritativas daquelas mulheres como outrora acolheu outros gestos delicados. Mas, paradoxalmente, é ele agora quem se interessa pelos iminentes sofrimentos daquelas «filhas de Jerusalém»: «Não choreis por Mim, mas por vós mesmas e pelos vossos filhos». De fato, há no horizonte um incêndio que está para abater-se sobre o povo e sobre a cidade santa, «um lenho seco» pronto para pegar fogo.

 

O olhar de Jesus vai em direção ao futuro julgamento divino sobre o mal, a injustiça, o ódio que estão alimentando aquela chama. Cristo se comove com a dor que está caindo sobre aquelas mães quando irromperá na história a intervenção justa de Deus. Mas as suas frementes palavras não selam um êxito desesperado pois a sua voz é a dos profetas, uma voz que não gera agonia e morte mas conversão e vida: «Buscai o Senhor e vivereis... Então a jovem executará danças alegres; jovens e velhos partilharão do júbilo comum. Converterei o seu pranto em gozo, e consolá-los-ei, passada a sua dor, e os alegrarei» (32).

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.


Eia, mater, fons amoris,
me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.

 

(32) Amós 5, 6; Jeremias 31, 13.

 

 

 

DÉCIMA ESTAÇÃO


Jesus é crucificado

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 33-38

 

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem». Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as Suas vestes. O povo permanecia ali, a observar e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Os soldados também troçavam d’Ele, aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre. Diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». E por cima d’Ele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus».

 

MEDITAÇÃO

 

Era apenas uma formação rochosa denominada em aramaico Gólgota, em latim, Calvário, isto é «crânio», talvez devido à sua configuração física. Sobre aquele monte se elevam três cruzes de condenados à morte, dois «malfeitores», provavelmente revolucionários anti-romanos e Jesus. Aproximavam-se as últimas horas da vida terrena de Cristo, horas assinaladas pela dilaceração das carnes, pela desconjunção dos ossos, pela progressiva asfixia, pela desolação interior. São as horas que testemunham a plena fraternidade do Filho de Deus com o homem que padece, agoniza e morre.

 

Cantava um poeta (33): «O ladrão da esquerda e o ladrão da direita/ não sentiam senão os cravos nas mãos/ Cristo, porém, sentia a dor dada pela salvação/ o lado aberto, o coração trespassado/ É o coração que lhe queimava. / Um coração devorado pelo amor». Sim, porque ao redor daquele patíbulo parecia ressoar a voz de Isaias: «Mas foi castigado pelos nossos crimes, esmagado pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele, fomos curados pelas suas chagas [...] oferecendo a sua vida em sacrifício expiatório » (34).

 

Os braços abertos daquele corpo martirizado querem estreitar a si todo o horizonte, abraçando a humanidade quase «como uma galinha a sua ninhada debaixo das asas» (35). De fato era esta a sua missão: «E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (36).

 

Sob aquele corpo agonizante, desfila a multidão que quer «ver» um espetáculo macabro. É o retrato da superficialidade, da curiosidade banal, da busca de emoções fortes. Um retrato no qual se pode identificar também uma sociedade como a nossa que escolhe a provocação e o excesso quase como uma droga para excitar uma alma já entorpecida, um coração insensível, uma mente ofuscada.

 

Sob aquela cruz há também a crueldade pura e dura, a dos chefes e dos soldados que não conhecem piedade e conseguem profanar até mesmo o sofrimento e a morte com zombaria: «Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!». Eles não sabem que exatamente as suas palavras sarcásticas e a escrita oficial colocada sobre a cruz - «Este é o rei dos judeus» - dizem uma verdade.

 

Certo, Jesus não desce da cruz com um espetáculo surpreendente: ele não quer adesões servis fundadas no prodigioso, mas uma fé livre e um amor autêntico. No entanto, exatamente através da derrota da sua humilhação e da impotência da morte, ele abre a porta da glória e da vida, revelando-se o verdadeiro Senhor e Rei da história.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac ut ardeat cor meum
in amando Christum Deum,
ut sibi complaceam.

