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A Hora da Morte.

 

No dia seguinte, já depois do meio-dia, quando entrei na sala vi uma pessoa agonizante e soube que a agonia tinha começado de noite. Quando verifiquei — foi na hora em que me pediram orações. De repente ouvi na alma a voz: Reza o Terço da Misericórdia que te ensinei. Corri para buscar o terço, ajoelhei-me junto da agonizante e comecei a rezar esse Terço, com todo o fervor do espírito. De repente, a agonizante abriu os olhos e olhou para mim; eu mal tivera tempo de rezar todo o Terço, quando ela expirou numa paz extraordinária. Pedi ardentemente ao Senhor que cumprisse a promessa que me tinha feito pela recitação desse Terço. O Senhor me deu a conhecer que aquela alma tinha obtido a graça que Ele me prometera. Essa alma foi a primeira em que se cumpriu a promessa do Senhor. Senti o poder da misericórdia que envolveu aquela alma. (Diário de Santa Faustina N° 810)

 

Quando entrei no meu quarto, ouvi estas palavras: Defenderei na hora da morte, como Minha glória, toda alma que recitar esse Terço, ou quando outros o recitarem junto a um agonizante — eles conseguirão pelo agonizante a mesma indulgência. Quando recitam esse Terço junto a um agonizante, aplaca-se a ira de Deus, a misericórdia insondável envolve a alma e abrem-se as entranhas da Minha misericórdia, movidas pela dolorosa Paixão de Meu Filho. Oh, se todos conhecessem como é grande a misericórdia do Senhor e como todos nós precisamos dela, especialmente nessa hora decisiva. (Diário de Santa Faustina N° 811)

 

Um dia, vi duas estradas: uma larga, atapetada de areia e flores, cheia de alegria e de música e de vários prazeres. As pessoas caminhavam por essa estrada dançando e se divertindo — chegavam ao fim, sem se aperceberem disso. E, no final dessa estrada, havia um enorme precipício, ou seja, o abismo do inferno. Essas almas caíam às cegas na voragem desse abismo; à medida que iam chegando, assim tombavam. E seu número era tão grande que não era possível contá-las. E avistei uma outra estrada, ou antes, uma vereda, porque era estreita e cheia de espinhos e de pedras, por onde as pessoas seguiam com lágrimas nos olhos e sofrendo dores diversas. Uns tropeçavam e caíam por cima dessas pedras, mas logo se levantavam e iam adiante. E no final da estrada havia um magnífico jardim, repleto de todos os tipos de felicidade e aí entravam todas essas almas. Já no primeiro momento, esqueciam-se de seus sofrimentos. (Diário de Santa Faustina Nº 153.)

 

Então, vi certa alma que se separou do corpo em terríveis tormentos. Ó Jesus, quando começo a escrever isto, tremo toda, vendo os horrores que testemunham contra essa alma... Vi quando saíam de um abismo lamacento almas de pequenas crianças e de outras maiores, de uns nove anos; eram repugnantes e abomináveis, semelhantes aos mais horríveis monstros, a cadáveres em decomposição. Mas esses defuntos estavam vivos e testemunhavam, em alta voz, contra essa alma que estava agonizando; e a alma que via agonizando era uma alma cheia de honras e aplausos do mundo, cujo fim é o vazio e o pecado. Por fim, surgiu uma mulher, como que segurando as lágrimas no seu avental, e que também testemunhava muito contra essa alma. (Diário de Santa Faustina N° 425)

 

Ó hora tremenda, na qual somos obrigados a rever todos os nossos atos em toda a nudez e [miséria]! Não se perde nenhum deles, e nos acompanharão fielmente ao Juízo de Deus. Não encontro palavras nem comparações para expressar coisas tão terríveis e, embora me pareça que essa alma não está condenada, seus tormentos em nada se diferenciam dos tormentos do inferno. Existe apenas a diferença de que um dia terminarão. (Diário de Santa Faustina N° 426)

 

“Muitas vezes, faço companhia a almas agonizantes, peço para elas confiança na misericórdia divina e suplico a Deus aquela grande abundância da graça de Deus que sempre vence. A Misericórdia de Deus atinge o pecador de maneira surpreendente e misteriosa às vezes no último instante. Exteriormente vemos como se tudo estivesse perdido, mas não é assim. A alma, iluminada pelo forte raio de uma extrema graça divina, dirige-se a Deus no último instante com tanta força de amor que imediatamente recebe de Deus [o perdão] das culpas e dos castigos, e exteriormente não nos dá nenhum sinal nem de arrependimento nem de contrição, visto que já não reage a coisas exteriores. Oh! quão inconcebível é a Misericórdia de Deus. Mas oh! horror − existem também almas que voluntária e conscientemente afastam essa graça e a desprezam. Embora já em meio à própria agonia, Deus misericordioso dá à alma esse momento de luz interior com que, se a alma quiser, tem a possibilidade de voltar a Deus. Mas, muitas vezes, as almas têm tamanha dureza de coração que conscientemente escolhem o Inferno, anulam todas as orações que as outras almas fazem por elas a Deus, e até os próprios esforços de Deus...” (Diário de Santa Faustina nº 1698)