 

(33) Charles Péguy, Il mistero della carità di santa Giovanna d'Arco (1910).
(34) Isaías 55, 5. 10.
(35) Lucas 13, 34.
(36) João 12, 32.


 

 

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO


Jesus promete o seu Reino ao bom ladrão

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 39-43

 

Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça pois recebemos o castigo que as nossas ações mereciam, mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no Teu reino». Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás Comigo no Paraíso».

 

MEDITAÇÃO

 

 Passam os minutos da agonia e a energia vital de Jesus crucificado lentamente se está diminuindo. Mas, naqueles momentos trágicos, ele ainda tem a força para um último ato de amor, em relação a um dos dois condenados à pena capital que estão ao lado. Entre Cristo e aquele homem transcorre um tênue diálogo, reduzido a duas frases essenciais.

 

Por um lado, há o apelo do malfeitor, que se tornou, na tradição, o «bom ladrão», convertido na extrema hora da sua vida: «Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no Teu reino!». Num certo sentido é como se o homem recitasse uma versão pessoal do «Pai nosso» e da invocação: «Venha a nós o vosso Reino!». Ele, porém, o endereça diretamente a Jesus, chamando-o pelo nome, um nome de significado iluminador naquele instante: «O Senhor salva». Há, ainda, aquele imperativo: «Lembra-Te de mim». Na linguagem bíblica este verbo tem uma força particular que não corresponde ao nosso pálido «lembrar». É uma palavra de certeza e de confiança, quase querendo dizer: «Toma conta de mim, não me abandone, seja como o amigo que apóia e ampara.

 

Por outro lado, eis a resposta de Jesus, brevíssima, como um sopro: «Hoje estarás Comigo no paraíso».

 

Esta palavra «paraíso», tão rara na Sagrada Escritura que aparece apenas outras duas vezes no Novo Testamento (37), no seu significado original evoca um jardim fértil e florido. É uma imagem perfumada daquele Reino de luz e de paz que Jesus tinha anunciado na sua pregação inaugurada com os seus milagres que logo terá uma epifania gloriosa na Páscoa. É a meta do nosso caminho cansativo na história, é a plenitude da vida, é a intimidade do abraço com Deus. É o último dom que Cristo faz, exatamente através do sacrifício da sua morte que se abre à glória da ressurreição.

 

Nada mais disseram aqueles dois crucificados naquele dia de angústia e de dor, mas aquelas poucas palavras pronunciadas com dificuldade das suas gargantas abrasada e ecoam sempre como um sinal de confiança e de salvação para quem pecou mas também acreditou e esperou, mesmo que tenha sido no extremo limite da vida.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Sancta Mater, istud agas,
Crucifixi fige plagas
cordi meo valide.

 

(37) Cf. 2 Coríntios 12, 4; Apocalipse 2, 7.

 


 

 

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO


Jesus na cruz, a Mãe e o Discípulo

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São João 19, 25-27

 

Junto da cruz de Jesus estavam Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria de Magdala. Ao ver Sua mãe e junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse à Sua mãe: «Mulher, eis aí o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua mãe». E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-A em sua casa.

 

MEDITAÇÃO

 

Tinha começado a separar-se daquele Filho desde o dia em que, aos doze anos, ele lhe comunicara que tinha outra casa e outra missão para cumprir, em nome do seu Pai celestial. Agora, porém, chegou para Maria o momento da suprema separação. Naquela hora há a aflição de toda mãe que vê soçobrar até mesmo a lógica da natureza pela qual são as mães a morrer antes das suas criaturas. Mas o evangelista João cancela toda lágrima daquele rosto de dores, cala qualquer grito dos lábios, não prostra Maria no desespero.

 

Antes, há um halo de silêncio que é quebrado por uma voz que desce da cruz e do rosto torturado do Filho agonizante. É muito mais do que um momento familiar: é uma revelação que marca uma mudança na vida da Mãe. A extrema separação na morte não é estéril mas há uma fecundidade inesperada semelhante ao parto de uma mãe.

 

Exatamente como tinha anunciado o mesmo Jesus, algumas horas antes, na última noite da sua existência terrena: «A mulher, quando está para dar a luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra mais da aflição, pelo prazer de ter vindo ao mundo um homem» (38).

 

Maria volta a ser mãe: não é por acaso que nas poucas linhas desta narração evangélica por cinco vezes ressoa a palavra «mãe». Maria, portanto, é mãe e serão seus filhos todos aqueles que forem como «o discípulo amado», ou seja, todos aqueles que colocam sob o manto salvador da salvadora graça divina e que seguem a Cristo na fé e no amor.

 

A partir daquele momento, Maria não estará mais sozinha, tornar-se-á mãe da Igreja, um imenso povo de todas as línguas, povos e raças que nos séculos se juntarão a ela em torno à cruz de Cristo, o seu primogênito. Desde então também nós caminhamos com ela na estrada da fé, encontramo-nos com ela na casa onde sopra o Espírito de Pentecostes, nos sentamo-nos à mesa onde se parte o pão da Eucaristia e esperamos o dia em que o seu Filho voltará para nos conduzir, como ela, na eternidade da sua glória.

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Fac me tecum pie flere
Crucifixo condolere
donec ego vixero.

 

(38) João 16, 21.


 

 

 

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO


Jesus morre na cruz

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 44-47

 

Por volta da hora sexta, as trevas cobriram toda a terra, até à hora nona, por o Sol se haver eclipsado. O véu do Templo rasgou-se no meio, e Jesus exclamou, dando um grande grito: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito». Dito isto, expirou.

 

MEDITAÇÃO

 

No início do nosso itinerário era o véu da noite que envolvia o Getsêmani; agora é a escuridão de um eclipse que se estende como um sudário sobre o Gólgota. O «império das trevas» (39) parece, portanto, dominar a terra onde Deus morre. Sim, o Filho de Deus, por ser verdadeiramente homem e nosso irmão, deve beber também o cálice da morte, da morte que é o real bilhete de identidade de todos os filhos de Adão.

 

É assim que Cristo « teve de assemelhar-Se em tudo aos Seus irmãos», (40) torna-se plenamente um de nós também na extrema agonia entre a vida e a morte. Uma agonia que se repete talvez nestes minutos para um homem ou uma mulher aqui em Roma e em tantas outras cidades e lugares do mundo.

 

Não é mais o Deus greco-romano impassível e remoto como um imperador relegado aos céus dourados do seu Olimpo. No Cristo que morre se revela ora o Deus apaixonado, enamorado pelas suas criaturas até ao ponto de aprisionar-se livremente nos seus limites de dor e de morte. É por isso que o Crucifixo é um sinal humano universal da solidão da morte e também da injustiça e do mal. Mas é igualmente um sinal divino universal de esperança pela expectativa de cada centurião, isto é, de cada pessoa inquieta e em busca.

 

De fato, mesmo quando está morrendo no alto daquele patíbulo, enquanto a sua respiração se extingue Jesus não deixa de ser o Filho de Deus. Naquele momento, todos os sofrimentos e as mortes são atravessados e possuídos pela divindade, são irradiados de eternidade, neles é deposta uma semente de vida imortal, brilha um raio de luz divina.

 

Portanto, a morte mesmo não perdendo a sua tragicidade, revela um aspecto inesperado, tem o mesmo olhar do Pai celeste. É por isto que Jesus naquela hora extrema reza com ternura: «Pai, nas tuas mãos eu entrego o meu espírito». Àquela invocação nos associamos também nós através da voz poética e orante de uma mulher escritora (41): «Pai, teus dedos também fechem os meus olhos. / Tu que me és Pai, olha para mim como terna Mãe, / na cabeceira do seu filhinho que sonha. / Pai, olha para mim e acolhe-me nos teus braços».