 

Em determinado momento, fui chamada para o julgamento divino. Achei-me diante do Senhor, face a face. Jesus estava com a aparência que tinha na Paixão. Após um momento, desapareceram as Chagas, e ficaram apenas cinco: nas mãos, nos pés e no lado. Imediatamente, vi todo o estado da minha alma, da forma como Deus a vê. Vi claramente tudo o que não agradava a Deus. Não sabia que é preciso prestar contas ao Senhor, mesmo de faltas tão pequenas. Que momento! Quem poderá descrevê-lo? — Encontrar-se diante do Três Vezes Santo! — Jesus perguntou-me: “Quem és?” Respondi: “Sou Vossa serva, Senhor”. “És culpada de um dia de fogo no purgatório”. Queria jogar-me imediatamente nas chamas de fogo do purgatório, mas Jesus deteve-me e disse: “O que preferes: sofrer agora por um dia, ou, por pouco tempo, na terra?”. Respondi: “Jesus, quero sofrer no purgatório e quero sofrer na terra os maiores tormentos, ainda que seja até o fim do mundo”. Jesus disse: “Será suficiente uma só coisa. Tu descerás à terra e sofrerás muito, mas não por muito tempo, e cumprirás a Minha vontade e os Meus desejos, e um fiel servo Meu te ajudará a cumpri-los”. Agora reclina a tua cabeça sobre Meu peito, sobre o Meu Coração, e tira dele força e vigor para todos os sofrimentos, porque em nenhum lugar encontrarás alívio, ajuda ou consolo. Deves saber que muito, muito, terás que sofrer, mas não te assustes com isso: Eu estou contigo. (Diário de Santa Faustina Nº 36)

 

19.12.[1936]. Hoje de noite, senti na alma que certa pessoa estava necessitando da minha oração. Comecei logo a rezar. De repente, conheço interiormente e sinto o espírito que me pede isso; rezo até me sentir tranquilizada. Existe uma grande ajuda para os agonizantes neste Terço da Misericórdia. Frequentemente, rezo numa intenção conhecida interiormente; sempre rezo até sentir na minha alma que a oração produziu efeito. (Diário de Santa Faustina N° 834)

 

Especialmente agora, quando estou aqui neste hospital, sinto essa união interior com os agonizantes, que no início da agonia pedem as minhas orações. Deus me deu uma misteriosa união com os agonizantes. Agora, isso sucede com mais frequência e, por isso, tenho a possibilidade de comprovar até a hora em que começa a agonia. Hoje, às onze horas da noite, fui, de repente, despertada e senti claramente que estava junto de mim um espírito me pedindo oração; há uma espécie de força que me obriga a rezar. A minha visão é puramente espiritual, através de uma repentina luz que Deus me concede nesse momento. Rezo até me sentir tranquila na alma, e nem sempre levo o mesmo tempo. Sucede às vezes que rezo uma Ave-Maria — e já fico tranquila, então, recito o salmo De profundis e nada mais rezo. Outras vezes, acontece que recito todo este Terço e só então me encontro em paz. E aqui também verifiquei que, se me sinto impelida à oração por mais tempo, ou seja, sinto a inquietação interior, essa alma encontra-se em maiores lutas, numa agonia mais longa. A maneira como posso constatar a hora é a seguinte: como tenho relógio, vejo, naquele momento, que horas são. No dia seguinte, quando me falam da morte dessa pessoa, pergunto a hora, que corresponde inteiramente [àquela] da agonia. Dizem-me: “Tal e tal pessoa está em grande agonia”, ou então: “Hoje morreu tal e tal pessoa, mas adormeceu depressa e calmamente”. Sucede que a pessoa em agonia está no segundo ou no terceiro pavilhão; no entanto, para o espírito não existe distância. Sucede que tenho o mesmo conhecimento distante a várias centenas de quilômetros. Isso aconteceu diversas vezes com relação a parentes e a familiares, e também com relação a irmãs religiosas e almas que nem cheguei a conhecer em vida. Ó Deus de insondável misericórdia, que me permitis levar alívio e ajuda aos agonizantes pela minha indigna oração, sede bendito tantas mil vezes quantas estrelas há no céu e quantas gotas de água há em todos os oceanos. Que a Vossa misericórdia ressoe de todos os cantos do orbe terrestre e que se eleve até ao escabelo do Vosso trono, glorificando esse Vosso maior atributo, isto é, essa Vossa insondável misericórdia! Ó Deus, essa insondável misericórdia atrai e encanta sempre de novo as almas santas e todos os espíritos celestes. Mergulham em santo espanto esses espíritos puros, glorificando essa inconcebível misericórdia de Deus, que, por seu turno, os faz entrar em novo êxtase, tornando o seu louvor ainda mais perfeito. Ó Deus eterno, quão ardentemente desejo glorificar esse Vosso maior atributo, isto é, a Vossa insondável misericórdia. Vejo toda a minha pequenez e não me posso comparar com os habitantes do céu que, em santa admiração, glorificam a misericórdia do Senhor. No entanto, também eu encontrei uma maneira perfeita de glorificar essa insondável misericórdia do Senhor. (Diário de Santa Faustina N° 835)