 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Vidit suum dulcem Natum
morientem desolatum
cum emisit spiritum.

 

(39) Lucas 22, 53.
(40) Hebreus 2, 17.
(41) Marie Noël, Le canzoni e le ore (1930).



 

 

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO


Jesus é depositado no sepulcro

 

V. Nós Vos Adoramos, JESUS CRISTO, e Vos bendizemos.

 

R. Que pela Vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

 

Evangelho segundo São Lucas 23, 50-54

 

Um membro do Conselho, chamado José, homem reto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimatéia, cidade da Judéia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus e, descendo-O da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e já amanhecia o sábado.

 

MEDITAÇÃO

 

Envolto num lençol funerário, o «sudário», o corpo crucificado e martirizado de Jesus desliza lentamente das mãos piedosas e amorosas de José de Arimatéia no sepulcro escavado na rocha. Nas horas de silêncio que se seguirão, Cristo estará verdadeiramente como todos os homens que entram no ventre escuro da morte, da rigidez cadavérica, do fim. No entanto, já existe naquele crepúsculo de Sexta-feira Santa, um tremor. O evangelista Lucas observa que «já brilhavam as luzes do sábado», das janelas das casas de Jerusalém.

 

A vigília dos judeus nas suas casas se torna quase um símbolo de expectativa daquelas mulheres e daquele discípulo secreto de Jesus, José de Arimatéia, e dos outros discípulos. Uma espera que agora domina com uma tonalidade nova todos os corações crentes quando se encontram diante de um sepulcro ou também quando sentem ramificar-se dentro de si a mão fria da doença ou da morte. É a espera de uma alvorada diferente, a que logo depois, passado o sábado, aparecerá diante dos nossos olhos de discípulos de Cristo.

 

Naquela aurora, no caminho das sepulturas, virá ao nosso encontro o anjo e nos dirá: «Por que buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui; ressuscitou!» (42). E na estrada de regresso às nossas casas, será o Ressuscitado que se aproxima de nós, caminhando conosco, passando os nossos umbrais para ser hospedado nas nossas mesas e partir o pão conosco (43).

 

Rezaremos portanto também nós com as palavras de fé de um trecho da mais admirável Paixão segundo São Mateus, musicada e cantada por um dos maiores músicos da humanidade: (44) «Mesmo que o meu coração esteja imerso em lágrimas porque Jesus se despede de mim, o seu testamento me dá alegria: ele deixa nas minhas mãos a sua carne e o seu sangue... Que preciosidade! Quero oferecer-te o meu coração. Desde nele, meu Salvador! Quero imergir-me em Ti! Se o mundo é pequeno demais ti, então tu deves ser unicamente para mim mais do que o mundo e mais do que o céu!».
 

Todos:


Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na terra como é no céu. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Amém.

 

Em Latim:

 

Pater noster, qui es in cælis; sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuum; fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum cotidianum da nobis hodie; et dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus nostris; et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo.

 

Quando corpus morietur,
fac ut animæ donetur
paradisi gloria. Amen.

 

(429 Lucas 24, 5-6.
(43) Cf. Lucas 24, 13-32.
(44) Johann Sebastian Bach, Passione secondo Matteo, BWV 244, nn. 18-19.

 

 

O Santo Padre dirige aos presentes a sua palavra.

 

Ao final do discurso, o Santo Padre dá a Bênção Apostólica:

 

BÊNÇÃO

 

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

 

V. Sit nomen Domini benedictum.
R. Ex hoc nunc et usque in sæculum.

 

V. Adiutorium nostrum in nomine Domini.
R. Qui fecit cælum et terram.

 

V. Benedicat vos omnipotens Deus, Pater et Filius et Spiritus Sanctus.

R. Amen.